Programa de Recapitalização Estratégica do Banco de Fomento perde mais quatro empresas
Fitness Up Group, Qualhouse, Travel Store e Riopele saíram da lista apesar de já terem as suas operações de recapitalização aprovadas, com montantes entre 14 milhões e 243 mil euros.
O Programa de Recapitalização Estratégica do Banco Português de Fomento teve quatro baixas. Na mais recente atualização da listagem de empresas apoiadas é possível perceber que três empresas contratualizaram a operação de recapitalização, mas quatro, que já tinham recebido luz verde desapareceram da lista. Desistências e agravamento das condições estão na origem da saída, apurou o ECO.
O Banco de Fomento atualizou a lista de beneficiários finais do Programa de Recapitalização Estratégica e o Fitness Up Group, a Qualhouse; a Travel Store e a Riopele saíram da lista apesar de já terem as suas operações de recapitalização aprovadas, que oscilavam entre 14 milhões e 243 mil euros. A Riopele era o segundo maior investimento deste programa a seguir aos 35 milhões de euros da Efacec.
A dona da cadeia de ginásios Fitness Up simplesmente desistiu da operação. Em causa estava uma recapitalização de 8,34 milhões de euros, dos quais, 5,8 milhões eram assegurados pelo Fundo de Capitalização e Resiliência (FdCR), lançado no contexto do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). “A operação demorou tanto tempo que deixou de fazer sentido”, explicou ao ECO Hélder Ferreira. O CEO do Fitness Up Group, uma das primeiras empresas que viram a sua operação de recapitalização aprovada no âmbito da janela A deste programa do BPF, sublinhou ainda que “as condições também deixaram de fazer sentido”. “Empresas como a nossa com acesso à banca comercial não têm necessidade de recorrer ao Banco de Fomento com estas condições”, acrescentou o responsável.
Também a Qualhouse, uma distribuidora de produtos alimentares gourmet, desistiu da operação. “O objetivo era aumentar os capitais próprios em função das nossas necessidades”, explicou ao ECO Jorge Reis Paula, o CEO da Qualhouse, que trabalha com o canal Horeca (hotéis, restaurantes e catering), retalho e outros (retalho especializado e indústria alimentar). Mas com o passar do tempo – a empresa já tinha a operação aprovada pelo menos desde fevereiro – a recapitalização “deixou de ser útil”. “Decidimos adiar a recapitalização”, acrescentou o responsável, acrescentando que vão “ver como as coisas evoluem” e admitindo voltar a recorrer ao Banco de Fomento para este tipo de operação. Em causa estava uma operação de 243,49 mil euros, que contava com uma participação de 225,22 mil euros do FdCR. Uma posição diferente do Fitness Up Group que “não vislumbra, no curto médio prazo, a necessidade de aumentar o capital”, disse Hélder Ferreira.
Mas nem todas as empresas desistiram. O ECO sabe que há quem ainda esteja a negociar as condições, já que estas foram alteradas entre o momento da aprovação e da contratualização, nomeadamente com um agravamento dos spreads, o que torna a operação com o banco promocional equipada aos preços praticados pela banca comercial. “O Banco de Fomento ao fazer isto está a impulsionar a banca comercial a aumentar as taxas”, desabafou um empresário que preferiu não ser identificado.
A saída da lista das operações pode decorrer também do “cancelamento feito pelo FdCR decorrente do término da validade das aprovações (por exemplo, porque o máximo de 120 dias de validade se esgotou; porque as condições do plano de negócios, tidas em consideração na decisão de investimento, foram alteradas; entre outras)”, explicou fonte oficial do Banco de Fomento, já depois deste artigo ter sido publicado. Neste caso, “as empresas podem conduzir uma nova candidatura, caso no futuro assim entendam”, acrescentou a mesma fonte.
Com 16 empresas eleitas para o Programa de Recapitalização Estratégica, estão já comprometidos 99,31 milhões de euros do Fundo de Capitalização e Resiliência. Mas, em setembro, o Bano de Fomento anunciou que tinha aprovado 956,5 milhões de euros em operações de financiamento, ou seja, 74% da dotação do Fundo. As quatro empresas que saíram da lista tinham alocados 16,81 milhões de euros deste fundo.
Na atualização feita em novembro, é possível perceber também que a Valérius, a empresa têxtil responsável pela revitalização da Dielmar, já contratualizou a sua recapitalização de 9,9 milhões de euros (6,93 milhões do FdCR); assim como as carpintarias LBM (3,5 milhões de reforço do capital social com um apoio de 2,45 milhões) e a Bettery, uma empresa de nutrição e suplementos alimentares de Braga, que fechou um contrato de dois milhões de euros (1,4 milhões do FdCR).
Desistências não são inéditas
O Programa de Recapitalização Estratégica inicialmente aprovou as candidaturas de 12 empresas (a 30 de junho de 2022) e a 21 de outubro desse ano foram assinados os primeiros contratos. Estes investimentos encaixaram na janela B do programa cujos financiamentos, para reforçar capital e a solvência de empresas viáveis, foram feitos no âmbito do Quadro Temporário de Auxílio Estatal.
Esta fase do programa ficou marcada pela desistência da Pluris de Mário Ferreira do apoio que consumia mais de metade da dotação (40 milhões) destinada a estas empresas – o empresário optou por vender ativos para recapitalizar a empresa devido à pressão mediática em torno da operação. Também a Orbitur (1,95 milhões) desistiu perante a “evolução bastante favorável da sua atividade” nesse verão.
As verbas libertadas transitaram para a janela A, cujos prazos para investimento foram dilatados para 31 de dezembro de 2023, após várias prorrogações que se prendem com os atrasos que o programa tem sofrido. Em causa está uma dotação de 200 milhões de euros, um corte para metade face ao inicialmente previsto.
Mas na própria janela A já houve desistências como a Solana Fruits que, libertou 2,35 milhões de euros do FdCR. A “Solana Fruits SGPS SA alterou a sua composição acionista no final do ano passado, não existindo da atual estrutura interesse em dar continuidade ao processo”, explicou na altura ao ECO, Nuno Pereira, o CEO da empresa.
Este programa sendo financiado pelo PRR tem prazos apertados de investimento e por isso o Banco de Fomento celebrou protocolos com o BPI, Bankinter, Caixa Geral de Depósitos, Novo Banco, Santander Totta e Millennium BCP para tentar acelerar a execução e fazer chegar fundos às empresas.
Nota: Artigo atualizado dia 30 de novembro com as declarações de fonte oficial do Banco de Fomento.
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