Estudo defende capitalização da Segurança Social
Fernando Alexandre, um dos autores do livro "Poupança e Financiamento da Economia Portuguesa", diz que é preciso encontrar fontes de financiamento alternativas para a Segurança Social, como o IVA.
Fernando Alexandre, um dos autores do livro “Poupança e financiamento da economia portuguesa” diz que “num contexto de poupança reduzida, a evolução do rácio demográfico e a diminuição da população ativa, levará — caso nada seja feito — a uma variação do padrão de consumo das famílias e a uma redução abrupta dos seus rendimentos e vai ter impactos significativos na Segurança Social“.
O autor do livro, em declarações ao ECO e, à margem da conferência realizada na tarde desta terça-feira para apresentação do estudo, no Porto, diz que a solução tem de passar pela “capitalização do sistema”. A ideia, garante, não é ter uma capitalização privada. Mas “as pessoas têm de perceber que a capitalização implica que, quando estão a descontar, saibam que uma parte do que descontam vai ser uma poupança para elas“.
Fernando Alexandre diz mesmo que há “estudos que apontam para a necessidade de um aumento da taxa social única (TSU), de tal maneira que esta se situe entre os 40 e os 45%. Mas ainda assim essa subida não é suficiente para garantir a sustentabilidade da Segurança Social”.
"Há estudos que apontam para a necessidade de um aumento da taxa social única (TSU), de tal maneira que esta se situe entre os 40 e os 45%. Mas ainda assim essa subida não é suficiente para garantir a sustentabilidade da Segurança Social.”
O autor refere a necessidade de encontrar formas alternativas de financiamento. “Neste momento são os rendimentos do trabalho a sustentar a segurança social e o que dizemos é que é preciso encontrar outras fontes de financiamento. Uma parte do IVA pode ser canalizado para a segurança social”, admite o autor.
O livro promovido pela Associação Portuguesa de Seguradores aponta ainda o dedo ao Estado e às empresas como os grandes responsáveis pelo grande endividamento da economia. Já as famílias portuguesas são ilibadas. Aliás, o autor diz mesmo que o endividamento das famílias portuguesas é inferior a muitos países nórdicos.
"Neste momento são os rendimentos do trabalho a sustentar a Segurança Social e o que dizemos é que é preciso encontrar outras fontes de financiamento. Uma parte do IVA pode ser canalizada para a Segurança Social.”
Já as empresas estão entre as mais endividadas do mundo o que, segundo Fernando Alexandre, deve-se a “pagamentos de dividendos muito elevados”. “É preciso levar os empresários a reinvestirem nas empresas”, argumenta.
Para Fernando Alexandre, “numa economia muito endividada como a nossa, se quisermos ter investimento sustentável temos que ter um aumento da poupança, essa é um condição para que a economia possa crescer”.
O livro faz ainda uma análise comparativa com outros países que foram alvo de ajuda externa, como é o caso de Espanha e da Irlanda, países que apesar de terem sido resgatados têm taxas de poupança superiores a 25%.
O autor do livro diz mesmo que a análise destas economias é diferente. “Em Portugal, o investimento está a cair desde 2011. Irlanda e Espanha tiveram grandes aumentos de investimento até à crise, sendo que o endividamento desses países foi motivado pelo aumento do investimento, o nosso foi provocado pela queda da poupança”.
Paupério: “Não se pode promover investimento se não houver previsibilidade”
Para o co-CEO da Sonae, Ângelo Paupério “não se pode promover o investimento das empresas se não houver previsibilidade e estabilidade“. Paupério, que participou num painel de debate com Miguel Cadilhe, Alberto Castro e Pires de Lima, garantiu que “há uma redução da confiança em relação à sustentabilidade da poupança”.
“As pessoas não sentem a sua poupança segura. E assim uma pessoa sente-se parva por poupar e vai ter de contribuir com a sua poupança para compensar aquilo que foi o desvario de outros”.
Paupério garantiu ainda que o consumo das famílias com a crise foi alterado — “as pessoas mudaram hábitos de consumo” –, e lembrou que a ideia de poupar “não faz parte do discurso progressista. Já a necessidade de investir é mais consensual mas não se pode investir com o mesmo modelo que nos trouxe até aqui”.
Já o chairman do Banco de Fomento, Alberto Castro falou na quadratura do círculo para dizer que é necessário mais investimento, sem mexer muito na poupança e sobretudo sem aumento da dívida pública. Para o economista, isto só é possível “com esforço de maior captação de investimento direto estrangeiro e com a melhor utilização de fundos estruturais”.
Por seu turno, o ex-ministro da Economia falou na cultura de facilitismo que se instalou em Portugal. Do ponto de vista de Pires de Lima, essa cultura assentou em três pilares fundamentais: um modelo de indemnização às nacionalizações que permitiu que ex-acionistas reconquistassem parte dos seus grupos com recurso a dívida, o aparecimento do euro e diminuição das taxas de juro e, ainda, à promiscuidade entre negócios de Estado e privados, que levou a que se confundisse empreendedorismo com ligações ao Estado.
Pires de Lima disse que estes fenómenos degeneraram “num ‘xico espertismo’, financiados em dívida, muitos deles até sem garantias adequadas”, Ainda assim, realçou “o percurso heroico que muitas empresas portuguesas fizeram de correção dos desequilíbrios num tão curto espaço de tempo”.
O ex-ministro falou ainda na importância da capitalização das empresas, e admitiu que não teme pelas empresas. “Não me assusta nada ver capital estrangeiro a entrar nas empresas portuguesas, isso é sinal de que há empresas nacionais atrativas”.
Miguel Cadilhe, que nesta conferência tinha o papel de moderador, disse concordar com Pires de Lima sobre a entrada de investidores estrangeiros. “O aumento de capital estrangeiro é bem-vindo porque é necessário”. Cadilhe recordou que “temos capitalistas sem capital o que, para uma economia de mercado, é uma curiosidade. Alguns têm capital graças à acumulação que fizeram mas, outros, têm dificuldade de fazer acumulação de capital”.
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