Moody’s vê ameaças à redução do défice e da dívida, mas Portugal é “imune” ao gás russo

Agência alerta que o Governo falhará a meta do défice se tiver de prolongar apoios para lá do primeiro trimestre e espera redução mais lenta da dívida. Mas, quanto ao gás russo, o país é "imune".

A Moody’s está menos otimista do que o Governo em relação ao próximo ano. Além de prever que a economia portuguesa vai estagnar com um crescimento de 0,4% em 2023 (abaixo dos 1,3% previstos pelo Executivo) e de 0,8% em 2024, a agência de rating perspetiva que Portugal pode falhar a meta do défice de 0,9% devido ao risco de extensão das medidas de apoio no contexto da guerra e da crise energética.

Em simultâneo, após analisar a proposta de Orçamento do Estado para 2023, a Moody’s acredita que o Governo vai ser capaz de reduzir a dívida pública, mas “a um ritmo mais lento devido ao ambiente económico mais desafiante”. “Esperamos agora que a dívida caia para 111,8% do PIB em 2023 e 108,4% do PIB em 2024”, refere a agência de notação financeira numa nota de avaliação que não constitui uma avaliação de rating. A redução da dívida é um dos principais objetivos do Governo para os próximos anos, que espera que o rácio da dívida face ao produto desça para 110,8%.

Depois de um ano de 2022 em que a atividade económica aguentou “melhor do que o esperado”, Portugal vai sentir o peso do “choque económico desencadeado pela invasão russa da Ucrânia”. “O principal travão ao crescimento virá do abrandamento material no consumo”, numa altura em que a “inflação pesa no poder de compra dos consumidores” e a importação de energia dá-se a preços mais elevados.

Não será o único. A Moody’s alerta também para o enfraquecimento da procura externa por bens e serviços portugueses, assim como para a queda do consumo privado causada pelo aumento das prestações do crédito à habitação — a que as famílias estão mais expostas, por causa das prevalência das taxas variáveis.

Quanto ao Orçamento do Estado para 2023, a Moody’s acredita que o Governo pode falhar a meta do défice de 0,9% do PIB, ao ver como “provável” a necessidade de alargar as medidas de apoio à economia para lá do primeiro trimestre do próximo ano. Até aqui, porém, a agência lembra que o país está a arrecadar mais receita fiscal do que era esperado, o que “tem compensado os níveis mais elevados de despesa para apoiar empresas e famílias”, estimada em 1,5% do PIB.

Face a isto, é mais provável que o défice encolha para 1,2% em 2023, estima a Moody’s, assumindo que a crise energética do próximo ano também vá pesar no crescimento económico. “Estas condições económicas mais adversas vão limitar a capacidade do Governo de reduzir a despesa pública em percentagem do PIB. Além disso, a despesa no setor da saúde continua a ser uma preocupação”, defende a agência no referido relatório.

Quanto à dívida pública, a Moody’s vê um recuo este ano para 115% do PIB, notando que é um rácio mais baixo do que antes da pandemia. Espera ainda que a dívida continue a encolher em 2023 e 2024, “ainda que a um ritmo mais lento, devido ao ambiente económico mais desafiante”. “Esperamos agora que a dívida caia para 118,8% do PIB em 2023 e 108,4% do PIB em 2024”, explica.

“Imune aos desafios no abastecimento de gás”

Num tom mais positivo, um risco que Portugal não enfrenta é o do corte no abastecimento de gás natural pela Rússia. A Moody’s escreve mesmo que “Portugal é relativamente imune aos desafios no abastecimento de gás, dado que a sua exposição à Rússia é muito limitada”. Com a quota de gás russo nos 10% em Portugal e o gás a representar 23,5% do mix energético, o país está mais bem posicionado do que “outras economias avançadas”.

Por fim, uma palavra sobre os fundos europeus. A Moody’s assevera que “a execução do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) experienciou alguns atrasos este ano”, com apenas 5% dos fundos já desembolsados. “Este atraso parece ter sido causado pelo processo de constituir as instituições que vão governar o plano, bem como problemas nas cadeias de abastecimento e constrangimentos na capacidade da indústria da construção”, opina a agência.

A Moody’s tinha previsto para a passada sexta-feira uma avaliação à notação atribuída à dívida portuguesa, mas optou por não se pronunciar. Atualmente, atribui a Portugal o rating de “Baa2” (categoria de investimento), com perspetiva estável.

(Notícia atualizada pela última vez às 15h58)

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