Economistas antecipam estagnação da economia ou ligeira contração no terceiro trimestre

Estimativas variam entre uma contração de 0,5% e um crescimento de 0,3% em cadeia no terceiro trimestre. Este desempenho corresponde a uma variação homóloga entre 3,9% e 4,8%.

A economia portuguesa deverá ter estagnado ou até mesmo registado uma ligeira contração no terceiro trimestre. Esta é a convicção da maior parte dos economistas ouvidos pelo ECO em antecipação dos dados que serão divulgados esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

As estimativas variam entre uma contração de 0,5% e um crescimento de 0,3% em cadeia no terceiro trimestre. Recorde-se que no segundo trimestre Portugal cresceu 0,1% face aos primeiros três meses do ano. Este desempenho corresponde a uma variação homóloga entre 3,9% e 4,8%.

“Os primeiros indicadores do terceiro trimestre foram favoráveis, na indústria, no retalho e sobretudo no turismo“, diz ao ECO Pedro Braz Teixeira. “No entanto, sobretudo em setembro, com a subida sucessiva da inflação, das taxas de juro e do pessimismo internacional crescente, começou a registar-se um abrandamento e até mesmo queda das transações, revelado de forma mais nítida pelo indicador diário de atividade, calculado pelo Banco de Portugal. Neste mês, houve também uma queda generalizada da confiança, quer dos consumidores quer dos empresários”, acrescenta o economista-chefe do Fórum para a Competitividade. A sua estimativa aponta para uma variação em cadeia entre -0,5% e 0%, a que corresponde uma variação homóloga entre 3,9% e 4,4%.

Valores seguidos de muito perto pelos cálculos do Santander. “Estamos com uma estimativa entre 0% e -0,4%, com uma variação homóloga entre 4,5% e 4,1%”, avançou ao ECO Rui Constantino.

Já o Forecasting Lab da Católica considera que os dados do terceiro trimestre “são um pouco contraditórios, mas a melhor estimativa é que a economia portuguesa tenha contraído cerca de 0,5% face ao segundo trimestre do ano, o que corresponde a um crescimento de 4% em termos homólogos devido a efeitos base favoráveis”. “Na prática, a recuperação do turismo não terá sido suficiente para compensar as perdas de atividade em outros setores mais penalizados pela subida dos preços da energia e das matérias-primas”, explica João Borges de Assunção.

“Os dados quantitativos relativos a julho e agosto não apontam para uma desaceleração significativa da atividade económica durante o terceiro trimestre, antes, com a incerteza inerente ao facto de serem desconhecidos a maior parte dos dados relativos a setembro, para uma certa estabilização do nível de atividade face ao trimestre anterior”, refere, por seu turno, a síntese de conjuntura do ISEG. “Em concreto, face ao trimestre anterior, admite-se que o consumo privado terá crescido e que investimento possa ter estabilizado“, acrescenta a mesma nota da equipa liderada pelo economista António da Ascensão Costa.

No segundo trimestre houve, em simultâneo, uma queda de 0,3% do consumo privado e uma queda da taxa de poupança, de 7,3% para 5,9%. Mas como os últimos dados revelam “uma queda para valores anormalmente baixos, próximos dos mínimos registados em 2008 (5,1%)“, Pedro Braz Teixeira conclui que “as famílias já estão a cortar na poupança para lidar com a inflação e o consumo privado teria caído ainda mais se não o fizessem“. “É possível que no terceiro trimestre este movimento se tenha acentuado, não só devido à generalização da subida de preços a um número alargado de bens e serviços, mas também porque a subida das Euribor está a fazer subir muito as prestações do crédito à habitação”, admite o economista.

“Por efeito de base, é de esperar crescimento homólogo positivo mas em desaceleração face ao segundo trimestre. Mais incerto será concluir se se terá registado crescimento em cadeia”, diz António da Ascensão Costa, que aponta para um intervalo entre -0,1% e 0,3%, em cadeia a que corresponde, em termos homólogos, um crescimento entre 4,3% e 4,8%.

Já o departamento de estudos económico do BCP é o mais otimista de todos atirando para um crescimento de 0,3% face aos três meses anteriores e de 4,8% em termos homólogos. “O crescimento da economia portuguesa no terceiro trimestre, em comparação com os três meses anteriores, deverá ter sido suportado pelo forte dinamismo do turismo, assim como pela recuperação do investimento (após a queda de 5,7% no segundo trimestre), beneficiando do alívio das restrições nas cadeias de produção globais nos últimos meses”, explica a nota de conjuntura assinada por Márcia Rodrigues. “Por sua vez, o consumo privado deverá ter abrandado, penalizado pela subida acentuada da taxa de inflação. Ainda assim, é expectável que as despesas das famílias tenham tido um contributo marginalmente positivo para o crescimento do PIB”, acrescenta a economista.

Relativamente à procura externa líquida, Ascensão Costa acredita que “irá manter um contributo positivo para o crescimento real do PIB em termos homólogos, mas não é possível ser conclusivo no que toca à variação em relação ao trimestre anterior”, acrescenta.

As perspetivas não parecem melhorar muito relativamente ao quarto trimestre. Os economistas falam de estagnação, valores marginalmente negativos, forte desaceleração.

“Para o último trimestre do ano, as perspetivas de crescimento em cadeia não são melhores, devendo o crescimento real situar-se entre valores marginalmente negativos e marginalmente positivos”, diz o ISEG. “Assim, atendendo à recente revisão em alta do INE para o crescimento no primeiro semestre, estima-se que crescimento esperado para a economia portuguesa em 2022 se venha situar entre 6,4% e 6,6%“, aponta a nota de conjuntura.

Para o quarto trimestre, “para o qual ainda não dispomos de informação, estamos a trabalhar com uma estagnação em cadeia, resultando num crescimento anual em redor de 6,3%“, avança por seu turno Rui Constantino.

Nos próximos trimestres, perspetiva-se um forte abrandamento da economia portuguesa, em termos homólogos, em virtude do enquadramento externo adverso, nomeadamente por via da persistência de elevados níveis de inflação e da subida acentuada dos custos de financiamento, o que se deverá refletir numa maior moderação do investimento e na queda do consumo das famílias”, antecipa o departamento de estudos económico do BCP. “Adicionalmente, os riscos de forte abrandamento da economia mundial deverão penalizar a atividade exportadora nacional”, acrescenta Márcia Rodrigues. A economista admite contudo que estes efeitos adversos possam ser “mitigados pela resiliência do turismo e pela execução dos projetos associados ao Plano de Recuperação e Resiliência”.

Pedro Braz Teixeira também considera que o quarto trimestre “dificilmente poderá ser melhor do que o terceiro, com mais uma queda na confiança e subida da inflação para novo máximo em outubro, bem como novas subidas de taxa de juro do BCE, num contexto de guerra, onde as ameaças nucleares começam a ganhar terreno”. “Mesmo assim, muito beneficiado pelo primeiro trimestre”, o Fórum para a Competitividade estima um crescimento do PIB este ano entre 6% e 6,5%.

“No corrente ano, a economia portuguesa deverá manter um conjunto de fragilidades, mas poderá beneficiar do efeito da base anormalmente baixa de 2021, o que permite um cenário central de crescimento da atividade económica de 6,1% em 2022″, defende João Borges de Assunção. “O intervalo de previsão de 5,8% a 6,4% não incorpora a estimativa do Banco de Portugal (6,7%) que assenta” num “crescimento ténue no terceiro trimestre, mas também numa recuperação de 0,5% no quarto trimestre, motivada pelo efeito temporário do programa do Governo de apoio às famílias, bastante difícil de quantificar ex-ante com base na informação disponível”, acrescenta o professor da Católica.

Recorde-se que na proposta de Orçamento do Estado para 2023, o Executivo aponta para um crescimento de 6,5% este ano e 1,3% no próximo. Já o Banco de Portugal prevê um crescimento de 6,7% para este ano, uma previsão partilhada pelo Conselho das Finanças Públicas (CFP) que antecipa um abrandamento para 1,2% em 2023, numa base de políticas invariantes, ou seja, que não tem em conta as medidas que o Governo vai tomar, nomeadamente no OE. Mas o Fundo Monetário Internacional é a instituição mais pessimista e aponta para um crescimento de 6,2% este ano e de 0,7% no próximo.

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