Exclusivo Os bancos estão melhor do que na crise de 2008? A resposta em 5 gráficos
Mais capitalizados, mais saudáveis e com maior liquidez para responder a cenários de stress: estes 5 gráficos mostram que os bancos estão mais bem preparados do que na última grande crise financeira.
Como uma máquina do tempo, a queda do Silicon Valley Bank e do Credit Suisse fez-nos regressar à grave crise financeira de 2008, após o colapso do Lehman Brothers. Na altura, muitos começaram a duvidar da capacidade de os bancos de enfrentaram a turbulência. O cenário repete-se agora. Para afastar a desconfiança, as autoridades em todo o mundo reafirmaram que o setor está hoje numa posição muito mais favorável do que há 15 anos. E os bancos portugueses, como estão?
Malparado em mínimos
Nos últimos anos, os bancos realizaram uma verdadeira empreitada na limpeza do balanço através da redução dos empréstimos em situação de incumprimento, que se situam atualmente em níveis historicamente baixos: o rácio de malparado atingiu os 3,2% do total do crédito em setembro do ano passado.
Isto significa que, por cada 100 euros de crédito dado à economia, apenas 3,2 euros é crédito problemático. Um nível bem abaixo dos 17,9 euros por cada 100 euros de crédito que registavam em 2016, quando atingiu o pico máximo de 17,9% (46,4 mil milhões de euros).
Em boa verdade, em 2008, o rácio de NPL (non performing loans) estava nos 3,6%, mas veio a explodir nos anos seguintes da crise da dívida em Portugal, com milhares de famílias (e empresas) incapazes de honrar as suas responsabilidades. Na sequência desta situação houve um reforço da legislação no sentido de proteger as casas das famílias e também os bancos, com a criação do regime de prevenção do incumprimento cujas regras foram agora reforçadas para evitar um cenário semelhante.
Malparado baixa para mínimo histórico
Fonte: Banco de Portugal e APB
Bancos menos expostos ao risco
Além do balanço mais limpo, os bancos também reduziram consideravelmente a sua exposição ao risco, como dá conta a evolução dos ativos ponderados pelo risco. Este indicador mostra os riscos subjacentes às carteiras dos bancos, que incluem, entre outros, empréstimos a clientes, títulos de dívida, valores mobiliários e todo o tipo de ativos.
Cada um destes ativos tem um ponderador de risco diferente: por exemplo, as ações têm maior risco do que os títulos do governo ou o dinheiro em caixa, pelo que exigem maiores proteções.
No caso da banca portuguesa, a evolução entre 2007 e 2022 revela que os bancos estão mais prudentes, com o rácio dos ativos ponderados pelo risco a baixar dos 67% em 2007 para os 42% do total do ativo em setembro.
Ou seja, quanto mais arriscado for o negócio, mais fundos próprios o banco vai ter de constituir. E vice-versa.
Negócio da banca menos arriscado
Fonte: Banco de Portugal
Rácios de capital duplicam
Do ponto de vista da solidez financeira, os bancos portugueses também estão mais robustos do que na anterior crise. Isto resulta, em grande medida, do aperto da regulação e do aumento do níveis de exigências nos últimos anos, para que as instituições tivessem mais fundos próprios para responder a eventuais perdas, em vez de serem chamados os contribuintes a resgatar o banco, mas também porque reduziram a exposição ao risco (como vimos no gráfico anterior)
O rácio de fundos próprios de nível 1 (CET1) do setor mais do que duplicou em 15 anos, passando de 7% em 2007 para 15,3% em setembro do ano passado.
Ao todo, os bancos têm cerca de 30 mil milhões destes fundos para absorverem perdas em que incorram.
Rácio CET1 duplica
Fonte: Banco de Portugal
Menos alavancados
O negócio tradicional de um banco passa por receber depósitos dos clientes e emprestar esse dinheiro às famílias para comprarem casa ou às empresas para financiarem os seus negócios. Há um indicador que mede a capacidade de “negócio” um banco: o rácio de transformação [de depósitos em empréstimos).
Atualmente, o rácio de transformação da banca está nos 79%. O que indica que por cada 100 euros de depósitos, há 79 euros emprestados (e a render juros).
Em 2010 a situação estava mais desequilibrada, com os bancos a apresentaram um rácio de mais de 150%, deixando pouca margem para conceder e mais sujeitos a flutuações nas poupanças dos clientes e dependentes do mercado – que viria a fechar-se com o resgate financeiro ao país em 2011.
Transformação abaixo de 100%
Fonte: Banco de Portugal
Bancos em estado líquido
No Silicon Valley Bank, a corrida aos depósitos levou à necessidade de vender uma carteira de obrigações com um prejuízo de muitos milhões, o que assustou os investidores e intensificou a saída de poupanças, culminando na queda do banco.
Para evitar situações de turbulência, os bancos passaram a ser obrigados a cumprir rácios de cobertura de liquidez desde outubro de 2015. Isto obriga as instituições a terem ativos líquidos e não onerados que possam ser facilmente vendidos nos mercados com pouca ou nenhuma perda de valor e suficientes para suportar um período de stress de 30 dias.
Em 2016 esse rácio estava nos 150%, ou seja, os bancos já aguentariam a saída de fundos durante mais de um mês sem terem de recorrer ao banco central. Melhoraram a sua capacidade de absorção de choques entretanto, com o rácio de cobertura de liquidez a aumentar para 250%.
Maior capacidade para absorver turbulência nos depósitos
Fonte: Banco de Portugal
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