Rússia fecha torneira do gás à Europa. E não é certo que volte a abrir
O gasoduto Nord Stream vai estar encerrado durante 10 dias. Alemanha e aliados temem que Moscovo aproveite a ocasião para fechar a "torneira" de vez à Europa e já preparam medidas.
A partir desta segunda-feira, o gasoduto Nord Stream, que é a principal conduta de gás russo para a Europa, vai estar encerrado durante 10 dias para manutenção. No entanto, a Alemanha e os seus aliados ocidentais temem que Moscovo aproveite esta ocasião para fechar a “torneira” de vez à Europa, pelo que os países já preparam medidas.
Dada a elevada dependência da Alemanha à energia russa, com mais de um terço das exportações de gás a serem provenientes do país liderado por Vladimir Putin, a Alemanha teme que o Kremlin aproveite esta vantagem para se vingar das sanções que a Europa impôs a Moscovo na sequência da invasão russa à Ucrânia.
Por isso, o governo liderado por Olaf Scholz estará já a preparar um plano de emergência, que inclui racionamentos e resgates de empresas, de acordo com a Bloomberg. No entanto, o fim das importações de gás proveniente da Rússia poderá ter graves consequências, nomeadamente levando a maior economia europeia a uma recessão –– isto é, dois trimestres consecutivos de quebra do PIB em cadeia — e teria também repercussões em toda a Europa. De acordo com o cenário severo desenhado pela Comissão Europeia, que contempla esta possibilidade, o crescimento do PIB seria inferior em 2,5 pontos percentuais face ao cenário base (2,7%) e a taxa de inflação seria três pontos percentuais acima (face aos atuais 6,1%).
Caso o governo alemão decrete situação de “emergência”, o regulador da energia poderá controlar a distribuição, e apesar de os serviços essenciais como os hospitais não serem afetados, os consumidores poderão ver limitada a utilização dos aquecedores e dos esquentadores, ao passo que indústria poderá ver o seu abastecimento de energia limitado. Recorde-se que há já alguns municípios alemães a racionar água quente, a diminuir a intensidade da iluminação pública e a encher piscinas com água mais fria.
Neste contexto, o governo alemão está também a acelerar a legislação, de modo a conseguir resgatar as empresas do setor energético em dificuldades, com o intuito de colmatar os efeitos negativos provocados pela redução do fluxo de gás da Rússia. É o caso da Uniper, que está em conversações com o executivo alemão para um resgate financeiro, depois de a Gazprom ter cortado 60% do gás fornecido à empresa, e de a empresa ter alertado, na sexta-feira, que está a ficar sem dinheiro. De acordo com a Bloomberg, que cita uma fonte próxima do processo, o pacote financeiro poderá chegar aos 9 mil milhões de euros.
Por outro lado, a Alemanha está também regredir nos seus compromissos ambientais, reativando centrais de carvão para produzir eletricidade. Segundo as estimativas feitas pela Bloomberg, esta decisão permite ao país reduzir o volume de gás usado para energia em 52% nos próximos 12 meses.
Paralelamente, o Canadá revelou no sábado que vai abrir uma exceção e abrir a turbina da Siemens Energy, que estava retida no Canadá devido às sanções impostas a Moscovo, e que é necessária para a manutenção do gasoduto Nord Stream. Em comunicado, citado pela Reuters, o governo canadense sinalizou que esta decisão tem “um prazo limitado e revogável” e que tem como objetivo apoiar “a capacidade da Europa de aceder energia confiável e acessível à medida que continua a afastar-se do petróleo russo. e gás.”
O atraso da entrega desta turbina terá motivado a redução, da parte da Gazprom, do abastecimento de gás para a Alemanha em 40%, sendo que o Kremlin garantiu, na sexta-feira, que o abastecimento de gás pode regressar a níveis normais com a devolução deste equipamento.
A par da Alemanha, também França já se prepara para o fim do gás russo. Com cerca de 17% do seu abastecimento proveniente da Rússia, o governo francês tem vindo a preparar planos de contingência. No domingo, o ministro das Finanças francês revelou que a primeira linha de ação será dirigida às habitações e empresas, com o racionamento do consumo de energia, seguida pela construção de novas infraestruturas, nomeadamente a construção de uma central nuclear flutuante, segundo a Reuters.
Certo é que o corte de gás russo é particularmente problemático para França, dado que muitos reatores do país estão atualmente suspensos para manutenção. No sábado, também a primeira-ministra francesa sinalizou que é “credível uma quebra dos envios [de energia] da Rússia para a Europa”, anunciando que o seu Governo vai, em breve, apresentar “um plano de sobriedade energética” que visa mobilizar rapidamente toda a população para a redução do consumo, para a renovar casas mais antigas e para descarbonizar transportes e indústria. “É uma oportunidade para fortalecer a nossa soberania e criar empregos no nosso território”, destacou.
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