Ver como crescem os shitake que come de vez em quando ou provar as primeiras framboesas do ano no produtor é tarefa possível. Esta startup quer que clientes e produtores se tratem por tu.
Ver coisas nascer e crescer pode ser tão espantoso quanto comovente. Foi a pensar nos curiosos que gostam de saber de onde vêm as batatas, como se apanham os shitake que cozinham para os amigos ou dos cuidados a ter para produzir caracóis que Estêvão Anacleto, 37 anos e engenheiro do ambiente, pensou em criar a Campónio.
A startup começou a ser desenhada em agosto de 2016 mas as primeiras experiências só arrancaram em março de 2017 “com o objetivo de divulgar o que é nacional, os produtores, a cultura e o património portugueses através de experiências autênticas com os verdadeiros protagonistas do campo”, explica o fundador, Estêvão Anacleto, em entrevista ao ECO.
Os primeiros passos foram dados, logo no verão do ano passado, depois de o projeto ter concorrido ao programa de incubação e aceleração da Startup Santarém e de ter vencido o Ribatejo Empreende. O prémio foi um dos motores financeiros que permitiu a Estêvão criar a empresa Farmer’s Experience em fevereiro e começar a desenvolver a plataforma da Campónio, assim como outros capitais próprios. Estêvão trabalhava também na área do turismo e foi muitas vezes questionado sobre a hipótese de levar pessoas a explorações agrícolas, tanto turistas como pessoas que iam às suas formações na área.
“O projeto surgiu porque começou a haver um grande interesse das pessoas em irem visitar as explorações, que ainda são um mundo muito fechado. Há muitos agricultores sem essa componente enraizada no trabalho e aquilo que estamos a querer fazer é tentar convencê-los a abrir as portas, a receber pessoas e a fazer experiências com elas. Queremos experiências autênticas, sempre diretamente com o agricultor. E, neste caso, o agricultor torna-se o interveniente principal”, esclarece. Desde forma, assim que o grupo de visitantes chega à exploração, a Campónio — que fornece a oferta de experiências, a marcação e o pagamento das experiências — sai de cena e é o agricultor que faz a experiência, que pode passar pela apresentação da exploração, workshop de cultivo, recolha ou colheita — conforme a exploração e a altura do ano — e uma degustação, um almoço na exploração com o próprio agricultor sempre com produtos que ele cultiva.
“Torna-se um ambiente familiar em que, além de mostrar como e o que produz, o produtor pode vender os produtos aos clientes e abrir ali um canal de pós-venda. Temos alguns restaurantes e chefs de cozinha que querem também conhecer os produtos, onde são cultivados”, assegura o fundador da startup.
Com um investimento de dez mil euros no desenvolvimento da plataforma — que “funciona como um booking de experiências de agricultores” — e em marketing, a Campónio tem já disponíveis dez experiências com produtores. Nesta primeira fase, são apenas da zona da Grande Lisboa mas, até ao fim do ano, Estêvão quer estender a oferta ao resto do país e com uma variedade de cerca de 50 experiências diferentes.
"O grande foco, a grande maioria das pessoas, querem conhecer como se produzem os cogumelos shitake que comem todos os dias, querem saber realmente como se produzem os alimentos.”
“Por enquanto estamos a uma hora, hora e meia de Lisboa. Estamos a apostar no turismo e a fazer alguns contactos com agências internacionais para fomentar mais essa vertente. Os nossos principais clientes pelo menos no início estão a ser pessoas de Lisboa, urbanas e portugueses”, sublinha o engenheiro, acrescentando que quer, até ao final do ano, chegar aos 100 clientes por mês. O perfil dos que mais procuram a plataforma? “Pessoas em busca de um programa diferente, interessados por tudo o que é a alimentação e a respeito dos produtos que consomem todos os dias. Temos agora uma componente mais de restauração, e temos pessoas que querem fazer projetos nalgumas áreas agrícolas e aproveitam estas experiências para poderem conhecer melhor o negócio”.
Dividir os ganhos
E se a ideia é abrir a porta das explorações a curiosos e torná-los parte do processo, o modelo de negócio acompanha o crescimento de ambas as dimensões. É que, por cada serviço prestado a partir das parcerias, ganham as duas partes. “Neste momento acabamos por ser um pouco agência, porque tratamos de tudo e organizamos do contacto ao transporte, até à exploração. Por isso, neste momento, cobramos 40% do valor. Idealmente, para que as coisas comecem a fluir, esse valor deverá descer para dar uma parcela maior aos nossos parceiros”, acrescenta Estêvão Anacleto.
Já o valor dos programas varia consoante a experiência. Os preços começam nos 25 euros, com uma prova de cerveja artesanal, e vão até aos 45 euros, com o programa de um passeio de barco pelo Tejo, desembarque no cais de uma exploração agrícola, passeio de trator e almoço com os donos do lugar com degustação dos produtos locais.
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