BRANDS' ECO A poupança que não arrisca: o fosso crescente entre a Europa e os EUA

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  • 17 Novembro 2025

As MAG7 valem mais do que as 600 maiores empresas europeias. O problema da Europa é a incapacidade de transformar a poupança em investimento produtivo. O tempo para corrigir esta inércia está a acabar

A ascensão das grandes empresas tecnológicas norte-americanas não surpreende quem acompanha de perto as dinâmicas da economia global. Após um início de ano marcado por forte incerteza — incluindo tensões geopolíticas e disputas tarifárias — os principais índices bolsistas dos EUA recuperaram rapidamente e transacionam hoje perto dos máximos históricos. Essa recuperação tem sido fortemente impulsionada por um grupo restrito de gigantes tecnológicas: as chamadas MAG7 — Microsoft, Apple, Google, Amazon, Meta, Nvidia e Tesla.

Rúben M. T. Peixinho é Subdiretor e Professor Auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, e Investigador Integrado no CEFAGE. É doutorado em Gestão pela Universidade de Edimburgo e em mestre em Investigação em Gestão pela Universidade de Cranfield

O valor de mercado destas sete empresas ascende a cerca de 21 triliões de dólares, representando 35% da capitalização do S&P 500. Este montante equivale ao PIB anual dos 27 países da União Europeia e supera largamente a capitalização bolsista das 600 maiores empresas cotadas da Europa (cerca de 13 triliões de dólares). Por comparação, as sete maiores empresas da UE (EUR7) — ASML, LVMH, SAP, L’Oréal, Novo Nordisk, Siemens e Linde — não ultrapassam, em conjunto, os 2 triliões.

Esta concentração de valor constitui um fenómeno sem precedentes, revelador do domínio destas empresas sobre a economia digital, mas também da crescente assimetria entre os motores de crescimento dos EUA e da Europa. E essa diferença vai muito além da capitalização bolsista: estende-se à capacidade de gerar e reinvestir recursos.

A Europa, apesar de registar taxas de poupança mais elevadas, não consegue mobilizar eficazmente esse capital. Grande parte permanece imobilizado em depósitos bancários e aplicações de baixo risco

Rúben M. T. Peixinho

Professor Auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve

Nos últimos quatro trimestres, as MAG7 geraram 721 mil milhões de dólares em cash-flow operacional e investiram 356 mil milhões — cerca de 50% do total gerado. Já as EUR7, no mesmo período, geraram 100 mil milhões, investindo apenas 27 mil milhões — o equivalente a 27%. Curiosamente, o valor investido pelas EUR7 é inferior aos 34 mil milhões distribuídos em dividendos. As MAG7 faturam 5,5 vezes mais, geram 7,2 vezes mais cash-flow operacional e investem 13,2 vezes mais do que as suas congéneres europeias. A diferença de atitude estratégica é clara: enquanto as norte-americanas apostam em inovação, escala e longo prazo, as europeias priorizam a remuneração imediata dos acionistas.

Uma das razões que explica esta divergência está na forma como a sociedade americana canaliza a sua poupança para investimentos de risco. A Europa, apesar de registar taxas de poupança mais elevadas, não consegue mobilizar eficazmente esse capital. Grande parte permanece imobilizado em depósitos bancários e aplicações de baixo risco, longe dos mercados de capitais e do financiamento de empresas transformadoras. Estima-se que os depósitos bancários na Europa ultrapassem os 12 triliões de dólares.

Enquanto a Europa debate, analisa e procura consensos, os EUA investem a um ritmo sem precedentes para liderar a nova era da inteligência artificial. Ou a Europa acelera os mecanismos para transformar poupança em investimentos produtivos ou ficará condenada a assistir no sofá à revolução económica em curso

Rúben M. T. Peixinho

Professor Auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve

O resultado desta aversão ao risco é evidente: poupanças que se degradam com a inflação, inovação subfinanciada e uma economia que perde protagonismo à escala global. A fragmentação dos mercados financeiros, a ausência de uma verdadeira União dos Mercados de Capitais, a escassez de instrumentos acessíveis aos pequenos investidores e uma fiscalidade pouco favorável ao investimento de longo prazo reforçam um círculo vicioso: poupança estagnada, empresas sem escala e investidores desconfiados.

Neste contexto, não surpreende que várias vozes políticas na Europa sublinhem a urgência de integrar os mercados e criar incentivos eficazes à canalização da poupança para o investimento produtivo. Friedrich Merz defendeu recentemente a criação de um verdadeiro mercado de capitais europeu, com escala para competir com os EUA. Maria Luís Albuquerque tem incentivado uma aproximação dos produtos de poupança europeus os planos 401(k) e Roth IRA norte-americanos. Em Portugal, a literacia financeira entrou finalmente na agenda política. Todas estas iniciativas apontam na direção certa. Mas o tempo escasseia. Enquanto a Europa debate, analisa e procura consensos, os EUA investem a um ritmo sem precedentes para liderar a nova era da inteligência artificial. Ou a Europa acelera os mecanismos para transformar poupança em investimentos produtivos ou ficará condenada a assistir no sofá à revolução económica em curso.

Este artigo expressa apenas a opinião do seu autor, não representando a posição das entidades com as quais colabora.

Rúben M. T. Peixinho é Subdiretor e Professor Auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, e Investigador Integrado no CEFAGE. É doutorado em Gestão pela Universidade de Edimburgo e em mestre em Investigação em Gestão pela Universidade de Cranfield.

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