Bancos 20 – Berardo 1: A guerra pelos milhões em tribunal
Berardo contra-atacou com ação de 900 milhões depois de chuva de processos. Comendador acusa bancos de cinismo e de não se importarem com ruína dos clientes que eles próprios tornaram devedores.
Joe Berardo juntou numa lista todos os processos que os bancos avançaram contra ele nos últimos anos e entregou-a ao tribunal, juntamente com a ação em que reclama uma indemnização de 900 milhões de euros. Com isso, o comendador tenta demonstrar o “cinismo” de quem quer “deitar mão a tudo” e de quem “não se importa com a ruína dos clientes” que as próprias instituições tornaram devedores, e isto quando estava em cima da mesa um processo negocial bem avançado e perto de um acordo para uma solução para as dívidas.
De acordo com as informações recolhidas pelo ECO, são já duas dezenas de ações que os bancos colocaram contra o comendador para recuperar o dinheiro emprestado, num total de cerca de 1.000 milhões de euros, abrangendo execução de penhoras como a Associação Coleção Berardo (dona das obras de arte) e outros ativos como o Monte Palace na Madeira. Só agora Berardo contra-atacou com uma ação (podem vir mais) contra Caixa Geral de Depósitos, BCP, Novobanco e BES.
Do lado dos bancos, a chuva de processos vem confirmar o que tem sido dito e reiterado pelos banqueiros ao longo de todo o processo: que farão o que estiver ao alcance para recuperar o que lhe é devido. Foi o que disse ainda esta quarta-feira o BCP ao ECO.
Porém, o empresário diz que foi enganado pelos bancos a assumir dívidas para comprar ações no BCP, sabendo eles que o banco não estava nas melhores condições financeiras, e reclama 800 milhões por perdas causadas à Fundação José Berardo e ainda uma indemnização de 100 milhões por danos morais. Berardo admite mesmo que entrou em “depressão profunda” a partir do momento em que o tornaram no “Responsável Disto Tudo”.
No processo que colocou no início desta semana, Berardo ataca os bancos. Alega que não só o enganaram no momento inicial da concessão de crédito, como também quando renegociaram as dívidas, fazendo-o levar a crer que a desvalorização das ações do BCP era passageira e o preço ia recuperar assim que a crise passasse.
Mas a queda das ações do BCP foi irreversível e como os bancos não venderam os títulos no momento devido, em cumprimento do que estava nos contratos, deram origem ao buraco que agora querem tapar com as 20 ações nos tribunais, acusa Berardo.
“Só vieram a exercer efetivamente os seus direitos de crédito, através da venda dos penhores, (…) e, posteriormente, com a instauração de ações judiciais, quando já de nada lhes adiantava esconder a sua verdadeira situação”, argumenta.
“Trataram só então, cinicamente, de recolher o que podiam do crédito mal concedido e cujas condições de cobrança tinham deliberadamente deteriorado, do que eram os principais responsáveis, sem se importarem com a ruína dos clientes que tinham tornado devedores e que, como foi o caso de Joe Berardo, e da Fundação José Berardo e da Metalgest, tinham levado ardilosamente a colaborar para evitar a sua derrocada e a do sistema financeiro, sem o reconhecerem e enjeitando qualquer responsabilidade pelos danos causados”, alega a defesa.
Detenção travou acordo com bancos
Berardo afirma que também foi levado ao engano quando deu os títulos da Associação Coleção Berardo “para manter as operações [os financiamentos] em situação formalmente regular”, mantendo-se assim fora do radar dos auditores e Banco de Portugal.
Quando os bancos se depararam com o buraco que tinha sido aberto pela desvalorização do BCP na bolsa, “indiferentes a tudo que não fossem os seus diretos interesses e em detrimento do interesse dos clientes, (…) trataram de procurar cobrar por todos os meios” as dívidas de Berardo.
O comendador diz que é notável que, na “ânsia de a tudo deitarem mão, de qualquer maneira e em perfeito autismo”, as instituições tenham ignorado as negociações em curso para encontrar uma “solução adequada ao histórico dos créditos e às circunstâncias em que foram constituídos, mantidos e garantidos, por manifesto interesse dos bancos”.
As negociações corriam bem, iam adiantadas e já havia inclusivamente um projeto de acordo elaborado pelo Novobanco e que teve a concordância dos outros dois bancos, ficando a faltar se se devia procurar obter garantias do Estado, conta Berardo.
Contudo, depois da “inopinada” detenção do empresário e investidor da Madeira no verão do ano passado, por alegada fraude à Caixa, os bancos deixaram de responder para prosseguirem as negociações e desistiram do acordo.
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