Filial portuguesa da L’Oréal “é das que exporta mais talento”, revela diretora de relações humanas

Ao contrário de outras empresas, L'Oréal Portugal garante que não estar sentir dificuldades em recrutar profissionais e adianta que até exporta talento para outras filiais. Inovação ajuda a atrair.

A escassez de talento tornou-se um tema incontornável no mercado de trabalho português. Mas nem todos os empregadores estão a senti-la. Em entrevista ao ECO, a diretora de relações humanas do ramo português da gigante L’Oréal garante isso mesmo. Sara Silva adianta que o universo de candidatos continua fértil e revela que a L’Oréal Portugal é mesmo “das filiais mais exportadoras de talento para o mundo“.

E quais os segredos para o sucesso da atração e retenção de talento? A responsável aponta para a abertura para a inovação, salienta a importância da personalização dos benefícios, elogia o papel da diversidade e não esquece a relevância da flexibilidade.

Hoje os 300 trabalhadores da L’Oréal em Portugal praticam um regime híbrido entre o teletrabalho e o trabalho presencial e podem ajustar os seus horários às suas rotinas, realça Sara Silva. Resultado: em média, os trabalhadores ficam 12 anos no ramo português da L’Oréal, “o que já não é muito normal“, observa a responsável.

A componente de inovação e empreendedorismo é algo que nos tem ajudado a atrair e a reter talento.

A L’Oréal foi reconhecida numa lista Fast Company como um dos 100 melhores locais para trabalhar para inovadores. Como é trabalhar hoje na L’Oréal, em particular em Portugal?

Estou cá há quase 25 anos. Comparo-o muitas vezes a uma viagem, na qual todos os dias encontramos desafios novos e a possibilidade de sermos nós próprios a criar a solução para esses problemas que aparecem.

Quanto a essa abertura para inovação, que papel é que tem na atração e até na retenção de trabalhadores na empresa?

Sou exemplo disso, mas há muitos casos como eu. Em 25 anos, já trabalhei em dez marcas dentro do grupo. Isso permite-nos inovar e ter um olhar fresco e crítico. Mudamos no conforto de estarmos na mesma empresa, mas com um olhar de desafio para a novidade. É possível crescer na L’Oréal, mudar de departamento, de marca ou até de país. Outro aspeto que acho importante na retenção [de talento] é o nosso propósito. Os valores da diversidade e da inclusão são algo que os colaboradores que cá estão valorizam muito e sabemos que os candidatos também procuram. Estes valores são o nosso ADN e são a razão pela qual conseguimos continuar a ser atrativos em Portugal. Também toda a componente de inovação e empreendedorismo é algo que nos tem ajudado a atrair e a reter.

Não têm sentido escassez de talento como outras empresas?

Não. Com a criação do cluster da L’Oréal entre Portugal e Espanha e pelo facto da L’Oréal ser um mundo de oportunidades, até recrutamos em Portugal para outros países. Vamos às universidades em Portugal e mais de 60% dos candidatos que estão a fazer mestrados são estrangeiros. O facto de na L’Oréal poderem trabalhar em Portugal, mas também em Espanha, Itália ou Alemanha abre um mundo de oportunidades. Quem quer fazer uma carreira internacional, pode fazer na L’Oréal. Quem quer ficar numa filial e responder aos desafios, também pode fazê-lo aqui. Continuamos a sentir que existe uma boa pool de candidatos e o talento português continua a ser excelente quer em Portugal, quer no mundo.

Tenho 25 anos de L’Oréal. A média são 12 anos, o que já não é muito normal. É acima do mercado português.

Além da promoção da mobilidade interna e geográfica e da inovação, que outras chaves têm ajudado a L’Oréal a manter os trabalhadores?

O facto de olharmos para as pessoas como pessoas, e não apenas como colaboradores tem também ajudado na retenção, e na diferenciação face a outras companhias que existem no mercado. Temos o programa share and care – que este ano faz dez anos de implementação – e que é toda uma proposta em vários pilares, que nos ajuda a estar ao lado dos trabalhadores em termos de saúde, de segurança financeira, da forma de trabalhar. Isso ajuda-nos a olhar para os colaboradores como pessoas. Essa personalização de benefícios é algo que nos tem ajudado muito. Temos também uma cultura organizacional muito forte. Tenho 25 anos de L’Oréal. A média são 12 anos, o que já não é muito normal. É acima do mercado português.

Os estudos mostram que os trabalhadores valorizam cada vez mais a flexibilidade. Tem sido essa a vossa experiência?

Sim, a flexibilidade no trabalho é uma das medidas do share and care. Somos uma empresa que, acima de tudo, confia nos colaboradores. Por exemplo, temos três dias de trabalho na sede e dois dias em casa. Temos uma flexibilidade de horário para gerir entradas e saídas, de acordo também com a rotina dos colaboradores. Temos a possibilidade de trabalhar durante a semana mais horas para na sexta-feira à tarde não trabalhar. Sinto-me uma privilegiada por poder implementar estas medidas.

Temos cerca de 30 estágios na L’Oréal com a duração de um ano. É a nossa principal fonte de recrutamento.

E têm planos para recrutar em 2024?

Temos. Temos uma fonte de recrutamento muito forte, que é o facto de termos muita mobilidade interna. Quando temos uma vaga aberta, a primeira coisa que fazemos é abrir a vaga internamente. Temos uma plataforma – que agora até é europeia –, na qual os colaboradores podem dizer a que vaga querem candidatar-se. É isso que privilegiamos, a mobilidade interna. Nesse portal, posso também referenciar alguém que faça sentido para aquela vaga. Além disso, vamos continuar a ter programas de estágios. Temos cerca de 30 estágios na L’Oréal com a duração de um ano. É a nossa principal fonte de recrutamento. Mas também abrimos algumas vagas para o mercado.

Falemos sobre os salários. Que retrato faz dos vencimentos que a L’Oréal pratica?

Temos uma política em que olhamos para o mercado, fazemos a comparação para cada função e posicionamo-nos acima da mediana para cada função. Trabalhamos sempre com base no mérito. Significa que aplicamos os aumentos salariais com base na performance e potencial que essa pessoa teve durante o ano. Estando num país de salários baixos, olhamos sempre para o total cash. Não é só o salário em si. São todas as componentes que recebemos por estarmos na L’Oréal. Quando faço uma proposta salarial, tenho de falar no programa share and care, por exemplo. Ter um seguro bom ou ter um apoio para comprar os livros do filho não é salário, mas entra na equação. Nisso estamos acima do mercado.

Sente que os benefícios têm conquistado cada vez mais peso no momento de o trabalhador escolher um emprego?

Seguramente. Quando faço entrevistas de recrutamento, o tema da flexibilidade é constante. Ou seja, perceber exatamente como é a política de flexibilidade da empresa. Curiosamente, é cada vez maior a valorização do modelo híbrido, e não 100% remoto. Houve uma altura em que as pessoas, se pudessem trabalhar 100% em casa, adoravam. Agora sinto que há o reconhecimento do valor do modelo híbrido. Outro tema são os benefícios, além do salário. Outro são as oportunidades de carreira. Quero continuar a ser desafiada e a aprender. O que é possível? Temos um mundo de oportunidades para carreiras possíveis na L’Oréal.

Somos 300 pessoas em Portugal. Temos o desafio de estarmos próximos de todos e trabalhar o crescimento de cada um, bem como a sua empregabilidade, dentro ou fora da L’Oréal.

Tudo somado. Qual é o perfil médio do trabalhador da L’Oréal?

Temos uma equipa muito diversa. Em termos de idade média, estamos nos 39 anos. Fizemos recrutamentos recentemente para profissionais com mais de 50 anos, mas temos também vagas para estagiários. Às vezes evitamos falar da média, porque valorizamos muito a diferença que cada um traz para a organização, em termos de perfil.

Qual é o maior desafio, neste momento, na gestão de recursos humanos?

São muitos os desafios. O maior é a personalização e olharmos para os colaboradores como indivíduos. Somos 300 pessoas em Portugal. Temos o desafio de estarmos próximos de todos e trabalhar o crescimento de cada um, bem como a sua empregabilidade, dentro ou fora da L’Oréal.

E a maior oportunidade?

Temos uma oportunidade, que é termos uma filial com uma história incrível. Somos das filiais mais exportadoras de talento para o mundo. O fato de continuarmos a ser reconhecidos como uma das melhores empresas para trabalhar dá-nos força. As nossas lideranças são marcantes e contribuem para formar os nossos jovens. Isso também é uma oportunidade.

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