A cronologia dos avanços e recuos das tarifas dos EUA à China
Depois de tarifas e contra-tarifas, acordos e rompimentos de acordos, o ECO faz uma cronologia das turbulentas relações comerciais entre os EUA e a China desde o início do segundo mandato de Trump.
Quando ainda não cumpria um mês do regresso à Casa Branca, Donald Trump reacendeu a sua guerra comercial com a China, afetando as cadeias de abastecimento global.
Esta semana, ao fim de seis anos, os líderes das duas maiores economias do mundo voltaram a encontrar-se para pôr fim a meses de turbulência, em que se aumentaram tarifas aduaneiras e impuseram restrições à exportação de terras raras, como também se chegou a uma trégua comercial – ainda que com acusações mútuas de incumprimento.
Agora, um acordo entre Washington e Pequim, anunciado esta quinta-feira pelo Presidente norte-americano, pode estar prestes a pacificar os mercados e as relações bilaterais entre os dois países. Os detalhes ainda são escassos e não é claro como evoluirá o comércio entre ambos. Por isso, o ECO faz uma cronologia de como se chegou até aqui.
- 1 de fevereiro: Sob o argumento de impedir a entrada de fentanil e outras drogas ilegais nos EUA, Donald Trump assina uma ordem executiva que prevê o aumento em 10% das tarifas sobre produtos importados da China a partir de 4 de fevereiro. O diploma também pôs fim à isenção “de minimis” para as importações chinesas, através da qual encomendas até 800 dólares estavam isentas de imposto.
- 4 de fevereiro: Em retaliação, a China anuncia que irá impor, a partir de 10 de fevereiro, uma tarifa de 15% sobre o carvão e o gás natural liquefeito (GNL) provenientes dos EUA, bem como uma tarifa de 10% sobre o petróleo bruto, máquinas agrícolas, carros de grande cilindrada e carrinhas pickup. Além disso, anuncia controlos à exportação de vários minerais raros usados em indústrias como a eletrónica e o fabrico de armamento, afirmando que era necessário “salvaguardar a segurança e os interesses nacionais e cumprir obrigações internacionais, como a não-proliferação”.
- 5 de fevereiro: Numa alteração à ordem inicial, o Presidente norte-americano indica que a isenção “de minimis” irá manter-se até que “sejam implementados sistemas adequados para processar e cobrar de forma completa e expedita as receitas aduaneiras”.
- 10 de fevereiro: Trump anuncia novas taxas aduaneiras de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para os Estados Unidos, além das taxas de metais já existentes. Na proclamação, afirma que as exportações de aço da China aumentaram, “deslocando a produção noutros países e forçando-os a exportar maiores volumes de artigos de aço e derivados para os Estados Unidos”.
- 27 de fevereiro: O líder da Casa Branca assina um memorando que instrui o Comité dos Estados Unidos para Investimentos Estrangeiros (CFIUS, na sigla em inglês) a restringir os investidores com ligações à China de investir em tecnologia, infraestruturas críticas, saúde, agricultura, energia, matérias-primas e outros setores estratégicos dos EUA.
- 3 de março: Trump aumenta as tarifas sobre os produtos provenientes da China para 20%.
- 4 de março: Pequim volta a retaliar, desta vez com uma taxa aduaneira adicional de 15% sobre o frango, trigo, milho e algodão cultivados nos Estados Unidos, e ainda uma tarifa de 10% sobre a soja, carne de porco, carne de vaca, produtos do mar, frutas, legumes e produtos lácteos. Em paralelo, avança com uma queixa contra os EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC).
- 2 de abril: No que apelidou de “Dia da Libertação”, Trump anuncia uma tarifa adicional de 34% sobre os produtos chineses além da taxa já existente de 20%, o que significa que a taxa global de tarifas sobe para, pelo menos, 54%.
- 4 de abril: Mais uma vez em resposta ao anúncio de Washington, a China revela que irá impor uma tarifa de 34% sobre os produtos importados dos EUA, a partir de 10 de abril, bem como novas restrições à exportação de terras raras, utilizadas em produtos como chips de computador e baterias de veículos elétricos.
- 8 de abril: O Presidente norte-americano acrescenta uma tarifa adicional de 50% sobre os bens provenientes da China, elevando a taxa total para 104%.
- 9 de abril: Numa medida extra de retaliação, Pequim aumenta de 34% para 84% os direitos aduaneiros sobre os produtos provenientes dos Estados Unidos. Horas depois, através de uma publicação na rede social Truth Social, Trump critica a decisão do gigante asiático e escala ainda mais a guerra comercial com um novo aumento das tarifas alfandegárias, desta vez para 125%, “com efeitos imediatos”.
- 11 de abril: O Ministério das Finanças da China ajusta a sua taxa tarifária sobre as exportações dos EUA para 125%, mas afirmou: “Se os Estados Unidos continuarem a impor tarifas sobre os produtos chineses exportados para os EUA, a China irá ignorá-las”. Por sua vez, a Administração norte-americana passa a isentar de tarifas a entrada de telemóveis, computadores e outros componentes e produtos eletrónicos, incluindo os provenientes do país asiático.
- 12 de maio: Depois de dias de negociações em Genebra, na Suíça, os Estados Unidos e a China chegam a um acordo para reduzir as tarifas durante um período de 90 dias: os direitos aduaneiros a aplicar pelos EUA sobre as importações chinesas baixam de 145% para 30%, enquanto a China reduz as taxas sobre os produtos norte-americanos de 125% para 10%.
- 28 de maio: O Tribunal de Comércio Internacional dos Estados Unidos entende que Trump ultrapassou a sua autoridade ao invocar a Lei de Poderes Económicos de Emergência Internacional, de 1977, para declarar uma emergência nacional e justificar a aplicação de tarifas generalizadas.
- 30 de maio: Trump acusa Pequim de violar o acordo comercial assinado em Genebra. Funcionários da Administração norte-americana revelariam mais tarde que a China não flexibilizou as suas restrições às exportações de terras raras, como previa o entendimento de Genebra.
- 2 de junho: Em reação às acusações do líder da Casa Branca, o Ministério do Comércio chinês disse que, após a reunião em Genebra, os EUA “introduziram sucessivamente medidas restritivas discriminatórias contra a China, incluindo a emissão de diretrizes de controlo de exportação para chips de inteligência artificial, a interrupção da venda de software de design de chips e a revogação dos vistos de estudantes chineses”.
- 5 de junho: Os presidentes dos dois países falam por telefone. De acordo com Trump, a chamada durou cerca de 90 minutos e discutiram “algumas das complexidades do acordo comercial recentemente celebrado” em Genebra. Xi Jinping concorda continuar as negociações com os EUA e afirma até que o homólogo norte-americano será bem-vindo numa visita à China.
- 6 de junho: Numa publicação na Truth Social, Trump revela que o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, o Secretário do Comércio, Howard Lutnick, e o representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, vão representar os EUA nas negociações comerciais com Pequim a decorrer em Londres, a partir de 9 de junho.
- 10 de junho: Após dois dias de negociações “aprofundadas e francas” em Londres, os negociadores dos EUA e da China “concordaram em princípio” com um quadro para “implementar o consenso” alcançado entre Trump e Xi Jinping na chamada telefónica de 5 de junho, bem como nas negociações anteriores entre as suas delegações em Genebra.
- 11 de junho: Donald Trump confirma o acordo entre os dois países e indica que os produtos chineses ficarão sujeitos a uma taxa de 55% – a qual Lutnick garante que “definitivamente” não sofrerá mais alterações – e que os EUA terão acesso aos minerais de terras raras do gigante asiático. Em troca, Washington permite que os estudantes chineses frequentem universidades norte-americanas e a China mantém uma tarifa de 10% sobre as importações dos Estados Unidos.
- 26 de junho: O Secretário do Comércio dos EUA revela que o acordo comercial entre Washington e Pequim “foi assinado e selado há dois dias”. Segundo Howard Lutnick, o acordo prevê a entrega pelos chineses de terras raras aos Estados Unidos, que vão retirar algumas contramedidas, como a proibição de exportação de etanol, semicondutores e motores de aviões dos EUA para a China.
- 27 de junho: O Ministério do Comércio da China confirma que os dois países alcançaram um acordo, dizendo que vai “rever e aprovar os pedidos de exportação de itens controlados”, já que os EUA vão “suspender uma série de medidas restritivas contra a China”.
- 30 de julho: Os dois lados concordaram em prorrogar a trégua comercial para além de 12 de agosto, após dois dias de negociações comerciais em Estocolmo. Trump admite encontrar-se com o Presidente chinês “antes do final do ano”.
- 11 de agosto: O Presidente norte-americano assina o decreto que suspende os aumentos das tarifas à China por mais 90 dias.
- 25 de agosto: Trump ameaça a China com tarifas de cerca de 200% sobre os produtos do país que entram nos Estados Unidos se Pequim não acelerar as suas exportações de ímanes de terras raras.
- 12-18 de setembro: Madrid é palco da quarta ronda de negociações entre os EUA e a China para tentar uma nova prorrogação da trégua comercial. Além de questões comerciais e de segurança nacional, as conversações bilaterais incluíram temas como a rede social TikTok e o combate ao branqueamento de capitais.
- 19 de setembro: Trump e Xi Jinping têm uma nova conversa por telefone, com o líder dos EUA a anunciar planos para ambos se encontrarem na Coreia do Sul, no final de outubro. “Acabei de concluir uma chamada muito produtiva com o Presidente Xi da China. A chamada foi muito boa”, afirmou o Presidente norte-americano. A China disse que os dois líderes tiveram uma “troca de opiniões franca e profunda”.
- 26 de setembro: O Chefe de Estado norte-americano anuncia novas tarifas sobre as importações de diversos produtos de qualquer país, com aplicação a partir de 1 de outubro. Incluem desde uma taxa de 25% sobre camiões “pesados e grandes” a uma tarifa de 100% sobre todos os produtos farmacêuticos “de marca ou patenteados”.
- 29 de setembro: O Departamento de Comércio dos EUA emite uma nova regra para ampliar drasticamente as restrições às exportações de subsidiárias internacionais detidas em pelo menos 50% por empresas chinesas. Jeffrey Kessler, subsecretário de Comércio para Indústria e Segurança, afirma que a regra irá “fechar as lacunas e garantir que os controlos à exportação funcionem conforme o previsto”.
- 1 de outubro: Trump acusa Pequim de manipular as negociações comerciais recorrendo ao seu poder de compra de soja e declara que este será “um tema importante de discussão” quando se encontrar com Xi Jinping. A China afirma que o obstáculo reside nas medidas restritivas unilaterais dos EUA no comércio.
- 3 de outubro: A Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA divulga um documento sobre as taxas portuárias a serem cobradas a navios ligados à China, com vigência a partir de 14 de outubro. Pequim denuncia a medida como unilateral e discriminatória.
- 8 de outubro: O Departamento de Comércio dos EUA coloca várias empresas chinesas na lista negra por fornecerem peças para drones ao Irão.
- 9 de outubro: Pequim volta a retaliar e anuncia novas medidas para restringir as vendas de terras raras e a importação de chips norte-americanos. Em resposta, o Departamento do Tesouro dos EUA sanciona refinarias sediadas na China por comprarem petróleo iraniano e o Departamento de Transportes propõe proibir as companhias aéreas chinesas de sobrevoar a Rússia em rotas dos Estados Unidos.
- 10 de outubro: Donald Trump cumpre a ameaça feita horas antes e anuncia que, a partir de 1 de novembro, serão impostas tarifas de 100% às importações de todos os produtos chineses, a somar às existentes. A decisão da Casa Branca eleva para 130% as tarifas à China. Por seu lado, Pequim anuncia taxas portuárias contra os EUA que entrarão em vigor a 14 de outubro e lança uma investigação sobre a Qualcomm, empresa norte-americana de semicondutores.
- 12 de outubro: Trump suaviza a retórica contra Pequim. “Não se preocupem com a China”, escreveu nas redes sociais. No mesmo dia, a China afirma estar disposta a reforçar o “diálogo e o intercâmbio” com outros países sobre os controlos à exportação, a fim de garantir a segurança e a estabilidade da cadeia de abastecimento global.
- 14 de outubro: Trump afirma que a sua Administração pode parar de comprar óleo de cozinha chinês como “retaliação” pelo boicote de Pequim à soja norte-americana. China adverte os EUA para não introduzirem novas medidas restritivas enquanto estiverem em negociações.
- 15 de outubro: As companhias aéreas chinesas apresentam queixas sobre a ordem dos EUA que as proíbe de sobrevoar a Rússia quando viajam de ou para os EUA.
- 17 de outubro: O Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e o seu homólogo chinês, o vice-primeiro-ministro He Lifeng, conversam por videochamada. A China afirma que as duas partes tiveram uma “troca franca, profunda e construtiva” e concordaram em realizar uma nova ronda de negociações comerciais o mais rápido possível.
- 20 de outubro: Trump diz que os EUA inspiram “grande respeito” em Pequim e que chegará a um “acordo fantástico” com Xi quando os dois líderes se encontrarem. Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China responde: “Gostaria de enfatizar que a diplomacia entre chefes de Estado desempenha um papel insubstituível na orientação estratégica das relações entre a China e os EUA.”
- 26 de outubro: China anuncia “acordo preliminar” com os Estados Unidos após dois dias de conversações na capital da Malásia. O anúncio foi feito pelo representante do comércio internacional da China, embora sem esclarecer os termos do “acordo preliminar”.
- 30 de outubro: Na cidade de Busan, na Coreia do Sul, o Presidente dos EUA anuncia que chegou a acordo com o homólogo chinês. O primeiro encontro, em seis anos, entre Donald Trump e Xi Jinping resultou num consenso para uma nova trégua, desta vez de 12 meses. Pequim vai suspender as restrições ou taxas acrescidas na exportação de alguns materiais raros para os EUA, enquanto Washington prometeu reduzir de 20% para 10% a taxa aplicável sobre produtos químicos usados na produção de fentanil.
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