Prestação da casa sobe pela primeira vez em quase dois anos em contratos com Euribor a 3 meses
As famílias com crédito à habitação indexado à Euribor a 3 meses enfrentam fim das descidas e quem tem contratos indexados à Euribor a 6 e 12 meses terá o menor alívio da prestação em mais de um ano.
A partir desta quarta-feira, as famílias com contratos de crédito à habitação indexados à Euribor a 3 meses revistos este mês vão ter uma surpresa não muito agradável. Pela primeira vez em quase dois anos, os mutuários com empréstimos indexados a esta taxa que sejam atualizados em outubro vão ver a prestação da casa aumentar.
Outubro marca assim uma viragem histórica no ciclo de descidas que tem caracterizado os últimos meses, confirmando que o período de alívio nas prestações da casa está próximo do fim.
- Segundo cálculos do ECO, considerando um crédito à habitação de 150 mil euros, a 30 anos, indexado à Euribor a 3 meses e com um spread de 1%, a prestação da casa passará de 631,08 euros para 634,61 euros, traduzindo assim um aumento 0,56%, ou mais 3,53 euros mensais. Esta subida quebra uma sequência de reduções que durava há 20 meses.
Esta reversão reflete o comportamento da Euribor a 3 meses (que representa mais de um quarto do stock dos contratos), que tem registado subidas ligeiras desde julho, mantendo-se consistentemente acima da barreira psicológica dos 2%. Se em julho a taxa que serviu de referência para o cálculo das prestações dos últimos três meses fixou-se nos 1,9863%, para efeitos de cálculo das prestações de outubro, novembro e dezembro a taxa média considerada será de 2,0273%.
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Apesar da inversão nos contratos indexados à Euribor a 3 meses, os contratos indexados às Euribor a 6 e 12 meses revistos este mês continuarão a registar descidas, embora sejam as menores desde agosto do ano passado. Esta evolução confirma que mesmo nos indexantes que ainda proporcionam alívio, o ritmo de redução está a abrandar.
- Para os contratos indexados à Euribor a 6 meses, que representam a maior fatia dos empréstimos à habitação à taxa variável em Portugal (cerca de 38% dos contratos), a redução será de 3,51%, correspondendo a uma poupança de 23,3 euros mensais, tendo também como ponto de partida um crédito à habitação de 150 mil euros, a 30 anos, com um spread de 1%. A prestação passará de 664 euros para 640,7 euros, considerando a taxa média de 2,1023% para os próximos seis meses.
- No caso dos empréstimos indexados à Euribor a 12 meses, que representam 32% dos contratos em Portugal, a descida será mais significativa: 9,04% ou 64,24 euros, considerando um empréstimo à habitação nas mesmas condições. A prestação baixará de 710,6 euros para 646,36 euros, tendo em conta a taxa média de 2,1715% que será aplicada nos próximos 12 meses.
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Estabilização das taxas no horizonte
Após mais de um ano de reduções consecutivas que proporcionaram um alívio significativo às famílias portuguesas, as taxas Euribor começam a estabilizar em níveis próximos da meta dos 2% do Banco Central Europeu. No entanto, os dados de setembro revelam que a taxa média das três Euribor registou um aumento face às taxas médias de agosto.
- No caso da Euribor a 3 meses, a taxa média aumentou 0,62 pontos base face à taxa de agosto, enquanto no caso da Euribor a 6 e 12 e meses, o aumento da taxa média foi de 1,79 e 5,76 pontos base, respetivamente.
As previsões para os próximos meses não são otimistas para quem esperava mais descidas. Segundo os contratos forward sobre as Euribor a 3 e 6 meses — instrumentos financeiros que antecipam o movimento futuro das taxas — é expectável que esta tendência se agrave, porque os investidores não antecipam que as taxas Euribor baixem dos atuais níveis de 2%.
Esta estabilização reflete as expectativas relativamente à política monetária do Banco Central Europeu, que manteve as taxas diretoras inalteradas na reunião de setembro, com a taxa de depósitos nos 2%, e com os investidores a anteverem apenas um corte até ao final do ano.
Após um ciclo de grande aperto financeiro com a subida histórica das Euribor, seguido de mais de um ano de reduções das prestações, o cenário aponta agora para a estabilização da prestação da casa.
Para Álvaro Santos Pereira, indigitado para o cargo de governador do Banco de Portugal, as taxas de juro na Zona Euro irão manter-se estáveis nos níveis atuais “durante algum tempo”, por conta de um ambiente inflacionista controlado. “Na Zona Euro, a taxa de inflação está cerca dos 2%. É bem possível que as taxas se mantenham constantes durante algum tempo”, adiantou Álvaro Santos Pereira no decorrer da audição na Comissão do Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP) a propósito da sua nomeação para liderar o supervisor financeiro.
Para as famílias com crédito à habitação à taxa variável, que representam cerca de 55% dos contratos atualmente em vigor, esta nova realidade representa o fim de um período particularmente favorável. Após um ciclo de grande aperto financeiro com a subida histórica das Euribor, seguido de mais de um ano de reduções das prestações, o cenário aponta agora para a estabilização da prestação da casa.
Esta evolução marca assim uma nova fase no mercado do crédito à habitação em Portugal, onde a palavra-chave deixa de ser “descida” para passar a ser “estabilização”. Uma mudança fundamental que as famílias portuguesas terão de integrar no planeamento dos seus orçamentos familiares.
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