Zuckerberg dá nega ao Parlamento britânico. UE quer respostas em duas semanas

Comissão parlamentar britânica pediu a Zuckerberg que explicasse o uso indevido de dados de 50 milhões de utilizadores pela Cambridge Analytica, mas empresário recusou convite. Mandará representantes.

Afinal, Mark Zuckerberg não vai explicar ao Parlamento britânico os contornos do uso indevido dos dados dos utilizadores do Facebook pela britânica Cambridge Analytica. O empreendedor norte-americano tinha sido “convidado” pela comissão responsável, mas acabou por anunciar, esta terça-feira, que não vai comparecer perante os deputados. Em vez de ir a Londres, Zuckerberg decidiu enviar um dos representantes da rede social atualmente debaixo de fogo.

“O senhor Zuckerberg pediu pessoalmente a um dos seus representantes para se mostrar disponível e oferecer o seu testemunho em pessoa”, adiantou, em comunicado citado pela Bloomberg, a líder do departamento de Políticas Públicas do Facebook, no Reino Unido. De acordo com Rebecca Stimson, Chris Cox (diretor de produto) e Mike Schroepfer (diretor de tecnologia) são os dois nomes em cima da mesa para substituir Zuckerberg na audição.

Em resposta às declarações de Stimson, o líder da comissão parlamentar em causa garantiu que aceitará receber qualquer um desses representantes, mas sublinhou que “gostaria ainda assim de ouvir Zuckerberg”. O político sugeriu, assim, que o líder executivo da gigante poderá participar via vídeo, na reunião.

A revelação do uso indevido dos dados de 50 milhões de utilizadores desta rede social pela Cambridge Analytica tem colocado o Facebook na mira dos críticos e dos reguladores. O Facebook já pediu desculpas em diversas ocasiões pelo sucedido, referindo que é da sua responsabilidade proteger a informação que navega na plataforma.

Nos Estados Unidos, os procuradores de Nova Iorque e de Massachusetts e a Comissão Federal do Comércio anunciaram que vão investigar o caso. Na semana passada, a comissão britânica referida avançou que ia pedir acesso aos servidores da Cambridge Analytica (que alegadamente usou os dados em causa para ajudar Donald Trump a vencer as eleições de 2016).

Bruxelas quer respostas em duas semanas

Também Bruxelas já exigiu esclarecimentos sobre este caso: a comissária da Justiça da União Europeia quer saber se o Facebook tem a “certeza absoluta” que o caso não se repete.

Num email enviado na segunda-feira à noite por Vera Jourova, a que a agência AFP teve acesso, o executivo comunitário pede também que a rede social norte-americana providencie informação sobre as medidas tomadas para evitar que um novo caso como o da Cambridge Analytica se possa repetir.

O bloco instou mesmo o Facebook a dar respostas “nas duas próximas semanas” às questões levantadas pelo caso Cambridge Analytica, para perceber se os dados pessoais dos europeus foram afetados.

A comissária questiona especificamente como o Facebook pretende aplicar as regras europeias de confidencialidade de dados e se “os dados dos cidadãos europeus foram afetados por este escândalo recente” ligado à Cambridge Analytica.

Papel decisivo no Brexit

A Cambridge Analytica teve um “papel decisivo” no referendo sobre o ‘Brexit’, afirmou, esta terça-feira, o ex-funcionário da empresa Christopher Wylie.

Numa entrevista a vários jornais europeus, Wylie, que denunciou a polémica, foi questionado sobre se a saída do Reino Unido da União Europeia teria sido aprovada pelos eleitores britânicos em 2016 sem a interferência da Cambridge Analytica.

“Não, eles tiveram um papel decisivo, tenho a certeza”, disse Wylie, que foi diretor de pesquisa na empresa, numa entrevista de que publicaram diferentes excertos os jornais franceses Libération e Le Monde, alemão Die Welt, espanhol El Pais e italiano La Repubblica, entre outros.

Na entrevista, o denunciante afirma que a empresa canadiana Aggregate IQ (AIQ) trabalhou com a Cambridge Analytica para ajudar a campanha a favor do ‘Brexit’, “Leave EU”. “Sem a Aggregate IQ, a campanha do ‘Leave’ não teria conseguido ganhar o referendo, que foi decidido por menos de 2% dos votos”, disse.

Wylie defende que “é preciso arranjar o Facebook, não eliminá-lo” e recusa a opinião daqueles que aconselham os utilizadores a apagar a conta na rede social: “Tornou-se impossível viver sem estas plataformas, mas é preciso enquadrá-las”.

O whistleblower (expressão inglesa que designa aqueles que denunciam ilegalidades em nome do interesse público) conta por outro lado as circunstâncias da sua contratação em 2013 pela SCL, a “casa-mãe” da Cambridge Analytica para cuja criação contribuiu.

Segundo contou ao Le Monde, descobriu mais tarde que o seu antecessor “morreu em condições não explicadas no seu quarto de hotel em Nairobi, quando trabalhava para Uhuru Kenyatta”, o atual presidente do Quénia.

Wylie reitera por outro lado o envolvimento com a empresa britânica de Steve Bannon, antigo conselheiro do presidente norte-americano, Donald Trump, e antigo diretor do ‘site’ de extrema-direita norte-americano Breitbart. “Ele [Bannon] vinha a Londres pelo menos uma vez por mês”, disse ao Líbération.

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