Estrada de Pedrógão só foi cortada depois das mortes
Nas respostas ao CDS-PP, o gabinete do primeiro-ministro reconhece também falhas no Siresp, mas considera-as de "menor relevância." Costa reafirma a confiança política em Constança Urbano de Sousa.
A estrada nacional 236-1, onde morreram 33 pessoas cercadas pelo fogo que devastou Pedrógão Grande, só foi cortada ao trânsito depois de terem sido conhecidas mortes. Na noite de 17 de junho, acabariam por morrer mais 14 pessoas em estradas e caminhos de acesso a esta mesma estrada. A informação foi revelada pelo gabinete do primeiro-ministro, nas respostas colocadas pelo grupo parlamentar do CDS-PP. Na missiva, reconhecem-se também falhas nas comunicações através do Siresp, embora consideradas de “menor relevância.” Costa segura a ministra da Administração Interna.
“Segundo a GNR, a estrada N236-1 esteve sempre aberta ao trânsito, até haver notícia dos trágicos e imprevisíveis acontecimentos ocorridos na mesma,” lê-se na resposta, publicada esta quinta-feira no site da Assembleia da República. “Só após este momento foi encerrado o acesso à N236-1,” acrescenta o documento.
O Governo adianta ainda que “de acordo com as informações fornecidas pela GNR, o número de vítimas na EN236-1 foi de 33 (30 num pequeno troço da via e 3 alguns quilómetros adiante).” As restantes 14 pessoas “terão falecido em estradas e caminhos de acesso à EN236-1, para a qual se dirigiriam em fuga do incêndio.”
Este é apenas um dos dados revelados pelo Executivo e que ajudarão a compreender melhor — e a apurar responsabilidades — pela tragédia de Pedrógão Grande. Nas respostas, o Governo assume que o Siresp falhou, mas considera as falhas “menor relevância, considerando a área e o horário em que ocorreram.”
“A falha verificada não foi nas estações base Siresp mas sim na rede de fibra ótica que interliga essas estações base, provocando o isolamento de cinco estações base com o resto da rede Siresp,” lê-se no documento. “Segundo os utilizadores registaram-se dificuldades de comunicação com recurso à rede Siresp, sobretudo na zona de Pedrógão Grande, onde estava instalado o Posto de Comando das Operações”, assume ainda o Executivo.
“A partir das 19h38, apenas os operacionais com os terminais afiliados na estação base de Pedrógão Grande conseguiam falar com o Posto de Comando via rede SIRESP”, adianta ainda. E o problema viria agravar-se: “O mesmo aconteceu para as restantes quatro Estações Base a partir do momento em que as mesmas entraram em modo LST [modo de comunicações locais].”
CDS: “Isto é muito pouco”
Assunção Cristas já reagiu às respostas do Governo. Numa conferência de imprensa ao final a tarde desta quinta-feira, a líder do CDS-PP mostrou-se insatisfeita com as justificações dadas pelo primeiro-ministro, nomeadamente no que toca à manutenção da confiança política na ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.
“Isto é muito pouco. É uma resposta muito pequena para aquilo que seria necessário”, referiu Assunção Cristas no Parlamento. “No nosso entender isto é pouco. Esperamos que o senhor primeiro-ministro volte para para justificar porque é que reitera a confiança política numa ministra que mostra tantas fragilidades”, reforçou.
E acrescentou ainda: “O CDS entende que há uma confirmação numa confiança pessoal e política na senhora ministra da Administração Interna, porém não há justificação para esta confiança política. A não resposta às perguntas 23 e 24 permitiriam justificar essa confiança.”
(Notícia atualizada às 17h31 com reação do CDS)
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