Entrada de trabalhadores estrangeiros cai 35% num ano. Saídas aumentam há sete anos seguidos

Em dois anos, o saldo migratório de trabalhadores estrangeiros caiu para quase para metade, à boleia de um aumento crescente do número de saídas e uma contração da entrada de pessoas no país.

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  • O saldo migratório de estrangeiros em Portugal está a cair drasticamente, indicando uma viragem acentuada em 2024.
  • O número de entradas líquidas de estrangeiros diminuiu para cerca de 7,3 mil por mês e as saídas duplicaram em dois anos.
  • Este êxodo de imigrantes, muitos deles qualificados, representa um desafio estrutural para a economia nacional.
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Após um boom sem precedentes de imigração entre 2022 e 2023, que levou milhares de estrangeiros a escolher Portugal como destino, uma análise do Banco de Portugal revela uma viragem abrupta nesta tendência, com o saldo migratório de estrangeiros a entrar em queda livre em 2024 e a acentuar-se drasticamente ao longo deste ano.

A análise, publicada no Boletim Económico de dezembro, mostra que não só o número de estrangeiros a entrar em Portugal está em forte queda como o número de estrangeiros a abandonar o país duplicou em apenas dois anos. A evolução mensal do saldo migratório de estrangeiros, calculada com base nos registos da Segurança Social por parte do Banco de Portugal, mostra uma inversão de tendência.

A segunda metade de 2024 marcou a acentuação da fuga de estrangeiros em Portugal, com as entradas líquidas a diminuírem para cerca de 7,3 mil indivíduos por mês, em média, quando em período homólogo de 2023 se situavam em cerca de 16,5 mil.

Após maio de 2023 ter registado um recorde de 24,9 mil entradas líquidas de indivíduos de nacionalidade estrangeira, o cenário alterou-se radicalmente. Em maio de 2024, também o mês mais elevado do ano, esse número caiu para 22,4 mil indivíduos. Este ano, no mesmo mês (também o mais elevado do ano), o saldo desabou para 13,1 mil, uma queda de 47% em apenas dois anos. “O indicador baseado nos registos da Segurança Social sugere uma redução do saldo migratório de indivíduos de nacionalidade estrangeira após o máximo registado em maio de 2023, lê-se na análise do Banco de Portugal.

A segunda metade de 2024 marcou a acentuação desta tendência, com as entradas líquidas a diminuírem para cerca de 7,3 mil indivíduos por mês, em média, quando em período homólogo de 2023 se situavam em cerca de 16,5 mil. Esta evolução é “essencialmente determinada pela diminuição das entradas”, que passaram de cerca de 20 mil na segunda metade de 2023 para cerca de 12 mil no período homólogo seguinte, destacam os números da análise do Banco de Portugal.

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Menos entradas e saídas em forte crescimento

Os dados do Banco de Portugal surgem num momento em que o debate público sobre imigração atingiu níveis elevados, com discursos que apontam frequentemente para um suposto excesso de imigrantes no país. No entanto, a análise económica dos números revela uma realidade muito mais complexa: Portugal está, de facto, a perder capacidade de atrair e reter cidadãos estrangeiros, numa altura em que a economia depende cada vez mais deste influxo para compensar o envelhecimento populacional e as necessidades do mercado de trabalho.

O movimento de entrada de estrangeiros em Portugal registou uma desaceleração considerável no último ano. Nos primeiros oito meses de 2025 (janeiro a agosto), deram entrada no país cerca de 95,2 mil indivíduos estrangeiros registados na Segurança Social, correspondendo a uma média mensal de 11,9 mil pessoas. Este valor representa uma queda de 35,4% face ao mesmo período de 2024, quando entraram 147,4 mil novos estrangeiros (média de 18,4 mil por mês).

Há sete anos consecutivos que o número de saídas de estrangeiros registados na Segurança Social está a aumentar. Só em 2024, o número de saídas de estrangeiros foi quase o dobro do registado em 2022 e mais do quádruplo que em 2018.

Recuando a 2023, no mesmo período, o número de entradas atingiu 175,9 mil indivíduos, equivalente a uma média de 22 mil por mês. A progressão é clara: de 22 mil indivíduos estrangeiros que deram entrada em Portugal nos primeiros oito meses de 2023 para 18,4 mil e agora para 11,9 mil no mesmo período, numa trajetória de deterioração evidente. Mas não só.

Se as entradas estão a cair, as saídas seguem o movimento contrário com particular intensidade. Segundo os dados mais recentes da Segurança Social compilados pelo Banco de Portugal, referentes a 2024, mais de 45 mil estrangeiros deram saída dos registos da Segurança Social no ano passado, um aumento de 39,6% face a 2023. Este crescimento surge no seguimento de outro aumento de 41,3% em 2023, face a 2022.

Os números mostram que há sete anos consecutivos que o número de saídas de estrangeiros registados na Segurança Social está a aumentar. A dimensão do êxodo é impressionante: o número de saídas em 2024 é quase o dobro do registado em 2022 e mais do quádruplo que em 2018.

Este movimento de fuga de estrangeiros, muitos deles qualificados e com emprego, representa um desafio estrutural para a economia nacional, que depende cada vez mais da mão-de-obra imigrante para sustentar o crescimento. A análise do Banco de Portugal baseia-se num indicador construído a partir dos registos administrativos da Segurança Social, que inclui todos os indivíduos que pagam contribuições ou recebem prestações sociais.

A metodologia tenta aproximar-se do conceito oficial de saldo migratório, apenas considerando indivíduos de nacionalidade estrangeira registados na Segurança Social portuguesa que são residentes em Portugal. “A existência de registos ativos na Segurança Social dá uma indicação fiável da presença de um indivíduo num país”, lê-se no documento.

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No entanto, o Banco de Portugal reconhece que o indicador tem limitações importantes. “Nos meses mais recentes, é muito difícil distinguir os movimentos permanentes dos temporários, o que implica que as observações mais recentes do indicador são mais propensas a revisões”. Para assegurar uma análise robusta, as saídas apenas consideram registos com oito ou mais meses consecutivos de ausência, ou seja, até dezembro de 2024.

A base de dados exclui os indivíduos mais jovens e os mais velhos, sub-representados por serem menos provável que tenham uma ligação com a Segurança Social, e apenas abrange indivíduos com situação legal regularizada.

A comparação com as estatísticas oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE) também revela diferenças significativas. Entre 2011 e 2023, as entradas líquidas acumuladas calculadas com base nos registos da Segurança Social situaram-se em cerca de 830 mil indivíduos, enquanto o INE apurou um saldo migratório acumulado de cerca de 470 mil indivíduos. Estas diferenças refletem simultaneamente as limitações do indicador aqui apresentado e as dificuldades dos métodos tradicionais de recolha estatística em captarem em tempo real a dinâmica dos movimentos migratórios atuais.

A análise do Banco de Portugal conclui que, num quadro de alteração dos padrões migratórios, “a conjugação de diversos indicadores revela-se fundamental para a monitorização destes fenómenos”.

Os dados administrativos da Segurança Social, apesar das suas limitações, oferecem uma visão mais atualizada e detalhada da realidade migratória do que os métodos tradicionais de inquérito, permitindo acompanhar mensalmente a evolução de um dos fatores mais determinantes para a economia portuguesa.

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