BCE ganha margem para prolongar pausa dos juros até 2028

Os quase 70 analistas especializados em política monetária ouvidos pelo Banco Central Europeu em outubro preveem juros estáveis e inflação controlada até 2028, numa Zona Euro em ritmo económico lento.

O Banco Central Europeu (BCE) prepara-se para manter as taxas de juro em níveis historicamente baixos durante os próximos anos, numa pausa prolongada que se estende até ao primeiro trimestre de 2028, segundo revela o mais recente inquérito a analistas monetários publicado esta segunda-feira pela instituição com sede em Frankfurt.

O documento, que recolheu as expectativas de 68 especialistas entre 13 e 15 de outubro (antes da última reunião do Conselho do BCE), desenha um cenário de estabilidade monetária numa Europa que procura consolidar o controlo da inflação sem comprometer uma recuperação económica ainda frágil.

  • A taxa de depósitos, atualmente nos 2%, deverá manter-se neste patamar até ao primeiro trimestre de 2028, altura em que a mediana das projeções aponta para uma subida ligeira para 2,25% no segundo trimestre desse ano.
  • Paralelamente, a Euribor a três meses — um dos indexantes utilizados no cálculo da prestação dos créditos à habitação — deverá permanecer abaixo dos 2% até ao final de 2026, segundo o inquérito, para depois subir gradualmente até 2,3% no segundo trimestre de 2028. ​

Esta visão de estabilidade prolongada encontra eco noutros inquéritos recentes. Recentemente, poucos dias antes da última reunião do BCE (que resultou na terceira reunião consecutiva de congelamento das taxas), o consenso dos analistas ouvidos pela Bloomberg e pela Reutersprojetavam que o BCE manteria as taxas diretoras congeladas até 2027.

No plano da inflação, os especialistas projetam que a taxa homóloga se mantenha próxima da meta do BCE de 2% nos próximos anos. Para o quarto trimestre de 2025, a mediana das expectativas aponta para uma inflação de 2%, descendo para 1,7% no primeiro trimestre de 2026 e estabilizando entre 1,7% e 2% até 2028. A inflação subjacente — que exclui energia e produtos alimentares — seguirá um padrão semelhante, com valores medianos de 2,2% no final de 2025, descendo para 1,9% a 2,1% nos trimestres seguintes.

Ao ancorar as expectativas de inflação próximo da meta de 2% e ao proporcionar visibilidade sobre o rumo provável da política monetária, o inquérito do BCE ajuda a reduzir a incerteza nos mercados financeiros.

Ao ancorar as expectativas de inflação próximo da meta de 2% e ao proporcionar visibilidade sobre o rumo provável da política monetária, o inquérito do BCE ajuda a reduzir a incerteza nos mercados financeiros e a orientar as decisões de investimento e financiamento dos agentes económicos

Os analistas que participaram neste inquérito do BCE antecipam ainda um crescimento trimestral modesto da Zona Euro ao longo dos próximos três anos, com a mediana das projeções a apontar para uma expansão entre 0,1% e 0,4% por trimestre até ao final de 2028.

No terceiro trimestre de 2025, o crescimento situou-se na mediana em apenas 0,1%, acelerando ligeiramente para 0,2% no último trimestre do ano e para 0,3% a partir do primeiro trimestre de 2026. No longo prazo, o crescimento anual médio da economia europeia deverá fixar-se entre 1% e 1,4%, o que reflete uma recuperação gradual, mas sem grande ímpeto.

Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

As previsões dos analistas apontam também para uma taxa de desemprego estável em níveis historicamente baixos, com uma mediana de 6,3% ao longo dos próximos três anos. Esta estabilidade no mercado de trabalho é um dos pilares que permitem ao BCE adotar uma postura mais cautelosa em matéria de política monetária, evitando mexidas precipitadas que possam comprometer a estabilidade alcançada.

O inquérito a analistas monetários, realizado regularmente pelo BCE desde há vários anos, constitui uma ferramenta essencial na formulação da política monetária da instituição. Ao agregar as expectativas de economistas, analistas financeiros e especialistas de mercado sobre a evolução das taxas de juro, da inflação, do crescimento económico e de outras variáveis macroeconómicas, o inquérito fornece ao Conselho do BCE uma leitura privilegiada sobre as perspetivas dos agentes de mercado.

Estas expectativas são particularmente relevantes num contexto em que o BCE reafirma, reunião após reunião, que as suas decisões são orientadas pelos dados e tomadas “reunião a reunião”, sem pré-compromissos quanto ao futuro. Como sublinhou o banco central no comunicado da reunião de outubro, “as decisões do Conselho do BCE sobre as taxas de juro basear-se-ão na avaliação das perspetivas de inflação e dos riscos em torno das mesmas — à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados”.

A reunião de dezembro (nos dias 17 e 18 em Frankfurt), que incluirá novas projeções económicas estendendo-se pela primeira vez até 2028, será assim um momento-chave para avaliar o rumo da política monetária nos próximos anos. Segundo o inquérito da Bloomberg, qualquer leitura de inflação abaixo de 1,6% para 2028 seria vista como um ponto de inflexão que poderia desencadear outra redução nos custos de financiamento.

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