Salários do privado estão a crescer mais do que na Função Pública

Salário médio na Função Pública teve subida homóloga de 5,5% para 1.834 euros. Já o ordenado médio do privado cresceu 6,3% para 1.364 euros. Privado paga menos, mas aí ordenados estão a subir mais.

Os salários dos funcionários públicos ainda são, em média, mais elevados do que os dos trabalhadores do privado, mas estão a crescer menos do que estes últimos. E estão a ser mais afetados pela inflação. Para 2024, a Concertação Social fixou um referencial de 5% para os aumentos dos ordenados do privado. Já no público, os vencimentos subirão, em média, 3,8%.

De acordo com os dados publicados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), em setembro, o salário total médio por trabalhador das Administrações Públicas subiu 5,5% em termos homólogos, para 1.834 euros.

Se olharmos só para a componente regular (que exclui o subsídio de Natal e de férias e, portanto, tem um comportamento menos sazonal), o aumento foi de 5,9% para 1.613 euros. Já a componente base cresceu 6,2% para 1.612 eros.

Nos três casos, as subidas são, contudo, inferiores aos aumentos médios registados para a globalidade do mercado de trabalho. Tal é explicado pelo facto de os ordenados do privado estarem a registar aumentos bem mais expressivos.

É que, se no Estado, o salário total médio cresceu, como referido, 5,5% em setembro, no privado o aumento homólogo foi de 6,3% para 1.364 euros. E a componente regular cresceu 6,7%, enquanto a componente base subiu 7,1%, valores que comparam com os tais 5,9% e 6,2%, respetivamente, da Administração Pública.

Aliás, segundo os dados consultados pelo ECO, pelo menos nos últimos 12 meses o salário médio do privado cresceu sempre mais, em termos relativos, do que os dos funcionários públicos.

Ainda assim, quem trabalha na Função Pública continua a ganhar mais, em média, do que em trabalha no privado [ver gráfico abaixo].

Salário médio nas AP é de 1.834 euros contra 1.364 euros no privado

Fonte: INE

A justificar esse cenário estão, no entender do gabinete de estatísticas, as diferenças no tipo de trabalho realizado, a composição etária (trabalhadores mais velhos têm, regra geral, mais experiência — e a Função Pública tem os quadros notoriamente envelhecidos) e as qualificações dos trabalhadores.

A propósito, enquanto 55,3% dos trabalhadores da Administração Pública têm o ensino superior, só 24,9% dos trabalhadores do privado contam com essas habilitações.

Em contraste, 26,7% dos trabalhadores do Estado completaram o ensino secundário ou pós secundário, mas esse nível de qualificações corresponde a 32,3% dos trabalhadores do privado. Mais, 42,7% dos trabalhadores do setor privado têm um nível de escolaridade correspondente, no máximo, ao terceiro ciclo. No Estado, só 18% estão nessa situação.

Função Pública mais castigada pela inflação

Apresentação das novas medidas do Governo para mitigar o aumento do custo de vida - 24MAR23

Os dados disponibilizados esta semana pelo INE dão conta também que, após vários meses de quebras reais, os salários dos trabalhadores já estão de volta aos ganhos, isto é, a inflação ainda pesa na carteira dos portugueses, mas já não está a fazer mirrar o poder de compra.

No conjunto do mercado de trabalho, o aumento real do salário médio no trimestre terminado em setembro foi 2,4%. Mas também aqui o privado divergiu do verificado nas Administrações Públicas.

Ora, no Estado, a remuneração total média, a componente regular e a componente base crescerem, em termos reais, 2%, 2,3% e 2,6%, respetivamente, em setembro. Já no privado, as subidas foram as seguintes: 2,8%, 3,2% e 3,6%, respetivamente.

Tal significa que, apesar de ter abrandado, a inflação continua a absorver uma parte relevante dos aumentos salariais tanto no privado como no público, mas os funcionários públicos estão a ser mais castigados.

Aliás, assim tem sido desde o início da recuperação pós pandemia. De acordo com os dados consultados pelo ECO, o salário médio dos funcionários públicos começou a cair em termos reais em junho de 2021 e manteve essa tendência, mês após mês, até maio deste ano.

Em comparação, o ordenado médio dos trabalhadores do privado começou a recuar em termos reais em janeiro de 2022, mas voltou aos ganhos em fevereiro deste ano.

Além disso, enquanto a quebra real máxima registada nos últimos anos pelos funcionários públicos foi de 6,2% (em novembro e dezembro de 2022), no privado o maior recuo foi de 3,9% (em julho de 2022).

Já quanto ao próximo ano, na Concertação Social, três das quatro confederações patronais, a UGT e o Governo assinaram um acordo que fixa um referencial de 5% para o aumento dos salários do privado. E apesar do Executivo estar à beira do fim, esse acordo promete resistir, conforme já escreveu o ECO.

No Estado, por outro lado, os aumentos acordados variam entre 3% (para os salários mais elevados) e 6,84% (para os ordenados mais baixos). Contas feitas, a subida média será de 3,8%, de acordo com o Ministério da Presidência.

Tanto no privado como no público, os salários têm sido um motivo de luta por parte dos trabalhadores e várias têm sido as greves marcadas em prol da sua valorização. Isto já que Portugal compara mal com a Europa. Apesar do acordo celebrado em Concertação Social para melhorar os rendimentos, os portugueses continuam a receber significativamente que os pares do Velho Continente.

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