Bruxelas retalia tarifas com sumo de laranja, mirtilos e mais 300 produtos

  • Juliana Nogueira Santos
  • 16 Março 2018

São mais de três centenas de produtos que podem sofrer um agravamento fiscal, caso as tarifas de Trump avancem. Mas já haverá espaço para negociar.

As tarifas sobre a importação de aço e alumínio têm trazido um impasse à relação comercial entre Estados Unidos e União Europeia.Fotomontagem/ECO

Mirtilos, sumo de laranja, tabaco, calças de ganga, manteiga de amendoim. Parece uma lista de compras, mas é, na verdade, a lista de produtos que a União Europeia quer utilizar como retaliação, caso as tarifas sobre a importação de aço e alumínio anunciadas pelos Estados Unidos forem impostas. Ao todo são 339 produtos.

Após Trump ter anunciado um agravamento das taxas de importação de aço e alumínio em 25% e 10%, respetivamente, as críticas vieram dos quatro cantos do mundo, com muitos países a alertar para uma possível retaliação. Foi o caso da União Europeia, com Jean-Claude Juncker e Cecilia Malmström a serem as vozes mais ativas. “Não vamos ficar de braços cruzados quando a nossa indústria é atacada com medidas injustas”, alertou, na altura, o presidente da Comissão Europeia.

Esta sexta-feira foi então divulgada a lista de produtos que a Comissão Europeia diz serem os próximos alvos de novas tarifas. São dez páginas que se dividem em dois grupos, o daqueles que podem vir a ser taxados nos próximos meses e outro que só será posto em ação se a Organização Mundial do Comércio vier a considerar a medida norte-americana ilegal ou se passarem três anos.

E quais é que vão ser estes produtos? Como apontavam as listas provisórias, as calças de ganga, o sumo de laranja, a manteiga de amendoim, o whiskey, o milho, os mirtilos, e mais de três centenas de outros produtos que saírem dos Estados Unidos com destino à Europa vão ser mais caros. Ao todo, implicarão um impacto de 6,4 mil milhões de euros, o suficiente para contrabalançar os prejuízos europeus com as importações de aço e alumínio.

E porquê estes? Ao ECO, a consultora EY, justificou algumas destas escolhas, que podem ser consideradas particulares, com aspetos muito práticos. “São produtos produzidos em Estados republicanos com elevada importância eleitoral”, explica a consultora. “Por exemplo, o Jack Daniels é destilado no Kentucky, Estado de Mitch McConnell, que lidera os republicanos no Senado”. O sumo de laranja é produzido na Florida, um swing state. Já o fabricante de calças de ganga Levi Strauss tem sede em São Francisco, o distrito da líder democrata Nancy Pelosi.

Mas há caminho para a isenção

Do lado dos norte-americanos, parece já haver sinais de flexibilidade. Após ter isentado o México e o Canadá destas tarifas — na condição de se chegar a um novo acordo para o NAFTA –, o Estado norte-americano terá já estabelecido algumas alíneas que, se forem cumpridas pela União Europeia, poderão significar o mesmo.

Como escreve a Reuters, os Estados Unidos querem criar tetos máximos para importação de metais que se fiquem pelos números de 2017, para que os produtores nacionais tenham de utilizar os metais produzidos dentro do país. Além disso, Trump e a sua Administração quer que Bruxelas prometa que irá tomar medidas contra o dumping dos preços do aço levado a cabo pela China e que irá cooperar num vasto leque de outras medidas relacionadas com o comércio.

O secretário do Comércio norte-americano, Wilbur Ross, e a Comissária Europeia do Comércio, Cecilia Malmström, vão reunir-se na próxima semana, numa tentativa de resolver este impasse.

Em casa, são as protegidas que mais podem sofrer

E se Trump quer proteger as empresas norte-americanas e os produtores de aço e alumínio com estas medidas, o tiro poderá sair-lhe pela culatra. Uma análise da Bloomberg conclui que as empresas que têm sido mais protegidas e aclamadas pelo presidente dos Estados Unidos poderão ser as que mais vão sofrer.

Como maior produtor de aço do planeta, a China apelou a Washington para que “trave” as medidas protecionistas e “respeite as regras” do comércio multilateral, visto que se todos os países seguissem o caminho dos Estados Unidos, “teria um grave impacto na ordem do comércio multilateral”. Ainda assim, o perigo maior será o da retaliação em relação às empresas norte-americanas.

É o caso da Caterpillar e da Boeing, que podem ver a maioria dos seus clientes chineses a migrar para os seus concorrentes diretos, sendo no primeiro caso a Komatsu e no segundo a Airbus. Também a Apple terá razões para ficar preocupada, tendo no mercado chinês uma fatia de 45 mil milhões de dólares em receitas anuais.

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