Recortes, (des)lealdades e convergências. O debate de Santana e Rio em três pontos (e um bónus)
Rio foi preparado para lembrar as "trapalhadas" do seu adversário com recortes de jornal. Santana focou-se em atacar a candidatura do opositor, que, diz, não se foca no crescimento económico.
Pedro Santana Lopes e Rui Rio defrontaram-se, esta noite, em mais um debate televisivo, desta vez na TVI. Os dois candidatos à presidência do PSD tentaram clarificar algumas polémicas que têm marcado a campanha mas, desta vez, o antigo autarca do Porto foi mais bem preparado para lembrar as “trapalhadas” do passado de Santana Lopes, com recortes de jornal onde mostrou críticas a Pedro Passos Coelho e elogios a António Costa. Já o antigo provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) focou-se em atacar a candidatura do seu adversário, que, diz, não tem o crescimento económico como prioridade.
Recortes de jornal: Quando Santana atacou Passos e elogiou Costa
A primeira pergunta foi igual para ambos os candidatos: porque é que esta se transformou numa campanha de ataques políticos e pessoais? Santana Lopes optou por negar qualquer ataque e afirmar que apenas procurou “esclarecer” algumas questões do passado. Mesmo o facto de ter acusado Rui Rio de ter uma “visão paroquial do país e do mundo” não foi, garante, um ataque. “Entendo que tem uma visão incorreta ou insuficiente sobre aquilo que deve ser a ousadia para o país. Entendo que tem uma visão demasiadamente tradicional”, esclareceu.
Já Rui Rio respondeu a esta pergunta com… ataques. “No último debate, na RTP, [Santana Lopes] fez-me duas acusações”, começou por lembrar. Uma relativamente à “falta de lealdade” para com Pedro Passos Coelho e outra relativa à proximidade política para com António Costa. Para se defender de ambas as acusações, levou recortes de jornal.
“Não fui preparado para fazer um confronto desse género e para levar com acusações que são completamente injustas. Mas não tenho nenhuma manchete deste género”, disse, antes de ler os seguintes títulos de notícias relativas a declarações de Santana Lopes, proferidas entre 2011 e 2015: Santana arrasa Passos mas adia saída do PSD; Santana defende que Passos deve pedir desculpa; Santana revoltado com o PSD.
Quanto à segunda acusação, o antigo autarca sublinhou: “Não devo nada a António Costa nem ele me deve nada a mim“. E defendeu-se com uma última declaração, já de março de 2017, também da autoria de Santana Lopes: “António Costa é o político mais hábil a manejar o poder desde o 25 de abril”. E “isto é um crime de todo o tamanho?”, questionou. “Não. Mas dá para perceber que as ligações que tu tens com António Costa são mais estreitas do que aquilo que possam ser as minhas”, atirou a Santana Lopes.
As ligações que tu tens com António Costa são mais estreitas do que aquilo que possam ser as minhas.
Concursos de lealdade
Outra parte do debate foi dedicada a decidir quem foi mais leal a Pedro Passos Coelho. Já depois de Rui Rio ter apresentado os recortes de jornal, Santana Lopes defendeu-se dizendo que “tinha as maiores reservas em relação a Pedro Passos Coelho” no início da sua legislatura, mas hoje reconhece que o antigo primeiro-ministro “superou as expectativas todas”, salientou. “Durante estes quatro anos, estive, de facto, do lado dele“.
Rui Rio, por seu lado, foi confrontado com a falta de coerência que tem mostrado para com o seu adversário. Em 2004, a cerca de um mês da queda do Governo liderado por Santana Lopes, o antigo autarca do Porto elogiou as “mudanças estruturais” que tinham sido feitas. Agora, fala nas “trapalhadas”. Há, ou não, um problema de coerência? “Nenhum. Eu era membro da comissão política nacional de Durão Barroso. Durão Barroso sai e Santana Lopes assume, em situação difícil, a liderança do partido e do Governo. Houve muitas pessoas que não quiseram apoiar essa decisão. Se, na altura, eu, que passei a número dois, também não o apoiasse, o PSD ficava numa situação muito difícil. Portanto, apesar das diferenças, apoiei a decisão. Fui sempre leal aos líderes todos do partido e também lhe fui a ele“, apontou.
Mas não sem ressalvar que, se Santana Lopes “for líder do partido e candidato a primeiro-ministro”, tem “sérias dúvidas se o povo português lhe confere credibilidade para um novo mandato”.
Minutos depois, a resposta de Santana Lopes: “Passas a vida a dizer o contrário daquilo que pensas. É uma maçada, isso”.
Convergências para o futuro
Grande parte do debate foi marcado pelas alternativas que os dois candidatos oferecem à atual solução governativa, numa altura em que o Governo tem “apresentado créditos”. As propostas dos dois candidatos divergem pouco; Santana Lopes insistiu, como já fez em entrevistas anteriores, em acusar Rui Rio de copiar as suas ideias. Rio responde com o passado: “Se há matérias de que falo há anos são as finanças públicas e o crescimento económico, e não divirjo uma linha”.
Por pontos: tanto Santana Lopes como Rui Rio consideram que o Executivo de António Costa está a governar para a o presente, sem pensar no futuro e sem fazer as reformas necessárias para tratar das “coisas debaixo do tapete”; tanto um como o outro entendem que o Estado está a falhar em vários domínios e que é preciso investimento em áreas como a saúde ou a proteção civil; os dois defendem a prioridade que deve ser dada ao crescimento económico e à consolidação das contas públicas; e ambos defendem o alívio da carga fiscal sobre as empresas e os incentivos ao investimento como forma de fomentar o crescimento económico.
Em que divergem? Na forma de apresentação, segundo Santana Lopes. O antigo primeiro-ministro acusa Rui Rio de não ter nenhuma destas propostas na sua moção de candidatura e de só as apresentar quando vê o seu adversário fazer o mesmo. “Falei de crescimento económico desde o dia de apresentação de candidatura. Ainda hoje estive a ler a apresentação de Rui Rio e não está lá esse tema, coloca a tónica no défice zero”, apontou. À defesa de Rio, que argumentou que sempre disse que “temos de crescer pelas exportações e pelo investimento”, respondeu: “Este Governo é como tu, tem sempre a segunda versão“.
E um bónus: Santana está a apelar ao “voto útil” no PS?
No fim, o debate voltou a cair para aquele que tem sido o tema recorrente dos últimos dias: num cenário em que o PS vença as eleições legislativas de 2019, mas sem maioria absoluta, o que deve fazer o PSD? Rui Rio voltou a explicar que é preferível “deixar passar um Governo minoritário do PS, de modo a que esteja a amarrado à Assembleia da República como um todo e não apenas à esquerda”, mas, desta vez, quis deixar claro: “A posição do PSD é ir para as eleições para ganhar. Estamos entendidos?”.
Santana Lopes, por seu lado, também frisou aquilo que já tem dito: “Sou contra o bloco central. Não faço acordos de Governo com o PS”.
Desta vez, Rui Rio decidiu responder a esta posição com um novo cenário: “O que estás a dizer é para votarem útil no PS. A única forma, com essa tua política, de afastar o Bloco de Esquerda e o PCP, é votar no PS”. Santana concluiu com uma “frase feita” (nas palavras de Rio): “Tu vieste para mudar o PSD, eu vim para mudar o país. Tu vieste para derrotar o Passos, eu vim para derrotar o Costa”.
Tu vieste para mudar o PSD, eu vim para mudar o país. Tu vieste para derrotar o Passos, eu vim para derrotar o Costa.
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