Lucros dos bancos imorais? “Não faz sentido nenhum”, defendem banqueiros

Responsáveis pelos principais bancos em Portugal rejeitam a ideia de que estejam a ter "lucros imorais" e lembram que são importantes para conseguirem apoiar as famílias em dificuldade.

Os bancos vão a caminho de um ano histórico, depois de terem alcançado lucros de mais de 900 milhões de euros no primeiro trimestre. Mas os banqueiros rejeitam que sejam lucros imorais ou extraordinários, e mostram-se disponíveis para apoiar as famílias que atravessam maiores dificuldades no crédito da casa.

“Lucros imorais? É uma coisa que não faz sentido nenhum”, referiu o presidente executivo do BCP, Miguel Maya, no programa CEO Banking Forum da SIC Notícias e Expresso. “A banca portuguesa está com a economia portuguesa, como esteve no tempo da Covid, e tudo estamos a fazer para que os clientes em maior dificuldade – e há clientes com mais dificuldades – sejam apoiados”, reiterou o gestor.

Maya deu ainda outro argumento para relativizar a subida dos resultados do setor financeiro: “Se os lucros são assim tão elevados face ao capital investido, as pessoas estariam a investir nos bancos porque têm uma rentabilidade muito elevada. Isso não acontece”.

Falando no mesmo painel, o presidente do Santander Totta lembrou a “aversão ao lucro” que há em Portugal e que isso contribui para afastar o talento e para os salários baixos.

Os lucros devem ser vistos como uma coisa positiva. Agora estamos a falar dos bancos, mas há um menos estávamos a falar da distribuição e há dois meses estávamos a falar do setor elétrico”, referiu Pedro Castro e Almeida. No caso dos bancos, “o lucro é muito importante para conseguirem apoiar as famílias e para fazerem grandes investimentos”, como o JPMorgan, que acabou de anunciar 15 mil milhões para investir em tecnologia e atração de talento, frisou o banqueiro.

“Este ano vamos ter uma boa rentabilidade? Vamos. É escandalosa em comparação com a Europa? Não. Vai chegar ao pé da rentabilidade que tem os bancos americanos? Não. Que os investidores acreditam que no futuro vamos ter esta rentabilidade? Também não”, sustentou.

Caixa quer pagar capitalização até 2025

Na Caixa Geral de Depósitos (CGD), Paulo Macedo anunciou que o banco público vai atingir este ano um capital de dez mil milhões de euros. E será preciso atingir lucros para remunerar esse dinheiro e ainda para pagar “integralmente a ajuda que o Estado lhe deu”.

“A Caixa pagará o investimento dos privados este ano”, adiantou. No próximo mês irá reembolsar 500 milhões de euros de títulos T2 emitidos em 2018. “Até 2024 – e a pagar em 2025, o banco tem condições para pagar tudo ao Estado”, cerca de 2.500 milhões de euros acrescentou o gestor. “É o nosso grande objetivo”.

Memória curta e bancos sensíveis

Pedro Castro e Almeida lembrou que, nos últimos 14 anos, em oito deles a rentabilidade foi negativa e nos restantes a rentabilidade foi muito baixa.

Sobre estes dados, João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, apelou a que os portugueses não tenham “memória curta” e a recordar o esforço que o país fez “para ter uma banca sólida e saudável que possa suportar as famílias e empresas e dar a resposta” que garante, os bancos estão “a dar neste momento”. Em termos de ajudas públicas, os bancos receberam 22 mil milhões de euros em mais de uma década, recordou.

João Pedro Oliveira e Costa revelou que no BPI deram entrada apenas quatro casas de recuperação de crédito nos últimos 12 meses. E nos últimos três anos 30. “Temos 140 mil créditos à habitação. É um bom exemplo quando se pergunta se estamos ou não disponíveis”, rematou.

Miguel Maya revelou que no BCP “as execuções judiciais para tomada de posse de casa são seis vezes menos do que em 2018”, uma prova da maior “sensibilidade” do banco em relação às dificuldades das famílias.

No banco público, Paulo Macedo anunciou que as famílias em maior stress e que vão ter bonificação de juros vão ter um apoio extra com um corte de 50 pontos base no spread do contrato.

O presidente do Santander afirmou que não se está a assistir a um “incumprimento relevante” das famílias e empresas junto dos bancos e que o nível até “é inferior a 2019”. “Se houvesse incumprimento, era porque os bancos não estariam a ajudar”, argumentou Pedro Castro e Almeida.

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