Equipas multidisciplinares vieram para “melhorar” resposta aos clientes

A necessidade de prestar ao cliente um serviço integrado e completo é o principal motivo que leva os escritórios de advogados a formarem equipas multidisciplinares.

É cada vez mais frequente os escritórios de advogados constituírem equipas multidisciplinares para determinados casos e operações. Este cruzamento de áreas acaba por ser essencial para a partilha de conhecimentos entre advogados, que são agrupados temporariamente numa “missão”.

Os três escritórios contactados pela Advocatus – Abreu Advogados, Sérvulo & Associados e TELLES – explicaram que costumam criar equipas multidisciplinares, quando se justifica, e partilharam quais são as vantagens e desvantagens destas.

O trabalho que desenvolvemos na TELLES é propício à constituição de equipas multidisciplinares. Equipas multidisciplinares são, portanto, muito recorrentes no nosso trabalho e, consequentemente, na nossa relação com os clientes”, sublinhou André Gonçalves, sócio coordenador da área de mobilidade internacional e vistos da TELLES.

André Gonçalves, sócio coordenador da área de mobilidade internacional e vistos da TELLES.
André Gonçalves, sócio coordenador da área de mobilidade internacional e vistos da TELLES

O advogado explicou que, em cada operação, é designado um sócio ou advogado com “elevada senioridade” para coordenar os trabalhos e que fica ainda responsável pela constituição da equipa multidisciplinar. Na hora de selecionar quem vai compor a equipa vários são os fatores a considerar: as áreas jurídicas necessárias, a complexidade do trabalho e consequente definição da senioridade da equipa, e a disponibilidade de tempo dos colegas, para responder aos timings de execução da operação em causa.

André Gonçalves explicou ainda que no escritório criaram uma nova área de prática autónoma, a de “Mobilidade Internacional e Vistos”, que presta assessoria jurídica a clientes particulares e empresas, na deslocação de famílias/trabalhadores para Portugal e de Portugal para o exterior. “Ora, em razão da matéria em causa, sabemos que esta área de prática necessita recorrentemente do apoio de outras áreas conexas, em concreto, o fiscal, imobiliário e laboral”, disse.

Assim, decidiram desde logo constituir uma equipa multidisciplinar pré-definida, com advogados das áreas de fiscal, imobiliário e laboral, que no âmbito da sua área de prática desenvolverão competências particulares no apoio a matérias de mobilidade de pessoas e trabalhadores.


Também na Sérvulo o trabalho em equipa é “essencial” à prestação de um serviço de qualidade aos clientes e, por isso, sempre que têm em “mãos” um projeto que abranja várias vertentes do direito organizam uma equipa que prestará os serviços aos clientes com base nas necessidades e especificidades de cada projeto.

“Existe um coordenador de projeto, que tem a capacidade de identificar as várias necessidades e a quem cabe a visão transversal e de harmonização das várias vertentes jurídicas inerentes ao projeto. Cabe ao líder do projeto, a cada momento, reforçar a equipa com os advogados das áreas que venham a posteriori, em resultado da evolução do projeto, a revelar-se necessários”, revelou Sofia Carreiro, sócia e membro da comissão executiva da Sérvulo.

A sócia sublinhou também que a ligação com os diferentes assessores do cliente, em áreas como a financeira, contabilística ou ambiental, é assegurada pelo advogado que coordena o projeto, uma vez que é o “elo entre os restantes assessores e a equipa legal”. “A esse advogado caberá, ainda, organizar o trabalho a produzir e ordenar os contributos das várias áreas de modo que o cliente receba o trabalho final harmonizado e adaptado às suas necessidades”, acrescentou.

Inês Sequeira Mendes, managing partner da Abreu, em entrevista ao ECO/Advocatus - 21SET21
Inês Sequeira Mendes, managing partner da Abreu AdvogadosHugo Amaral/ECO

Confiante de que as equipas multidisciplinares oferecem soluções “mais completas” e “adaptadas” às necessidades de cada cliente, Inês Sequeira Mendes, managing partner da Abreu Advogados, assegurou que têm em conta a experiência e o conhecimento técnico dos advogados que indicam para determinados casos de forma a darem uma resposta “mais completa” às necessidades de cada cliente.

Formamos equipas compostas por quem tenha capacidades tão elevadas quanto complementares. Para isso, a Abreu fez uma aposta clara no desenvolvimento e na gestão do conhecimento, com apoio do nosso departamento de Knowledge Management, que garante um trabalho de rigor, continuidade, e inovação no acompanhamento, preparação e apresentação de soluções e respostas aos desafios que nos são colocados”, explicou.

Inês Sequeira Mendes destacou o trabalho desenvolvido pelo Instituto do Conhecimento (IdC), que segundo a própria é “um dos primeiros centros de conhecimento incubados numa sociedade de advogados”, e que tem promovido iniciativas internas e externas para o desenvolvimento do Direito e da prática da advocacia. “O dinamismo desenvolvido pelo IdC tem permitido às nossas equipas uma ligação constante ao conhecimento mais recente e às tendências mais atuais em áreas como a tecnologia, a sustentabilidade e os assuntos europeus, assegurando a disseminação da informação, a partilha do saber e a promoção da inovação, absolutamente essenciais para uma economia em transição e para os seus setores-chave”, acrescentou.

Foco no cliente

A necessidade de prestar ao cliente um serviço integrado e completo é o principal motivo que leva os escritórios a formarem equipas multidisciplinares. Só assim é possível tomar decisões “coerentes” e “integradas”, tendo uma visão transversal dos temas.

“A constituição de uma equipa de profissionais de diferentes áreas permite que cada profissional contribua com o seu expertise específico para o grupo, o que possibilita uma abordagem mais abrangente e completa para atender às necessidades dos clientes, bem como a prestação de um serviço mais especializado e eficiente”, sublinhou Sofia Carreiro.

Para André Gonçalves, o contexto de crescente especialização das competências jurídicas dos advogados também promove a constituição de equipas multidisciplinares. “Importa ainda destacar que equipas multidisciplinares promovem soluções inovadoras. É fácil perceber que a partilha de informação e conhecimento entre advogados de áreas jurídicas distintas fomenta a inovação e soluções de valor acrescentado”, defendeu o sócio.

Questionados se também os clientes pedem ou sugerem equipas multidisciplinares, as opiniões dividem-se entre os escritórios. Se na TELLES sim, principalmente os clientes internacionais, na Abreu e Sérvulo acreditam que o principal interesse do cliente é um bom serviço.

“Destacamos o exemplo clássico associado à necessidade de alocar uma equipa multidisciplinar a uma determinada operação, que será a constituição em Portugal de uma sociedade estrangeira, onde imediatamente identificamos necessidade de apoio jurídico em diversas áreas do direito, como sejam, societário, fiscal, laboral, regulatório – dependendo da atividade – e imobiliário”, exemplificou André Gonçalves.

Mas para Inês Sequeira Mendes o interesse do cliente está na procura de “soluções eficazes” e “sustentáveis” para as suas iniciativas e desafios. Segundo a managing partner da Abreu, os clientes confiam na sua capacidade de compreender e antecipar o trabalho que será necessário realizar.

“As equipas multidisciplinares respondem de forma mais completa e coerente aos desafios e tendem a ir ao encontro do objetivo final do cliente: a solução mais sólida e rápida para o seu assunto. Não as construímos sozinhos: trabalhamos em interação próxima com cada um dos nossos clientes. Propomos-lhes os nossos serviços ao mesmo tempo que apresentamos a equipa que acreditamos ser a melhor para lhes prestar o melhor serviço”, notou a líder.

As duas “faces” da moeda

Rapidez, eficiência e consolidação de conhecimentos por parte dos advogados são algumas das vantagens das equipas multidisciplinares apontadas pelos escritórios.

“Existem vantagens de especialização, rapidez, aumento da eficiência e a prestação de um serviço mais completo. Torna-se possível aos diversos profissionais, oferecer o seu contributo na sua respetiva área de atuação, em prol da resolução dos problemas dos clientes”, enumerou Sofia Carreiro.

Sofia Carreiro, sócia da Sérvulo

Para Inês Sequeira Mendes as vantagens das equipas multidisciplinares podem ser percecionadas de duas perspetivas: do cliente e dos advogados. Segundo a líder, na visão do cliente, a principal vantagem é a “saber que conta com os advogados melhor preparados para dar resposta às questões técnica e práticas próprias de cada área de prática e setor, mais aptos para compreender os seus problemas e mais habituados à “linguagem” e especificidades da sua atividade”.

“Para os nossos advogados, a experiência acumulada por via das respetivas áreas prática predominantes e a atividade em setores determinados, permite-lhes ir aprofundando e consolidando conhecimentos específicos, fomentando o sentido crítico e uma maior capacidade de resposta. Procuramos que da complementaridade das nossas equipas resulte partilha de conhecimento e estreitamento de relações entre os advogados que as compõem de modo a agilizar o modo como trabalham e a potenciar os resultados do trabalho conjunto que desenvolvem”, acrescentou.

Já para André Gonçalves, as equipas multidisciplinares asseguram know-how elevado, que se traduz numa elevada qualidade. “Há também que destacar o incremento da eficácia e menor tempo despendido na realização do trabalho, o que, consequentemente, se reflete no valor dos honorários cobrados”, sublinhou.

O sócio da TELLES destacou ainda que esta solução de trabalho tende a reforçar o espírito de equipa do escritório e a coesão interna.

Apesar de todos os benefícios e ganhos, tanto para os clientes como para os advogados, existe o outro lado da moeda, o lado negativo. Ainda assim, André Gonçalves não encara como desvantagens, mas antes como “desafios”.

“O principal desafio será a necessidade de coordenação. É fundamental que todas as equipas estejam informadas e alinhadas com o trabalho e timings definidos para a execução da operação. Cabe a toda a equipa, mas em particular ao advogado coordenador da operação, potenciar a informação e comunicação entre as diversas equipas jurídicas envolvidas na operação, assegurando um desfecho final positivo, que, regra geral, se traduz num trabalho de qualidade, entregue em tempo ao cliente”, disse.

Posição partilhada pela sócia da Sérvulo que considera que as desvantagens das equipas multidisciplinares estão relacionadas com a possível dispersão na abordagem dos temas ou possível acréscimo de morosidade na resposta ao cliente em virtude da dimensão das equipas formadas para acompanhar cada projeto.

“As desvantagens apontadas são facilmente ultrapassáveis através da coordenação da equipa. Caberá ao líder de cada projeto orientar a equipa a cada momento, não deixando que temas meramente acessórios assumam a relevância que não devem ter e caber-lhe-á também controlar a extensão de cada contributo de modo que os mesmos se relevam a final adequados e homogéneos”, considerou Sofia Carreiro.

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