“Alinhamento” de datas entre eleições legislativas e europeias seria “adequado”, defende Centeno
Mário Centeno é favorável a alinhar os momentos eleitorais nacionais com os europeus. O presidente do Eurogrupo admitiu que expandir o euro é um processo "demorado", mas de "grande alcance".
O ministro das Finanças português admitiu este domingo que seria “adequado” alinhar as eleições legislativas com a votação para o Parlamento Europeu, o que anteciparia o escrutínio nacional em alguns meses.
A declaração foi feita em resposta a uma pergunta do público que assistiu à conferência de encerramento da primeira edição das Conferências Ulisses 2018, comissariadas pelo historiador e ex-eurodeputado Rui Tavares, que decorreram no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
A pergunta feita a Mário Centeno foi: “Defende que as eleições legislativas de 2019 devem ser antecipadas para antes do verão?”, recordando que o PS defendeu, no passado, um alinhamento com o calendário europeu.
“A transição que o país passou de 2015 para 2016 foi difícil e colocou desafios grandes ao Governo na altura e, portanto, é uma decisão política, que compete aos partidos políticos e ao senhor Presidente da República”, começou por dizer Mário Centeno.
"O desalinhamento entre ciclos políticos é uma das maiores barreiras à tomada de decisões europeia.”
O ministro acrescentou, logo a seguir: “Diria que é adequado, do ponto de vista da estabilidade que temos procurado incutir à gestão das finanças públicas, que houvesse esse alinhamento [com as eleições europeias, agendadas para maio].”
Insistindo na “estabilidade orçamental” e na “previsibilidade”, já antes, durante a conferência, Mário Centeno, também presidente do Eurogrupo, tinha destacado que “o desalinhamento entre ciclos políticos é uma das maiores barreiras à tomada de decisões europeia”.
Expandir euro é projeto político “demorado”, mas “de grande alcance”
A expansão do “projeto político” da moeda única “está em curso”, mas “exige paciência”, pois, embora “demorado”, tem um “grande alcance”, realçou este domingo o ministro das Finanças português e presidente do Eurogrupo, numa conferência em Lisboa.
O alargamento do euro a todos os países da União Europeia “está demorado”, mas é um processo “democrático”, feito a partir de Estados soberanos, que, portanto, “leva tempo” e exige preparação prévia, recordou Mário Centeno, orador na conferência de encerramento da primeira edição das Conferências Ulisses 2018, comissariadas pelo historiador Rui Tavares, que decorreram no Centro Cultural de Belém.
“Democracia Europeia: uma ideia cujo tempo chegou?” foi a pergunta de partida para um debate que contou com outros três oradores: o professor e investigador alemão Jan-Werner Müller, o ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz e Rui Tavares.
Reconhecendo que “uma bicicleta parada não funciona” – em analogia à moeda comum europeia –, Mário Centeno vestiu a pele de “otimista de serviço” para sublinhar que “da impaciência ao populismo vai um passo muito curto” e que o euro “pode fazer muito” pela democracia.
"O euro é hoje a prova mais tangível do que é a integração europeia.”
Não há, portanto, “receitas fáceis”, mas de uma coisa Centeno está certo: “O euro é hoje a prova mais tangível do que é a integração europeia.” Recordando que, de acordo com uma sondagem Eurobarómetro, 74% dos europeus aprovam a moeda única, Centeno acredita que este é “um momento muito interessante, que deve ser utilizado para melhorar e não para divisões apocalípticas”.
Considerando que “o desalinhamento entre ciclos políticos é uma das maiores barreiras à tomada de decisões europeia”, Centeno frisa que a Europa é hoje “muito mais forte” do que há cinco anos. Falta agora, afirmou, “completar a união bancária”, ou seja, “tornar os bancos mais resistentes”, e também a união do mercado de capitais, assegurando “fontes de financiamento para as empresas mais alargadas”.
Na opinião do ex-eurodeputado Rui Tavares, “a Zona Euro não pode ser só uma moeda”, por isso, propôs a criação de “uma Carta Democrática”, a assinar na adesão ao euro. O Eurogrupo, que reúne os ministros das Finanças dos países do euro, “não pode ser só um clube económico”, mas “um clube reforçado de valores democráticos”, sustentou, considerando que “a crise do euro”, que “toda a gente entende que tem de ser reformado”, representa “uma oportunidade”.
Já Martin Schulz apostou: “As pessoas gostam de dinheiro, sobretudo se tiverem mais e mais, mas não amam uma moeda, ninguém ama o euro.” Portanto, para o ex-presidente do Parlamento Europeu e político alemão, “a questão chave é voltar a mobilizar as pessoas em torno da ideia de Europa”, que envolve democracia, respeito mútuo e direitos e liberdades individuais, sem discriminações.
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