Vai o plano de reestruturação salvar os CTT?

Há quatro anos entraram na bolsa, mas agora atravessam um mau período pela queda de receitas e pelo corte nos dividendos. Analistas assistem ao trambolhão das acções e esperam pelo plano estratégico.

Faz quatro anos desde que os CTT entraram para a bolsa de Lisboa. Após a euforia inicial em que o valor das ações quase duplicou, a empresa tem vindo a sofrer quedas sucessivas que se intensificaram em novembro após os maus resultados. As ações bateram mínimos históricos mas, ainda assim, os analistas parecem continuar a encontrar valor no título. A média dos preços-alvo atribuídos após a divulgação de contas em outubro confere um potencial de valorização de quase 40% às ações dos CTT. Mas, o plano de reestruturação que será apresentado pela empresa em breve é visto pelos analistas como a chave para que a confiança dos investidores volte a estabelecer-se.

Foi a 5 de dezembro de 2013, às 10h30, que a empresa de Francisco de Lacerda se estreou na praça lisboeta, para felicidade de muitos investidores. A procura excedeu todas as expectativas, em todos os segmentos de investidores.

No entanto, nestes últimos meses, o cenário tem estado negro para a empresa de Francisco de Lacerda, que viu os seus títulos perderem metade do valor desde o início do ano, com estes a cotarem atualmente nos 3,135 euros, um valor bastante aquém face ao 5,52 euros em que se estrearam na bolsa. Na origem deste tombo na bolsa estão vários motivos: o aumento da concorrência, a queda abrupta das receitas e a redução do dividendo. “A queda dos CTT reflete os resultados, bastante fracos, apresentados pela empresa”, diz Paulo Rosa, do Banco Carregosa.

Entre janeiro e setembro deste ano, a empresa dos correios registou lucros de 19,5 milhões de euros, o equivalente a uma queda de 57% face ao mesmo período homólogo. Para justificar esta quebra, os CTT apontaram para a diminuição de 6% do tráfego de correio endereçado, para além de um nível de custos fixos demasiado elevado. Face a isto, a empresa viu-se obrigada a reduzir 20% do dividendo distribuído pelos acionistas, de 48 cêntimos por ação para 38 cêntimos, para além de uma redução do EBITDA. Para Albino Oliveira, gestor da Patris Investimentos, “o preço das ações caiu refletindo estes dois dados novos [a queda do dividendo e do EBITDA] e também uma falta de confiança por parte dos investidores”, diz ao ECO.

O preço das ações caiu refletindo estes dois dados novos [a queda do dividendo e do EBITDA] e também uma falta de confiança por parte dos investidores.

Albino Oliveira

Patris Investimentos

Apesar dos mínimos históricos conseguidos este ano pelos CTT e pela queda dos lucros, as casas de investimento atribuíram preços-alvo bastante superiores, em média, à cotação atual dos títulos da empresa. Cotando atualmente nos 3,13 euros, os correios receberam um preço-alvo de 4,20 euros, o que indica um potencial valorização de 37,07%. Para Albino Oliveira, isto pode justificar-se por dois motivos: “Há sempre alguma inércia por parte das casas a rever os preços e, em segundo lugar, o plano de reestruturação é importante, logo poderá haver casas que estão à espera desse plano para posteriormente atualizarem as metas em termos de pré-objetivo”, diz.

Desde esses cortes na empresa, os CTT têm sofrido pressão no negócio dos correios, devido ao declínio da atividade de entrega de cartas pela força da digitalização. Paulo Rosa explica que “o correio tradicional pesa mais de 70% nas receitas do CTT, mas vai-se degradando ano após ano, e deveria ser compensado com o crescimento das compras online”. Para conseguir combater esta desvantagem, a empresa vai reforçar a aposta no segmento de “Expresso e Encomendas”, onde as receitas estão a crescer mais de 9% este ano. Para além deste reforço, Francisco Lacerda anunciou a criação de um plano de reestruturação que poderá resultar na saída de até três centenas de trabalhadores e que visa baixar os custos de operação. Na altura, a administração adiantou que “uma reestruturação considerável dos custos, para ajustar a escala de operações às atuais necessidades, está a ser preparada, para ser apresentada antes do final do ano”.

Para Albino Oliveira, ainda não há certezas sobre o que estará para vir com este plano estratégico, mas “está toda a gente à espera que os CTT olhem para a base de custos e tentem reduzi-la, e também que tentem otimizar o negócio dentro do possível“, diz. Contudo, alerta que há sempre um limite para os cortes e acredita que a empresa cortará “apenas no que for possível”. Já do banco BiG, Steven Santos vai mais longe e explica ao ECO que “para este plano ter algo de positivo junto dos investidores terá de ser naturalmente agressivo, nomeadamente por um ambicioso plano de redução de custos e que seja acompanhado pelo corte de dividendo”.

Para este plano ter algo de positivo junto dos investidores terá de ser naturalmente agressivo, nomeadamente por um ambicioso plano de redução de custos e que seja acompanhado pelo corte de dividendo.

Steven Santos

Banco BiG

Do lado do banco Carregosa, Paulo Rosa acredita que “o plano de reestruturação poderá passar pela separação do negócio bancário e o negócio postal“, para além de uma “decisão que trave a atual política de dividendos, que deve ser revista fortemente em baixa”. E, quanto ao futuro, Steven Santos esclarece que “a expressiva queda dos títulos dos CTT apenas poderá ser invertida com uma política credível e realista para a evolução das principais áreas de negócio, a qual também esperamos ser enaltecida no âmbito do plano de restruturação”. Uma coisa é certa entre os analistas, é importante que este plano de estratégia não venha desiludir os investidores, pois só assim a confiança poderá voltar a surgir. Este plano “será apenas o primeiro passo para a relação de confiança [entre a empresa e os investidores] volte a estabelecer-se“, diz o gestor do Patris Investimentos.

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