BRANDS' ECO “Engenharia é determinante no desenvolvimento do país”
Talento é o motor da inovação e da competitividade nacional, e a base para o crescimento económico nacional. Uma conclusão que marcou a conferência “A Engenharia e o Futuro”, promovida pela PROFORUM.
A engenharia portuguesa está no centro das transformações que moldam o futuro económico e ambiental do país. “A engenharia está em tudo e é determinante no desenvolvimento do país”, afirmou António Martins da Costa. O presidente da PROFORUM falava na abertura da conferência “A Engenharia e o Futuro”, que celebrou os 30 anos da Associação para o Desenvolvimento da Engenharia, no Centro Cultural de Belém.

Transversal a todos os setores, a engenharia conta atualmente com alguns desafios, nomeadamente, na indústria, com o crescimento que se prevê no cluster da aeronáutica, defesa e segurança, mas também noutras áreas tão díspares como a gestão da água, a biotecnologia, ou a massificação da inteligência artificial (IA). “A engenharia está presente em todos estes domínios, mas para dar resposta aos desafios é preciso mais engenheiros e talento especializado”, frisou António Martins da Costa.
O presidente da PROFORUM defende a necessidade de estreitar a colaboração entre empresas, Estado e Academia, “um triângulo que tem de funcionar em harmonia” para evitar a fuga de talentos para outros mercados. A fiscalidade, exemplifica, “é muito importante para os jovens voltarem de fora”. Além disso, o responsável destaca a importância de atrair mais pessoas para estudar engenharia, uma vez que faltam talentos nesta área. Por outro lado, para as empresas, é fundamental saber como reter os melhores sendo essencial “ter propósito social e económico, e ética”, concluiu.

Durante a manhã, Vítor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, falou sobre o futuro, contextualizando a situação geopolítica e estratégica atuais, e as causas que conduziram até ao panorama que vivemos. “Hoje o desafio não é económico, é social”, disse, referindo-se ao modelo que dominou as sociedades ocidentais até agora, e que está a ser posto em causa nos últimos anos. “A economia deve servir a sociedade e não o inverso”, sublinhou.
Reinventar a formação é essencial
Combinar tecnologia e talento humano é um dos grandes desafios do trabalho e das empresas nos próximos anos, e também uma das conclusões do estudo ‘Talent – Point of View’, promovido pela PROFORUM, com o apoio da Accenture, e apresentado por Maria Pais do Amaral. A senior manager da Accenture Strategy destacou o desafio da transformação das competências que vão mudar durante os próximos cinco anos, afetando cerca de 40% das funções nucleares atuais, o que obrigará à requalificação de praticamente metade dos profissionais ativos.
Atualmente, refere, há inúmeros fatores externos e internos com impacto direto no talento, que exigem sérias transformações ao nível organizacional. Pressões socioeconómicas, impacto da tecnologia e da IA generativa e também da demografia sobre a força de trabalho afetam igualmente as competências e modelos de negócio, a um ritmo acelerado. “Portugal arrisca comprometer o seu crescimento económico se não conseguir alinhar a formação em engenharia e tecnologia com as necessidades do mercado”, alertou.
O estudo destaca ainda que a maioria das empresas investe atualmente três vezes mais em tecnologia de IA do que em pessoas, mas que o maior obstáculo ao crescimento é humano. Apesar disso, as organizações que reinventam a forma como as pessoas trabalham com a IA são 90% mais eficazes na criação de impacto empresarial.
Neste contexto, a formação em engenharia é apontada como “um ponto crítico” pelo estudo da PROFORUM, mas revela que dois terços dos jovens da geração Z se sentem mal preparados pelas universidades devido ao desalinhamento entre a oferta formativa e as necessidades do mercado. “As funções tradicionais da engenharia, muito centradas na análise e monitorização de ativos, estão a ser substituídas por áreas de valor estratégico, como a manutenção preditiva e o domínio de ferramentas de IA”, sublinhou Maria Pais do Amaral. Isto significa, acrescenta, que é fundamental que as universidades integrem novas áreas de conhecimento que enderecem as necessidades reais da economia.
O motor ‘invisível’ da economia
A manhã da conferência “A engenharia e o futuro” reuniu ainda, em dois painéis, um conjunto de oradores da academia, da indústria e da gestão para debater o papel estratégico da engenharia na inovação sustentável e na retenção de talento. Uma vez mais, uma conclusão foi unânime: sem engenheiros qualificados e motivados, não há progresso tecnológico nem competitividade duradoura.
No painel sobre ‘Gestão de talento’, moderado por José Nascimento, Presidente ISEL, Laura Caldeira destacou a evolução do país como destino de inovação. “Portugal já não é apenas um centro de serviços. Hoje, somos reconhecidos como um polo de talento e educação tecnológica”, disse a presidente do LNEC. A crescente concorrência por profissionais qualificados exige, segundo a oradora, uma proposta de valor mais abrangente.
Manuela Vaz Soares reforçou a ideia, defendendo que “a retenção não se faz só com salário. É preciso propósito, aprendizagem contínua e mobilidade interna”. A CEO da Accenture sublinhou a importância de uma cultura organizacional que promova o desenvolvimento pessoal e profissional, com destaque para o upskilling e o reskilling.

Já Miguel Cruz, em intervenção gravada, alertou para a escassez de engenheiros em áreas críticas como sinalização, telemática e inteligência artificial. “Gerir talento não é só atrair e recrutar. É criar condições para que quem está connosco possa crescer e sentir-se parte de algo maior”, sublinhou o presidente da IP.
Fernando Almeida Santos, Bastonário da Ordem dos Engenheiros, defendeu igualmente uma visão integrada entre academia, empresas e Estado. “A tecnologia só se concretiza se as pessoas a concretizarem. Precisamos de investir de forma séria na qualificação e na retenção do talento”.
No debate dedicado à Inovação, Sustentabilidade e Competitividade, moderado por António Bernardo, Presidente Vibe Capital, a conversa centrou-se na urgência de alinhar tecnologia, talento e propósito para enfrentar os desafios económicos e ambientais da próxima década. Fátima Carioca, diretora da AESE Business School, sublinhou que “a inovação não é apenas tecnológica, é também organizacional e humana”. Defendeu que as empresas devem cultivar culturas de aprendizagem contínua e propósito partilhado, onde “a sustentabilidade seja um valor transversal e não uma função isolada”.
Isabel Furtado trouxe a perspetiva da indústria, alertando para a necessidade de “reindustrializar com inteligência”. Referiu que “a competitividade portuguesa depende da capacidade de integrar sustentabilidade nos processos produtivos, sem perder agilidade nem qualidade”. A CEO da TMG Automotive destacou ainda o papel das parcerias entre empresas e universidades como motor de inovação aplicada.

João Ricardo Moreira reforçou a importância da engenharia como catalisador de transformação digital. “A engenharia é a ponte entre o que é possível e o que é necessário. E hoje, o necessário é acelerar soluções que sirvam as pessoas e o planeta”, afirmou. O administrador da NOS Comunicações defendeu que a competitividade futura será determinada pela capacidade de “pensar em rede, colaborar e escalar soluções com impacto real”.
O painel concluiu ainda que a engenharia portuguesa tem de se posicionar como protagonista na transição ecológica e digital, assumindo um papel estratégico na definição de políticas públicas, modelos de negócio e formação de talento. Como sintetizou Fátima Carioca, “o futuro da engenharia será construído por quem souber unir conhecimento, ética e visão”.
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