“À espera” dos EUA na COP, Guterres faz acusação geral: “O que está a falhar é a vontade política”

Secretário-geral da ONU discursou em Belém, apelando a compromissos concretos e mais ambiciosos no financiamento e também no abandono dos combustíveis fósseis.

A ultrapassagem dos 1,5 graus centígrados, que eram tidos como referência no Acordo de Paris como a fasquia máxima para o aquecimento global gerível, já é “inevitável” — aliás, aconteceu em 2024, e deverá repetir-se. Mas é possível reverter, indica Guterres: “Se atuarmos agora, podemos fazer com que esta ultrapassagem seja tão curta e segura quanto possível”.

O que está a falhar é a vontade política de tomar as decisões necessárias. Por favor, negoceiem de boa-fé para atingir um compromisso ambicioso. A nossa única linha vermelha deverão ser os 1,5 graus centígrados. Sejam corajosos, sigam a ciência e coloquem as pessoas antes do lucro”, apelou num discurso no recinto da COP30, que decorre em Belém, no Brasil.

Na visão de Guterres, o resultado justo terá de ser “concreto em termos do financiamento à adaptação, credível nos cortes de emissões e suportável em termos de finanças”.

Primeiro, o financiamento. No que diz respeito à adaptação, Guterres defende que os fundos comprometidos para este fim tripliquem até 2030, e que seja atingido um equilíbrio entre este investimento e aquele em mitigação. No que diz respeito ao já criado Fundo de Perdas e Danos, denuncia que está “quase vazio” e apelou a que fosse capitalizado e de mais fácil acesso.

Eu apelo a todos os financiadores: parceiros bilaterais, fundos climáticos e bancos de desenvolvimento multilaterais que se cheguem à frente e previnam tragédias“, rematou, para depois acrescentar: “Nada disto é possível sem financiamento que seja previsível, acessível e garantido. Precisamos de um caminho credível para concretizar o objetivo de financiamento de Baku [300 mil milhões de dólares anuais de fontes públicas e 1,3 biliões de fontes públicas e privadas]”.

Em segundo lugar, endereçou os cortes de emissões. Guterres alertou que os planos climáticos submetidos pelas Partes (as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas) apontam para um aquecimento acima dos 2 graus centígrados: “É uma sentença de morte para muitos. Os planos nacionais têm de ser o chão, não o tecto“.

Neste âmbito, apontou as energias renováveis como solução, e apelou à criação de uma Coligação Global de Redes, Armazenamento e Eletrificação, ao mesmo tempo que apoiou a coligação que tem vindo a reivindicar um guia para o abandono dos combustíveis fósseis. Terminou com o desejo de reverter a desflorestação até 2030.

Guterres “à espera” dos EUA

No final do discurso, em resposta aos jornalistas sobre a mensagem a deixar a Donald Trump e se via a possibilidade que os EUA, entrando nas negociações, tivessem alguma influencia positiva, Guterres foi sucinto: “Estou à sua espera” e “a esperança é a última a morrer”.

De acordo com a Bloomberg, apesar de os EUA se terem retirado do Acordo de Paris, e terem a saída “oficial” marcada para 27 de janeiro do próximo ano, e não ter inscrito nenhum delegado para tomar parte nas negociações, ainda pode enviar representantes a qualquer momento. Isto porque, neste momento, os EUA ainda são parte do acordo de Paris e da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC, em inglês).

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