Novo Banco não convence. Credor espanhol também critica “baixo preço” da oferta
"Estas ofertas deviam encorajar os investidores a participar com preços mais elevados do que o mercado... não é este o caso", critica a Ever Capital, que investiu cinco milhões no Novo Banco.
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Duas semanas após o lançamento da oferta de troca de obrigações, os credores do Novo Banco continuam a manifestar muitas reservas quanto ao preço que o banco se propõe a pagar para absorver os cerca de 2,7 mil milhões de euros de títulos de dívida. Ao fundo alemão Xaia junta-se agora a sociedade espanhola Ever Capital Investments, que vem criticar aquilo que considera ser um “preço baixo” que não convence qualquer investidor a participar na operação.
Com perto de cinco milhões de euros aplicados em obrigações do Novo Banco, a espanhola Ever Capital Investments é um dos credores que a instituição liderada por António Ramalho tenta convencer a vender os seus títulos a troco de numerário ou depósitos através de uma operação que, assegura, “segue os preços de mercado, ligeiramente acima do valor médio verificado no ultimo ano”. O objetivo é que, no final desta operação, os rácios de força financeira do Novo Banco sejam alimentados em pelo menos 500 milhões de euros. Mas a proposta lançada a 24 de julho parece pouco convincente.
“O preço é baixo”, sublinhou, ao ECO, Eva Rodríguez Roselló, que ajudou a fundar o Ever Capital Investment, com sede em Madrid. “Normalmente, estas ofertas de aquisição deviam encorajar os investidores a participarem e os preços têm ser mais elevados do que os níveis secundários anteriores à oferta. E este não é o caso com a oferta do Novo Banco”, acrescentou a responsável.
"O preço é baixo. Normalmente, estas ofertas de aquisição deviam encorajar os investidores a participarem e os preços deviam ser mais elevados do que os níveis secundários anteriores à oferta. E este não é o caso com a oferta do Novo Banco.”
Ainda que seja uma operação vital para o futuro do banco, dado que só assim o acordo de venda aos norte-americanos do Lone Star fica fechado, aquilo que está neste momento em cima da mesa não é do agrado de muitos investidores, mesmo perante a possibilidade de um falhanço na operação provocar a liquidação da instituição com perdas para todos.
De acordo com os termos da oferta, o Novo Banco pretende recomprar 36 linhas de dívida pelo seu valor de mercado com preços que cobrem entre 10% e 90% o valor nominal das obrigações. Que é como quem diz: há descontos implícitos entre 10% e 90%, que variam consoante a linha de obrigações.
Mas há casos e casos. Por exemplo, no caso das obrigações com cupão zero, que apresentam as maturidades mais longas, os descontos são teoricamente maiores porque se aplicam sobre um valor que não é o atual mas antes sobre o valor que as obrigações vão atingir no final da maturidade, dentro de alguns anos — algumas obrigações só vencem em 2052. Ou seja, os investidores perdem mais em função do valor que esperavam receber no final da maturidade.
Foi por causa deste “preçário” diferenciado que o fundo alemão Xaia Investments, que também está no grupo de grandes investidores que colocou Portugal em tribunal num outro caso relacionado com obrigações que foram transferidas para o “BES mau”, questionou a matemática por detrás da oferta logo após o seu anúncio.
“Parece-me que os preços não seguem uma fórmula justa num sentido económico. Parece-me mais uma decisão motivada politicamente“, disse ao ECO Jochen Felsenheimer, diretor daquele fundo alemão que tem cerca de 100 milhões de euros investidos em obrigações do BES/Novo Banco.
Na altura, Felsenheimer queixou-se ainda do tratamento preferencial que é dado aos clientes de retalho, considerando que essa diferenciação não é correta porque “por detrás dos todos investidores institucionais estão investidores de retalho, isto é, os clientes privados aplicaram investimentos que são geridos pelos gestores de ativos institucionais”.
A alternativa tanto para o Xaia Investment como para a Ever Capital Investment pode passar pela opção depósitos em vez do cash. Mas tanto um como o outro fundo ainda não conhecem as condições da oferta que visa trocar dívida por depósitos a três e cinco anos, adiantaram ao ECO. Segundo explicou Felsenheimer, o banco está a informar individualmente os credores acerca das condições após perceber qual o montante que detêm em obrigações do Novo Banco.
"Parece-me que os preços não seguem uma fórmula justa num sentido económico. Parece-me mais uma decisão motivada politicamente.”
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