Trump diz tarifas. Países afetados dizem “exceção” e preparam medidas
As reações às tarifas sobre as importações de aço e alumínio anunciadas por Trump multiplicam-se por todo o mundo. Ao mesmo tempo que tentam dissuadir Trump, economias preparam a retaliação.
Todos querem ser exceção. Desde quinta-feira que vozes de todos os cantos do mundo — Alemanha, Coreia do Sul, Japão, Brasil e Argentina — afirmam que esperam não ser visados pela taxa de Trump sobre as importações de aço, avança a Reuters. Para já, só Canadá e México viram abertura da parte dos EUA para negociar a aplicação das tarifas. A União Europeia chama ao diálogo ao mesmo tempo que anuncia “medidas de reequilíbrio” prontas a usar “se necessário”. Da indústria chinesa veio o aviso mais claro: a retaliação pode verificar-se ao nível das importações de carvão dos EUA.
Os EUA são o maior importador de aço do mundo. Só em 2017, abriram as suas fronteiras a 35 milhões de toneladas deste material — e, agora, quer impor uma tarifa de 25% sobre estas importações e de 10% sobre as de alumínio. Canadá, Brasil e Coreia do Sul, são, por esta ordem, os maiores vendedores, mas deste lado do Atlântico também as grandes potências europeias e a própria UE se fazem ouvir — tal como a China, que já ameaça.
União Europeia planeia sem querer executar
“Ainda não ouvimos informações sobre os critérios… Precisamos de dialogar com os EUA, anunciou o vice-presidente da Comissão Europeia, Jyrki Katainen. “Mas também continuaremos o nosso trabalho em medidas de reequilíbrio, esperando que não sejamos forçados a usá-las”. As declarações de Katainen surgem em perfeita sintonia com as do próprio presidente, Jean-Claude Juncker, em reação ao anúncio de Trump, a 1 de março.
A União Europeia “vai reagir firme e proporcionalmente para defender os seus interesses”, afirmou o presidente da Comissão Europeia, garantindo uma proposta de contramedidas. Foi a comissária europeia para o Comércio, Cecilia Malmstrom, que enumerou as possíveis medidas a serem tomadas pela União Europeia, que vão desde tarifas de salvaguarda até uma lista de produtos a taxar. Insistiu, contudo, no caráter indesejável da situação. “Esta não é a maneira certa de lidar com o assunto”, defendeu, e acrescentou: “Temos sido claros que estas medidas não respeitam as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), então recorreremos a este organismo, possivelmente com outros amigos. Teremos de proteger a nossa indústria com medidas de salvaguarda”.
A diretora geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, preferiu também realçar os riscos desta disputa. “Numa guerra comercial – que seria alimentada por uma argumentação sobre tarifas aduaneiras – ninguém ganha”. “Estamos bastante preocupados e defendemos um acordo entre as partes. Negociações e consensos”, disse ainda Christine Lagarde. Reconhece, inclusivamente, algum mérito aos motivos de Trump: “A China não é o único país” que não respeitam os acordos no quadro da Organização Mundial do Comércio, nota.
Alemães receiam “espiral de protecionismo”
“É protecionismo, é uma afronta aos parceiros estreitos que representam a União Europeia e a Alemanha e ao livre-câmbio”, denunciou a ministra da Economia alemã, Brigitte Zypries. “Trump está a barricar o seu país contra a opinião do seu partido, de numerosas empresas e de economistas”, adiantou a ministra no comunicado, prometendo “uma resposta clara, equilibrada e coordenada com a Comissão Europeia”.
A indústria alemã também não fica indiferente e alerta para uma “espiral de protecionismo” que pode advir da decisão de Trump. Apelam por este motivo que a União Europeia e o Governo germânico se mantenham fiéis ao comércio livre. Foram quatro os representantes da indústria alemã a insurgirem-se: o grupo de comércio DIHK, a associação de trabalhadores BDA, o industrial BDI e a German Confederation of Skilled Crafts (ZDH).
A Alemanha foi um dos países aos quais Trump apontou o dedo: “Se se olhar para a Nato, a Alemanha paga 1% e nós pagamos 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB) muito mais elevado. Não é justo”, declarou o presidente norte-americano.
Reino Unido considera “absurdo”
O aço britânico tem sido utilizado para fornecer as forças militares norte-americanas. “Então, é absurdo a dobrar que fossemos visados numa investigação de segurança nacional“, disse o secretário de Estado para o Comércio britânico, Liam Fox, na BBC, referindo-se ao artigo 232 invocado por Trump para justificar as tarifas, e que faz referencia a ameaças à segurança nacional. “Podemos lidar multilateralmente com a sobreprodução de aço, mas esta é a forma errada de tratar do assunto”. Fox planeia levantar esta questão numa visita que tem agendada na próxima semana, em Washington.
China faz pontaria ao carvão
A resposta mais explícita veio da indústria metalúrgica chinesa, que apressou Pequim a atuar com a seguinte sugestão: atacar o setor do carvão e outros que sejam chave para o eleitorado de Trump. Os produtos eletrónicos também estão na lista de possíveis alvos. Pequim já havia prometido esta quinta-feira adotar uma “resposta adequada e necessária”. “Num mundo globalizado, quem recorre a uma guerra comercial está a seguir a receita errada”, afirmou Wang Yi, durante uma conferência de imprensa. “A História ensinou-nos que as guerras comerciais nunca são o caminho correto para a resolução de problemas”, acrescentou. O ministro do Comércio veio mais recentemente assegurar que a nação iria avaliar os potenciais prejuízos e “defender firmemente os direitos e interesses legítimos”.
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