41% dos portugueses trabalham fora da área que estudaram

Mais de quatro em cada dez dos empregados em Portugal trabalham fora da área que estudaram, desencontro que é superior à média da OCDE. E cerca de 14% têm qualificações a mais para as suas funções.

O encaixe entre as competências e qualificações dos trabalhadores e os empregos disponíveis “é essencial” para que as economias “funcionem bem e sejam produtivas“. Mas uma fatia significativa dos adultos dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) trabalha fora da área que estudaram ou têm mesmo qualificações a mais (ou a menos) para as funções que exercem. Em Portugal, por exemplo, 41% dos empregados trabalham fora da sua área de estudos, mostra um novo estudo.

“Um bom casamento entre as competências e qualificações dos trabalhadores e os requeridos pelos empregos disponíveis é essencial para que as economias funcionem bem e sejam produtivas. [Mas] nos países da OCDE, há muitos trabalhadores desajustados“, sublinha a referida organização, no estudo “Do adults have the skills they need to thrive in a changing world?”, que foi publicado esta terça-feira.

A explicar esse desencontro estão, aponta a OCDE, não só ineficiências na colocação dos trabalhadores, mas também a incapacidade de atualizar as qualificações e competências face às mudanças estruturais em curso nas economias, como a transição digital e a transição verde.

No caso português, a OCDE destaca que “41% dos trabalhadores estão desajustados em termos de área de estudo, uma vez que o seu nível de qualificação mais elevado não é na área que é mais relevante para o seu trabalho“.

No conjunto dos 38 países que compõem essa organização, a média de desencontro entre o campo de estudos e o emprego é de 38%, como mostra o gráfico acima. Portugal encontra-se, portanto, numa situação mais grave que essa média.

Em comparação, na Finlândia, por exemplo, menos de 29% dos trabalhadores têm empregos fora da sua área de estudos, nos Países Baixos menos de 31% dos empregados estão nessa situação, e na Alemanha essa fatia ronda os 33%.

E esse desencontro tem um efeito visível na carteira dos trabalhadores. Em Portugal, o desencontro entre a área de estudos e o emprego significa ter um salário 6,1% mais baixo do que estar num posto de trabalho alinhado com o campo de estudos. Em média, um trabalhador dos países da OCDE perde 5,1% do ordenado por estar numa situação de desajustamento entre a área de estudos e o emprego.

14% dos portugueses têm qualificações a mais

O novo estudo da OCDE mostra também que, em Portugal, 14% dos adultos empregados têm qualificações a mais para os seus postos de trabalho, sendo que, na OCDE, a média é de 23%. Mas também há uma fatia de 14% dos adultos que têm qualificações a menos para os empregos que exercem, quando na OCDE a média é de 9%.

A estes dados somam-se um outro: 7% dos trabalhadores em Portugal relatam ter competências abaixo das requeridas para o seu emprego atual (a média da OCDE é de 10%). “Em Portugal, os trabalhadores dizem isto frequentemente porque precisam de melhorar as suas competências de utilização de computadores e de software, seguindo-se as competências de gestão de projeto e de organização”, explica a OCDE.

"Em Portugal, os trabalhadores dizem que têm competências a menos que as requeridas pelos empregos frequentemente porque precisam de melhorar as suas competências de utilização de computadores e de software.”

OCDE

Por outro lado, 25% dos trabalhadores portugueses confessam ter competências a mais para os empregos que exercem, o que compara com a média de 26% registada no conjunto da OCDE.

Portugueses têm menos competências do que a média

No novo estudo da OCDE, Portugal sai mal na fotografia das competências dos seus adultos. Tanto na literacia, como nas competências numéricas e na capacidade de resolução de problemas, os portugueses ficam abaixo da média dos 38 países.

No que diz respeito à literacia, 42% dos adultos ficam-se pelo nível um ou abaixo, o que significa que conseguem compreender apenas pequenos textos e listas organizadas ou, nos piores casos, apenas frases simples e curtas. Na OCDE, em média 26% dos adultos estão nessa situação.

Por outro lado, só 4% dos adultos portugueses estão no nível quatro ou cinco da literacia, o que significa que conseguem compreender textos longos e densos. Em média, na OCDE 12% dos adultos estão nestes dois níveis de literacia, como se vê no gráfico abaixo.

E nas competências numéricas, o retrato não melhora para Portugal: 40% dos adultos portugueses estão no nível um ou abaixo (conseguem fazer cálculos básicos, mas têm dificuldades quando as operações envolvem múltiplos passos) e só 7% estão no nível quatro e cinco (conseguem calcular taxas e rácios, interpretar gráficos complexos e avaliar estatísticas). Na OCDE, as fatias são de 25% e 14% dos adultos, respetivamente.

Quanto à resolução de problemas, 42% dos portugueses ficaram no nível um ou abaixo, contra 29% da média da OCDE. E só 2% dos adultos consegue perceber profundamente os problemas e adaptarem-se a mudanças inesperadas (nível quatro e cinco), contra 5% da média da OCDE.

Importa realçar que os adultos mais velhos (55 a 65 anos) registaram piores resultados dos que os mais jovens, fosso que pode refletir, observa a OCDE, “diferenças na qualidade e quantidade de educação e formação entre gerações“.

Ainda assim, é de destacar que os jovens portugueses (16 a 24 anos) registam piores resultados na literacia, competências numéricas e resolução de problemas do que a média da OCDE.

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