ISEG admite crescimento de 7,2% em 2022 após surpresa no início do ano

A anterior previsão, prévia à guerra, apontava para entre 4,8% e 5,8%. Após conhecer os dados do primeiro trimestre, o ISEG revê em alta para entre 6% e 7,2%, acima da atual previsão do Governo.

O ISEG reviu em alta o crescimento da economia portuguesa para 2022 depois de conhecer os dados do primeiro trimestre, confiando na retoma do turismo para amparar o impacto da guerra. No final de abril, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que o PIB cresceu 2,6% em cadeia e 11,9% em termos homólogos, superando todas as expectativas e surpreendendo os economistas. Na síntese de conjuntura de maio, os economistas do ISEG apontam para uma expansão anual entre 6% a 7,2%, bastante acima dos 4,9% estimados pelo Governo no Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) e pelo Banco de Portugal.

“Atendendo ao crescimento registado no 1.º trimestre e à evolução mais provável para os próximos trimestres, a previsão para o crescimento da economia portuguesa em 2022 é revista para o intervalo de 6,0% a 7,2%, tendo esta previsão subjacente a não deterioração da situação geopolítica ou das suas consequências económicas para a UE“, escreve o grupo de análise económica do ISEG na nota de conjuntura de maio divulgada esta terça-feira.

Os economistas explicam que foi o crescimento “bastante acima das previsões” do primeiro trimestre que levou a esta revisão em alta uma vez que tal “configura uma retoma robusta das atividades mais condicionadas pela pandemia”. Em causa está a forte recuperação do “setor dos serviços e da procura externa turística, que, apesar da guerra na Ucrânia e do agravamento da inflação, se considera ter condições para prosseguir nos próximos trimestres, ainda que a ritmos sucessivamente mais moderados”.

A dar mais confiança ao grupo de análise económica do ISEG está também o sentimento económico em Portugal, o qual registou uma evolução positiva em abril, “sustentada por uma subida pronunciada no setor dos serviços, e em especial do turismo“. Já na Zona Euro, voltou a descer após a queda acentuada em março por causa da invasão russa na Ucrânia, “embora tenha começado a estabilizar e inverter em alguns países“.

Para os próximos meses, o ISEG antecipa que haja uma desaceleração nos crescimentos homólogos, “embora se vá manter bastante positivo até ao final do ano”. “Mas os efeitos base de maior dimensão estão a esgotar-se e as taxas de crescimento tenderão a assumir valores mais normais“, avisa.

A dúvida está no que acontecerá à taxa de crescimento em cadeia. “Dado o nível do produto global atingido no primeiro semestre, a questão que se põe é se irá continuar a haver nos próximos trimestres um crescimento em cadeia positivo, ou não, e qual a sua dimensão”, explicam os economistas, calculando que, mesmo que os crescimentos em cadeia sejam nulos até ao final do ano, a variação anual do PIB seja de cerca de 6,4%, “valor que excede as melhores previsões anteriores à estimativa do INE para o 1º trimestre”.

As consequências da guerra, que se fazem sentir cada vez mais em Portugal, baralham todas as contas. “Na realidade, não é impossível um crescimento anual inferior, com taxas de crescimento trimestrais marginalmente negativas, o que poderia acontecer na segunda metade do ano“, admitem os economistas, argumentando que “este cenário torna-se mais provável se o crescimento da Zona Euro se aproximar da recessão até ao final do ano devido à guerra da Ucrânia“. Tal dependerá também do rumo da política monetária e dos seus efeitos na economia, além do impacto da elevada inflação.

Turismo e construção dão fôlego à recuperação económica

Perante estas incertezas, o que é mais provável? “O que atualmente se considera mais provável para Portugal é um cenário com crescimentos positivos em cadeia do PIB trimestral, ainda que a diminuir fortemente até ao final do ano“, lê-se na síntese de conjuntura. Esses crescimentos serão alimentados pelo consumo privado — “sustentado na poupança “forçada” pela pandemia e que durante alguns meses permitirá contrabalançar a inflação” — e pelo investimento.

A procura externa líquida (as exportações menos as importações) deverá dar um contributo positivo no segundo trimestre deste ano, mas pode inverter nos próximos.

Numa ótica de produção, considera-se existir espaço para que a atividade nos serviços (e em particular no turismo, que ainda está a alguma distância dos níveis de 2019) continue a crescer, assim como a construção“, antecipam os economistas, admitindo que “no caso da indústria a conjuntura é mais incerta, pois é desfavorável para alguns setores e poderá nalguns casos depender mais de fatores externos”.

Esta nova projeção do ISEG contrasta com o movimento descendente das previsões divulgadas antes de o INE revelar o PIB do primeiro trimestre. Em abril, o Fundo Monetário Internacional revelou uma nova previsão em políticas invariantes (sem contar com a maior parte das medidas do Orçamento para 2022) de 4%. Será agora com expectativa que o Governo aguardará pela nova previsão da Comissão Europeia que conhecerá ainda este mês.

(Notícia atualizada às 12h24 com mais informação)

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