Salários até 150 mil euros. Que setores estão a oferecer melhores ordenados?

Empregadores sentem dificuldades sérias no recrutamento, o que está a fazer subir salários. Análise da Adecco mostra que posições mais bem pagas estão no setor legal, finanças e serviços partilhados.

O problema é comum a vários setores da economia portuguesa: os empregadores estão a enfrentar dificuldades sérias no recrutamento de novos trabalhadores e na retenção de quem já têm nas suas equipas. Em resultado, os salários têm crescido, sendo que o guia traçado pela empresa de recursos humanos Adecco mostra que é nos setores dos serviços partilhados, legal, hospitalidade e finanças que se encontram, neste momento, as posições com remunerações mais atrativas.

“Se a sua empresa tem encontrado dificuldades na atração e retenção de talento, saiba que não está sozinho. O panorama do recrutamento está a tornar-se cada vez mais desafiante e multifacetado. As empresas têm dificuldades em recrutar os talentos de que necessitam“, sublinha a Adecco no seu “Guia salarial”, ao qual o ECO teve acesso em primeira mão.

Questionado sobre o efeito dessa escassez de profissionais nas remunerações, Bernardo Samuel, diretor de recrutamento da referida empresa, declara que “não tem dúvidas” de que tal está a contribuir para o crescimento dos salários em Portugal, adiantando que a subida tem sido, pelo menos, de 4%, embora haja setores que superem essa valorização.

Em que setores se encontram, então, os melhores salários?

A Adecco estudou 15 áreas da economia portuguesa, do retalho à banca, e identificou o cargo de líder de centro de serviços partilhados (head of SSC) como aquele que tem associado um vencimento mais atrativo: atinge, no máximo, 154 mil euros anuais brutos em Lisboa. Já no Porto, o salário máximo para essa posição é de 100 mil euros.

“Os centros de serviços partilhados representam uma abordagem eficiente para centralizar e padronizar processos de suporte, como contabilidade, recursos humanos, compras, tecnologia da informação e serviços jurídicos, visando a otimização de custos, melhoria da eficiência operacional e automatização de processos, que geram melhorias e otimizações em larga escala”, explica a Adecco, que frisa que tem havido uma “procura elevada deste tipo de empresas em Portugal“, o que ajuda a explicar o destaque na tabela salarial.

Neste setor é valorizado o background académico, mas também o nível de senioridade, a experiência comprovada em ambientes internacionais e conhecimentos de outras línguas, como inglês, francês e espanhol.

Mas é um setor que tem também vindo a valorizar cada vez mais as soft skills, como o dinamismo e o espírito de equipa, salienta o guia que será publicado esta quinta-feira.

Setor legal é dos que paga melhores salários

Das posições analisadas, a que consegue o segundo melhor salário do mercado português é a de diretor jurídico ou legal manager, na área legal. Neste caso, a fasquia máxima está fixada em 150 mil euros anuais brutos em Lisboa (e 85 mil euros no Porto), como mostra a tabela abaixo.

Ainda no setor legal, também a posição de head of pratice (com mais de dez anos de agregação) está em destaque, com um vencimento que pode chegar a 140 mil euros anuais brutos em Lisboa (75 mil euros no Porto).

Sobre este setor, a Adecco observa que tem havido não só alterações internas (tecnológicas, por exemplo), mas também competitividade externa que estimula os escritórios tradicionais a inovar, apostando, nomeadamente, num modelo flexível de trabalho.

Destaca-se uma maior procura ao nível do recrutamento em áreas de Direito Público, Imobiliário, Contencioso e Fiscal, assim como em Direito Laboral e Societário“, detalha ainda o guia.

Já a completar o “top 5” das posições mais bem remuneradas aparece ainda o cargo de diretor de hotel (com um máximo de 126 mil euros anuais brutos em Lisboa e no Porto), de diretor financeiro (com um salário até 120 mil euros anuais brutos em Lisboa e até 100 mil euros no Porto) e de diretor comercial (com um máximo de 100 mil euros anuais brutos tanto na capital como na Invicta). Por outras palavras, também a hospitalidade, as finanças e as vendas estão em destaque.

Em comparação, na banca, a posição com o melhor salário é de corporate finance. Neste caso, o máximo é de 90 mil euros brutos anuais em Lisboa e 60 mil no Porto. No retalho, é o cargo de national retail manager que se destaca, embora não vá além de 58.800 euros anuais brutos em Lisboa e no Porto.

E na indústria é o cargo de diretor de qualidade aquele que consegue um salário mais atrativo, com um máximo de 65 mil euros anuais brutos em Lisboa e 63 mil euros anuais brutos no Porto. Já na construção, o melhor salário é o dos encarregados de obra (49 mil euros anuais brutos em Lisboa e 42 mil euros anuais brutos no Porto).

Tecnologias de informação também brilham

Um dos setores que mais tem sido impactado pela escassez de trabalhadores adequados é também um dos que paga melhores salários: as tecnologias de informação.

Entre as posições analisadas pela Adecco, os cargos de engenheiro de cloud e de consultor de SAP estão em destaque, com salários que chegam aos 90 mil euros em Lisboa anuais brutos e aos 80 mil no Porto.

Ao ECO, o diretor de recrutamento Bernardo Samuel explica que o setor tecnológico não só é dos que paga melhor como é daqueles onde, mesmo sem longas décadas de experiência, o vencimento pode ser mais atrativo. “Muitas vezes, temos perfis com cinco anos de experiência com expectativas de 50 mil euros“, adianta o responsável.

O guia confirma que os salários competitivos são essenciais para que as empresas neste setor consigam enfrentar os “desafios significativos no recrutamento e fidelização de talento”, mas não chegam: é preciso oferecer trabalho remoto, flexibilidade de horários e outros benefícios.

“A avaliação de um colaborador deixou de estar centrada nas competências técnicas, havendo uma crescente valorização de competências como: trabalho em equipa, autonomia, liderança, adaptação às necessidades específicas do cliente, entre outras”, acrescenta a Adecco.

De resto, Bernardo Samuel avisa que a disponibilização de benefícios extra salário (como seguro de saúde, rendimento variável anexado à performance, e flexibilidade) é cada vez mais valorizada no conjunto do mercado de trabalho.

Ghosting chega ao mercado de trabalho

O ghosting é o ato de “cortar a comunicação abruptamente sem explicação”, e também já chegou ao mundo do trabalho, mais precisamente aos processos de recrutamento.

De acordo com a Adecco, mais de seis em cada dez trabalhadores já foram alvo deste fenómeno por parte de um potencial empregador durante um processo de contratação. Ao ECO, Bernardo Samuel indica que tal pode ser explicado por algum receio e indefinição das empresas quanto ao seu futuro.

Mas há também empresas que são “vítimas”: um quarto dos candidatos afirma ter praticado ghosting a potenciais empregadores. “Do lado do candidato, acredito que tenha a ver com a quantidade de ofertas disponíveis”, salienta o referido responsável.

Outra tendência do mercado de trabalho é a continuação do trabalho mesmo depois da reforma. “O número de trabalhadores que se reformam e que depois reentram no mercado de trabalho está a aumentar discretamente. Sendo um fenómeno relativamente novo, o unretirement tem vindo a aumentar desde a pandemia de Covid-19“, assinala a Adecco.

A explicar este fenómeno estão os níveis elevados de inflação, a escassez de mão-de-obra, mas também, diz Bernardo Samuel, a vontade de continuarem a sentir-se “úteis e válidos”. “Temos visto cada vez mais as empresas a aceitarem perfis acima dos 50 anos. É uma tendência em Portugal. A idade ainda é um entrave, mas já há empresas a reconhecer mais-valias nestes profissionais, pela sua experiência e capacidade de resolver problemas“, remata o especialista em recrutamento.

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