Supermercados apostam no negócio dos planos de saúde
Com a procura por cuidados de saúde no privado a aumentar, os súperes estão a apostar nos planos de saúde. Oferta permite descontos em consultas e exames e inclui área da saúde dentária ou mental.
“A saúde é, talvez, uma das maiores áreas de negócio a nível mundial. Diria que melhor negócio do que a saúde, só mesmo a indústria do armamento”. A frase foi proferida por Isabel Vaz, CEO da Luz Saúde, há vários anos e é cada vez mais atual. Depois das seguradoras, bancos e hospitais privados, também os supermercados apostam no negócio dos planos de saúde. Perante os constrangimentos no SNS, a procura está a aumentar, garantem.
Regra geral, ao subscrever um plano de saúde o cidadão tem acesso a descontos numa rede de prestação de cuidados de saúde, como consultas, videoconsultas ou exames, bem como a condições de financiamento especiais, mediante o pagamento de uma mensalidade, que pode ser mensal, trimestral, semestral ou anual. Além disso, e ao contrário dos seguros de saúde, não tem limite de idade, período de carência ou exclusão de doenças pré-existentes.
Planos de saúde e seguros de saúde são, por isso, dois produtos substancialmente distintos. Mas dado que há cada vez mais setores a comercializarem estes produtos e que as fronteiras entre ambos não estão bem delineadas — , podendo causar conflitos, nomeadamente na rescisão dos contratos — a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) compromete-se a apresentar um diploma para regular os planos de saúde até junho, tal como avançou o ECO.
No que toca ao setor do retalho alimentar, a Auchan lançou em janeiro três planos de saúde pagos mensalmente intitulados “Cuida”, “Cuida Plus” e “Cuida Premium”, que abrangem até seis beneficiários, que não precisam de ser familiares e que têm um período de fidelização de 1 ano. “O foco principal deste serviço é, não apenas a prestação de serviços médicos convencionais, mas também a possibilidade de dar acesso simples e ágil a consultas de saúde mental, como psicologia e psiquiatria, assim como nutrição”, explica, em resposta escrita ao ECO, Vera Fernandes, responsável pelo negócio Auchan Cuida. De notar que a área da saúde mental, a par da saúde oral, é uma das penalizadas em termos de recursos no SNS.
O plano de saúde “Auchan Cuida” é o mais básico e permite o acesso a videoconsultas de clínica geral ilimitadas, por 7,99 euros/mês, sendo que cada membro extra paga mais 5 euros/mês.
Mais completos são os planos “Cuida Plus” e “Cuida Premium”, que além das videoconsultas de clínica de clínica geral ilimitadas, incluem consultas ao domicílio, videoconsultas de saúde mental, videoconsultas de nutrição, um desconto na compra do kit médico — que inclui termómetro, oximómetro e medidor de tensão arterial (pode ficar por 70 euros ou 50 euros, dependendo do plano) — acompanhamento nutricional das compras em loja e/ou online (que pode ser de seis vezes por ano ou ilimitado, dependendo do plano escolhido) e acesso a eventos Auchan Live Saúde.
Além do custo (ver tabela), em linhas gerais, a diferença está no número de consultas e acessos a eventos que cada um dos dois produtos oferece. Para além disso, ao contrário dos restantes, o plano “Cuida Premium” inclui uma videoconsulta de medicina do viajante por ano, bem como a possibilidade de aceder a programas das Jornadas de Saúde Digitais, tais como, perda de peso, cessação tabágica, saúde mental, hipertensão arterial, e diabetes.
A marca de insígnia francesa não adianta, no entanto, o número de prestadores com os quais tem acordo, referindo apenas que conta com o apoio da Knok “enquanto prestador de cuidados de saúde digitais e a sua equipa de profissionais de saúde e também com as nutricionistas Auchan para os acompanhamentos nutricionais nas compras”.
Já o Intermarché, através de uma parceria com a Saúde Prime, lançou em abril de 2022 dois planos de saúde distintos. O plano “Relaxa”, que é de subscrição gratuita para clientes com cartão Poupança Intermarché e é dirigido às áreas de saúde e bem-estar. Este produto permite descontos entre 5% e 64% em áreas como nutrição, ótica, estética, preparação do parto, psicologia, medicina comportamental/ adição, assistência sénior, apoio domiciliário, enfermagem, terapia da fala, terapia ocupacional, cessação tabágica, criopreservação de células estaminais, acupuntura, massagens, spa, entre outros.
Por outro lado, a marca dos grupo “Os Mosqueteiros” tem ainda o plano de saúde “Ideal Cuida +” que se assemelha mais com a generalidade dos planos de saúde disponibilizados pelos restantes retalhistas. Este plano pode ser utilizado numa rede “de mais de 42.600 prestadores” e dá acesso a descontos até 65% em consultas de clínica geral e especialidade, bem como até 50% de desconto nas idas às urgências, e a consultas de medicina dentária e de urgência gratuitas na Rede Médica Future Care.
Já no que toca a videoconsultas ou consultas em casa, há atendimento telefónico gratuito, desconto de cerca de 50% em videoconsultas programadas e desconto de cerca de 70% em consultas ao domicílio. Por um custo de até 9 euros/ mês, permite ainda 40% de desconto numa panóplia de exames como, eletrocardiogramas, endoscopia, ecografia, TAC, entre outros (ver tabela em cima). Tal como na Auchan, este plano pode ser usado “pelo agregado familiar” e tem um período de fidelização de um ano, mas o pagamento “pode ser anual, mensal, trimestral ou semestral”, adianta fonte oficial do grupo ao ECO.
“No momento da adesão, os clientes com Cartão Poupança recebem 8 euros em cartão e os clientes que pertencem a um dos programas Bebé, Famílias Numerosas e Geração recebem 10 euros em Cartão para utilizarem nas suas compras”, acrescentam.
Por sua vez, a pioneira do setor foi a Wells, marca especializada em saúde da Sonae, que lançou em 2016 o plano de saúde Keep Zero (anteriormente conhecido como Plano de Saúde da Wells). Este plano é gratuito e pode ser utilizado por toda a família”, não tem período de fidelização, mas só pode ser usado pelo clientes com Cartão Continente, sendo que atualmente “mais de 150 mil famílias por ano” podem beneficiar deste produto, realça Tiago Torres, responsável pela KeepWells, em resposta escrita ao ECO.
Em linhas gerais, o plano de saúde do grupo Sonae assenta numa rede de parcerias da AdvanceCare, que “abrange 14.000 médicos e hospitais” e permite ter descontos em “medicina dentária, consultas, exames ou até cirurgias e parto”. Além disso, o cliente acumula ainda 10% em cartão Continente. A marca não revela, contudo, as percentagens de desconto, justificando que “há uma variabilidade muito grande entre prestadores e atos médicos”, mas adianta que “todos os preços por ato médico e prestador estão no site”.
Já em setembro de 2022, a KeepWells lançou três seguros de saúde: o Seguro Keep Simples, o Seguro Keep Mais e Seguro Keep Top, que custam, 9,50 euros/mês, 12,50 euros/mês e 25,50 euros/mês, respetivamente. Além dos serviços oferecidos e do custo, uma das grandes diferenças destes três produtos é que o facto de o “Keep Simples” não ter “exclusões nem limite de idade”. Já o “Keep Mais e o Keep Top só podem ser subscritos por pessoas com 65 anos ou menos e são excluídas as doenças pré- existentes”, afirma Tiago Torres.
De notar que o seguro de saúde cobre riscos relacionados com a prestação de cuidados de saúde, consoante as coberturas previstas nas condições dos contratos e com limites neles fixados. Na prática, com o seguro de saúde o subscritor transfere para uma seguradora a responsabilidade pelo pagamento, total ou parcial, de um conjunto de despesas médicas e como contrapartida paga um prémio de seguro que varia consoante as características da pessoa detentora do seguro.
Súperes registam aumento de adesões
Numa altura em que o SNS enfrenta constrangimentos, nomeadamente com longas listas de espera para consultas, e que há mais de 1,5 milhões de portugueses sem médico de família atribuído, a procura por planos de saúde e seguros de saúde tem aumentado. E os grupos ligados ao retalho têm sentido essa tendência. “Entre Seguros e Plano, a KeepWells chega a mais de 400.000 clientes“, destaca ao ECO Tiago Torres, antecipando que este ano esperam “duplicar as vendas”.
Já Vera Fernandes aponta, que, apesar de ainda estarem “numa fase de penetração” do mercado, “os primeiros números” dos planos Auchan “estão de acordo com as expectativas definidas”, pelo que “os resultados são encorajadores para o desenvolvimento deste novo negócio“. “Vários clientes já aderiram aos nossos planos e estamos a registar um crescimento constante no número de adesões”, corrobora ainda fonte oficial do Intermarché sem também adiantar números.
O ECO questionou ainda outros players do mercado que afastaram entrar neste negócio. A Mercadona adianta que esta área “não se encaixa” no seu modelo de negócio, reforçando que é “uma empresa de supermercados e esse é o seu foco”. Por sua vez, o Lidl diz que a sua “oferta de serviços aos clientes não é extensível a serviços de saúde, mediante qualquer parceria”.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Supermercados apostam no negócio dos planos de saúde
{{ noCommentsLabel }}