Banqueiros ficaram “preocupadíssimos” com solução para o Novo Banco

  • Margarida Peixoto
  • 23 Abril 2017

O presidente da Associação Portuguesa de Bancos reconhece que as ajudas do Estado à banca já atingiram 13 mil milhões de euros e que, destes, cinco mil milhões são custos para os contribuintes.

“Preocupadíssimos” — foi assim os banqueiros ficaram com a solução para Novo Banco. A expressão é de Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), numa entrevista ao DN e TSF, publicada este domingo. O banqueiro reconhece que a venda ao Lone Star foi um mal menor, mas admite que também não tinha nada contra a nacionalização.

“Ficámos preocupadíssimos, mas a verdade é que este processo teve um pecado original e insofismável, que foi a decisão da medida de resolução do BES, um banco sistémico”, diz Faria de Oliveira, sobre a venda do Novo Banco ao Lone Star. Ainda assim, “a solução encontrada é um mal menor. É um mal menor e um grande fardo para o sistema bancário”, frisa.

Faria de Oliveira admite que as condições da venda implicam um “eventual aumento” da exposição do Fundo de Resolução ao Novo Banco, dos atuais 4,9 mil milhões até aos 9 mil milhões de euros e avisa que isto pode fazer com que seja necessário “prorrogar o horizonte temporal” do pagamento do empréstimo do Estado ao Fundo.

"Não, não houve perdão de dívida nenhum. Os bancos são o responsável último pelo montante definido em relação à resolução quer do BES, quer do BANIF.”

Faria de Oliveira

Presidente da Associação Portuguesa de Bancos

Seja como for, recusa que o alargamento dos prazos para o pagamento por parte dos bancos ao fundo tenha constituído um perdão de dívida, como argumenta o PSD. “Não, não houve perdão de dívida nenhum. Os bancos são o responsável último pelo montante definido em relação à resolução quer do BES, quer do BANIF. As condições de cumprimento, através das contribuições que os bancos vão fazendo é que são outras”, diz Faria de Oliveira.

O presidente da APB acrescenta que não tinha “nada contra a nacionalização” do Novo Banco, mas lembra que segundo o primeiro-ministro António Costa os custos “eram superiores”. Além disso, Faria de Oliveira chama a atenção para uma “questão política de fundo”, argumentando que “uma nacionalização neste momento de uma instituição bancária, no contexto em que vamos vivendo em termos políticos, podia ser muito mal entendida pelos mercados e penalizar fortemente o país”. Ou seja, para o banqueiro esta “era uma solução possível”, mas reconhece que podia ser penalizadora “em termos de imagem.”

"Uma nacionalização neste momento de uma instituição bancária, no contexto em que vamos vivendo em termos políticos, podia ser muito mal entendida pelos mercados e penalizar fortemente o país.”

Faria de Oliveira

Presidente da Associação Portuguesa de Bancos

Faria de Oliveira reconhece que a banca teve um fardo pesado para Portugal, mas considera um “exagero” atribuir tudo a questões de má gestão. “Em Portugal, o total das ajudas do Estado ao sistema bancário português foi de treze mil milhões de euros”, contabiliza o banqueiro. “Cinco estão recuperados, foram pagos pelo sistema”, nota, por isso, “aquilo que se pode designar por custos para o Estado e, portanto, para os contribuintes, são 8 bis, cerca de 5% do produto interno bruto“, contabiliza.

Na entrevista, Faria de Oliveira revela-se pouco confiante na criação de um veículo nacional para lidar com o crédito malparado da banca e aposta mais numa solução europeia para o problema. Entretanto, veria com bons olhos a criação de uma plataforma que pudesse dinamizar o mercado da compra de crédito malparado.

 

 

 

 

 

 

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