ING: Helicóptero do dinheiro só aumenta poupança

Pôr os bancos centrais a dar dinheiro aos cidadãos não teria o efeito desejado. O ING diz que a maioria iria optar por aumentar as poupanças em vez de consumir. O impacto económico seria quase nulo.

A imagem do helicóptero a atirar dinheiro da janela dada ao mundo pelo economista Milton Friedman, em 1969, saltou recentemente para a ribalta face às dificuldades dos bancos centrais em reanimar as economias. A ideia de transferir dinheiro diretamente dos bancos centrais para os cidadãos, tem sido apregoada como uma forma radical de estímulos que permitisse relançar a inflação de níveis moribundos. Um estudo do ING sugere, contudo, que uma medida dessa natureza não surtiria o efeito desejado.

Caso recebessem mensalmente 200 euros na sua conta bancária, durante o período de um ano e sem imposições, os consumidores sondados em 12 países europeus afirmaram que provavelmente optariam por poupar esse dinheiro, em vez de o gastar. Os resultados têm por base um estudo levado a cabo junto de 12 mil cidadãos pelo ING, que foi conduzido pelo Ipsos entre 3 e 24 de junho através da internet.

No universo sondado, apenas 26% assumiu que iria gastar a maior parte do dinheiro, ao passo que 52% dos inquiridos afirmou a intenção de poupar, investir ou simplesmente não mexer na quantia disponibilizada. Já 15% dos respondentes revelaram a intenção de usar o dinheiro para saldar dívidas. Entre os países considerados na análise, a sondagem concluiu que a Itália e a Bélgica seria onde a medida conseguiria ter um impacto mais positivo, enquanto a Roménia e a Polónia se destacariam como os destinos menos eficazes para o envio do helicóptero monetário. Portugal não foi considerado neste estudo do banco holandês.

"Se as pessoas se comportassem da forma como responderam no estudo, ter-se-ia de questionar a eficácia desta forma de entrega.”

Ian Bright

ING

“Se as pessoas se comportassem da forma como responderam no estudo, ter-se-ia de questionar a eficácia desta forma de entrega”, afirmou Ian Bright, economista sénior do ING. Este responsável defende que uma alternativa seria entregar esse dinheiro diretamente ao Estado de modo a que fosse usado na criação de infraestruturas, na redução de impostos ou no abatimento da dívida pública. Esta solução seria irrelevante já que o Banco Central Europeu (BCE) está impedido de financiar os governos.

Apesar da ideia do helicóptero a lançar dinheiro poder parecer bizarra, tem sido muito debatida pelos economistas, depois de os biliões de euros que foram lançados pelos bancos centrais ao longo dos últimos anos nos mercados financeiros, terem falhado a missão de reavivar as economias e a inflação.

No início deste ano, Mario Draghi designou o helicóptero monetário como “um conceito muito interessante”, embora o responsável do BCE tenha referido que o tema não foi discutido como sendo uma opção.

Já o homólogo Haruhiko Kurada, que comanda os destinos do Banco do Japão, tem repetidamente afastado essa possibilidade, alegando que vai contra a lei atual do país. Por sua vez, o governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney, designou o helicóptero monetário como “flight of fancy”. Ou seja, uma ideia fantasiosa.

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