Conheça o fundo que vai investir mil milhões de euros na EDP Renováveis
Com quase 700 mil milhões de euros de ativos sob gestão, o fundo soberano de Singapura é o quinto maior do mundo e aquele que mais dinheiro investiu nos últimos cinco anos.
Com quase 700 mil milhões de euros sob gestão, que o tornam no quinto maior fundo soberano do mundo, o GIC Private Limited (GIC), que gere os recursos externos do Governo de Singapura, prepara-se para se tornar no mais recente acionistas a EDP Renováveis EDPR 0,00% numa operação de mil milhões de euros e também da sua empresa-mãe, a EDP – Energias de Portugal.
De acordo com informação divulgada na madrugada da última quinta-feira ao mercado pela EDP Renováveis, ficou a saber-se que a empresa liderada por Miguel Stilwell celebrou um contrato de investimento com o Lisson Grove Investment, uma afiliada do GIC, que se comprometeu a subscrever mil milhões de euros num futuro aumento de capital da empresa.
Mais tarde, ao final do dia de quinta-feira, foi a vez da EDP comunicar ao mercado que as ações que serão emitidas no seguimento do seu aumento de capital de mil milhões de euros serão oferecidas ao GIC e a mais dois investidores selecionados: o já acionista da EDP China Three Gorges e a uma afiliada do fundo soberano Abu Dhabi Investment Authority.
Liderado por Lim Chow Kiat, o fundo soberano de Singapura tem, de acordo com os últimos dados disponíveis, a maioria do seu portefólio alocado nos EUA (37% dos ativos) e no continente asiático (32%). Os investimentos na Zona Euro pesam apenas 8% do capital.
O fundo soberano de Singapura é frequentemente visto em alguns dos maiores negócios do mundo.
Fundado em 1981 com o intuito de gerir as reservas externas da economia singapurense, o GIC conta com investimentos em mais de 40 países e emprega cerca de 1.900 pessoas.
Só no ano passado, segundo um relatório anual de 2023 da Global SWF, o GIC foi mais uma vez o maior investidor do ano entre todos os fundos soberanos e de pensões, com a realização de 73 investimentos avaliados em quase 40 mil milhões de euros, 18% mais que em 2021.
Entre 2018 e 2022, o GIC teve também a proeza de ser constantemente o maior investidor entre todos os fundos soberanos e de pensões. Neste período, segundo contas do Global SWF, o fundo soberano de Singapura investiu mais de 122 mil milhões de euros, cerca de 51% do PIB de Portugal.
“O fundo soberano de Singapura é frequentemente visto em alguns dos maiores negócios do mundo, geralmente em conjunto com outros fundos e empresas de private equity, e com uma ligeira tendência para as empresas europeias e norte-americanas”, lê-se no relatório.
É disso exemplo o investimento de sete mil milhões de dólares (cerca de 6,6 mil milhões de euros) realizado entre setembro e outubro do ano passado na aquisição do Store Capital, um fundo imobiliário cotado (REIT), num negócio avaliado em 15 mil milhões de dólares e que contou ainda com a participação do private equity Oak Street.
No ano passado, de acordo com dados compilados pelo Global SWF, o fundo soberano de Singapura foi o maior investidor individual em energias renováveis do mundo.
Entre os principais parceiros do GIC destaca-se o maior fundo soberano do emirado do Dubai, o Abu Dhabi Investment Authority (ADIA), que carrega um “poder de fogo” de quase 800 mil milhões de euros. Só em 2022, os dois fundos soberanos realizaram em parceria investimentos em empresas como a Zendesk (EUA), Taibang Biologic (China), Triveni Turbine (Índia) e Climate Technology (EUA).
Mas nenhum se compara ao mega-negócio em que o GIC também este envolvido, que foi a abertura do capital a investidores (IPO) da Dubai Electricity and Water Authority (DEWA), a empresa que gere uma gigantesca infraestrutura de serviços públicos no Dubai.
Esta operação, que foi o maior IPO da região do Golfo desde 2019, permitiu à DEWA captar mais de seis mil milhões de euros de investimento junto de investidores como o GIC, o fundo soberano Abu Dhabi Developmental Holding Company (ADQ) e o fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos (EIA).
Um investidor com fortes interesses nas energias renováveis
O fundo soberano de Singapura está em todo o lado. No entanto, são as energias renováveis e os negócios associados à descarbonização da economia que estão a receber cada vez mais a atenção de Lim Chow Kiat e da sua equipa.
“A transição de baixo carbono apresenta enormes oportunidades, uma vez que os esforços de transição estão a acelerar, e as soluções inovadoras de sustentabilidade estão a emergir em escala”, referiu Lim Chow Kiat no último relatório e contas do GIC, destacando que só no setor da energia, “as necessidades de capital terão de aumentar de 2 biliões de dólares para quase 4,5 biliões de dólares por ano até 2050, de acordo com a Agência Internacional de Energia.”
Na sua exposição, Lim Chow Kiat refere ainda que para captar as oportunidades na descarbonização da economia, a sua equipa não está somente “a investir ativamente em novas tecnológicas, como o hidrogénio verde, a remoção de carbono e até na fusão nuclear, como também está envolvida em todos os esforços da transição” e que em “só em último caso é que desinvestimentos”.
Estas são boas indicações para o grupo EDP e para a equipa de Miguel Stilwell que, segundo fontes do mercado escutadas pelo ECO, terão captado a atenção do GIC recentemente no seguimento da concretização de um negócio no continente asiático por parte da elétrica portuguesa.
No ano passado, de acordo com dados compilados pelo Global SWF, o fundo soberano de Singapura foi mesmo o maior investidor individual em energias renováveis do mundo.
Entre os negócios mais importantes que realizou está a parceira com o private equity Carlyle Group num “investimento estratégico” na Eneus Energy para alavancar o desenvolvimento de vários projetos que a empresa está a promover na área do amoníaco verde com potencial para a produção de mais de 14 gigawatts de energia; e ainda para o maior investimento do ano na australiana InterContinental Energy da Austrália, que detém um portefólio superior a 200 mil milhões de euros de ativos numa carteira de 200 gigawatts de capacidade de geração de energia eólica em terra e solar.
Um gigantesco fundo com muita apetência para o imobiliário
O fundo soberano de Singapura contabiliza uma rendibilidade média anual de 7% nos últimos 20 anos (terminados a 31 de março de 2022), que compara com um desempenho de 8,3% por ano das ações mundiais no mesmo período (medido pelo índice MSCI World incluindo a distribuição de dividendos).
A sustentar este desempenho está uma política de investimento que assenta no princípio de “construir um portefólio de ativos e estratégias que gerem bons retornos no longo prazo, mediante os parâmetros de risco definidos pelo seu cliente (o governo de Singapura)”. E, para isso, Lim Chow Kiat investe o dinheiro dos singapurenses em ações, obrigações, imobiliário e em fundos de private equity.
De acordo com os últimos números conhecidos, a maioria dos ativos do GIC estava aplicado em obrigações: 43% da carteira, cerca de 280 mil milhões de euros, estavam alocados em títulos de dívida, contando-se 6% deste montante aplicado em obrigações indexadas à inflação.
A segunda maior fatia do GIC está aplicada em ações, num portefólio de cerca de 195 mil milhões de euros (30% dos ativos). Metade desta exposição é garantida através de ações de empresas de mercados desenvolvidos (onde também figurará a participação na EDP Renováveis) e metade de empresas de mercados emergentes.
A terceira maior componente da carteira de investimento do fundo soberano de Singapura é constituída por ativos imobiliários, num valor global avaliado no final do ano passado em cerca de 73 mil milhões de euros (10% da carteira). Segundo o Global SWF, o GIC é o segundo fundo soberano com mais investimentos em ativos imobiliários. Mais de um terço dos ativos estão aplicados em imóveis relacionados com o setor logístico e 20% são escritórios.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Conheça o fundo que vai investir mil milhões de euros na EDP Renováveis
{{ noCommentsLabel }}