Consultora McKinsey considera que trabalhava para Domingues
Não havia contrato, mas a McKinsey confirma a versão do Governo de que trabalhava para Domingues, ainda que tenha sido a CGD a pagar a fatura. A consultora esteve presente em reuniões com Bruxelas.
A consultora McKinsey, que apoiou a elaboração do plano estratégico da Caixa Geral de Depósitos (CGD), considera que “a contraparte dos trabalhos” que realizou e o seu único interlocutor foi o ex-presidente do banco público, António Domingues. Durante as audições da segunda comissão de inquérito sobre a CGD, este foi um dos pontos de discussão, com o Governo a remeter a responsabilidade da contratação da consultora e de um escritório de advogados para Domingues.
Por seu lado, o anterior presidente da Caixa, embora admitindo as contratações, defendeu que só as fez porque o Governo o convidou para dirigir o processo de recapitalização da Caixa. “Não trabalharam para mim no sentido em que eu não precisaria deles se o Governo não me tivesse convidado para a recapitalização da Caixa”, afirmou na terça-feira António Domingues, admitindo, contudo, que não foi feito qualquer contrato que o referisse explicitamente.
Em resposta a perguntas formuladas pelos grupos parlamentares do PSD e do BE, a que a Lusa teve acesso, a consultora refere que foi contratada por António Domingues em abril do ano passado e que “de forma alguma” estaria acordado que seria a CGD a pagar os seus serviços (que ascenderam a 960 mil euros), como acabou por acontecer.
“Na perspetiva da McKinsey, a contraparte dos trabalhos em questão era o dr. António Domingues”, referem, confirmando que não foi realizado qualquer contrato. Quanto ao pagamento, a consultora diz que “reconhecida a importância crítica da colaboração, a McKinsey assumiu-a com plena consciência de que poderiam “não existir condições futuras para faturação parcial ou total dos seus honorários”.
O trabalho de assessoria da consultora incidiu no apoio à elaboração do plano estratégico da CGD. No âmbito deste trabalho, a McKinsey garante que apenas se reuniu com António Domingues e que só para a apresentação do plano teve contacto com a administração do banco público, já em setembro. Questionada se manteve reuniões com alguns representantes do Ministério das Finanças, a McKinsey disse ter participado em “algumas reuniões técnicas com a DGComp” (Direção Geral da Concorrência), que eram coordenadas por esse Ministério.
A consultora garante ainda que os trabalhos que realizou se apoiaram “exclusivamente em informação pública e em informação financeira de natureza agregada prestada pelo Dr. António Domingues via Ministério das Finanças”.
A segunda comissão de inquérito sobre a Caixa Geral de Depósitos concluiu na terça-feira as audições e o projeto de relatório deverá ficar concluído até final de julho, mas as conclusões poderão apenas ser aprovadas na próxima sessão legislativa. Esta comissão parlamentar de inquérito tem por objeto apurar a atuação do Governo na nomeação, gestão e demissão da anterior administração do banco público.
Um dos pontos centrais desta comissão de inquérito, pedida potestativamente (de forma obrigatória) por PSD e CDS-PP, era apurar se “é verdade ou não que o ministro [das Finanças] negociou a dispensa da apresentação da declaração de rendimentos [de António Domingues]”, o que foi sempre negado pelo Governo.
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