“Aveiro tem falta de mão de obra”. Empresas vão buscar trabalhadores fora da região
Para Fernando Paiva e Castro, presidente da AIDA, a falta de mão de obra é transversal a todos os setores. Empresários dizem que o Capitalizar sabe a pouco.
“Aveiro tem falta de mão de obra qualificada em todos os setores“. A afirmação é de Fernando Paiva de Castro, presidente da Associação Industrial do Distrito de Aveiro (AIDA), e foi proferida na segunda edição do Fórum Desafios e Oportunidades promovido pelo EuroBic. Uma queixa que já tinha sido feita, por exemplo, em Famalicão.
Para Paiva de Castro, que fazia parte do painel de debate e tinha como parceiros Carlos Costa, diretor do departamento de economia, gestão e engenharia industrial e turismo da Universidade de Aveiro, Paulo Almeida, da Primus Vitoria Azulejos e Sandra Sousa do grupo Rui Costa e Sousa & Irmão, este facto não é alheio à diminuição de cerca de 12 mil habitantes que a região sofreu entre 2011 e 2015. Ou seja, três mil habitantes por ano.
O presidente da AIDA diz que a situação é tão alarmante que “há empresas que contratam transportadoras para trazer pessoal” para trabalhar das regiões limítrofes.
Uma situação que é tanto mais preocupante na medida em que a região conta com 77 mil empresas, cerca de 7% do total das empresas nacionais, segundo um estudo sobre a realidade exportadora da região de Aveiro encomendado pela AIDA. Estas empresas estão concentradas na sua maioria nos setores da cerâmica e serviços, seguidas pela indústria transformadora, transportes e turismo.
"Há empresas que contratam transportadoras para trazer pessoal para trabalhar das regiões limítrofes.”
Sandra Sousa, assessora do conselho de administração do Grupo Rui Costa e Sousa & Irmão (RCSI), uma empresa que transforma e comercializa bacalhau, confirma a informação avançada pelo presidente da AIDA ao dar conta de que a sua empresa é uma das que contrata trabalhadores fora da região.
“A questão da mão-de-obra é um problema. É difícil manter as pessoas no setor. Há grande rotatividade, e nem o aumento de salários permite diminuir essa rotatividade”, afirma.
Paulo Almeida, assessor de administração da Primus Vitoria Azulejos, diz que esta é uma necessidade que se faz sentir também no seu setor. Um problema tanto mais grave na medida em que no setor “a curva de aprendizagem é muito lenta e não há formação nenhuma”.
“Queremos pessoas para trabalhar e não conseguimos“, afirma até porque o “trabalho por turnos não é atrativo, o que dificulta ainda mais a situação”. Mas as dificuldades não se ficam só pelo chão da fábrica. Encontrar técnicos de manutenção é também uma dificuldade.
Mercados externos? Pequena dimensão dificulta entrada
Estas não são as únicas dificuldades que as empresas atravessam. A pequena dimensão das empresas da região dificulta a entrada nos mercados externos, ainda assim as exportações do setor ultrapassam os seis mil milhões de euros com uma taxa de cobertura de 1,6%. Uma realidade que parece não afetar a Primus Vitória, que exporta mais de 60% da faturação. E muito menos a empresa detentora da marca Sr. Bacalhau que está presente com unidades próprias em Aveiro, Tondela, Noruega, Brasil e Estados Unidos.
"O Capitalizar não responde ao ciclo da operação, vamos fazendo algumas operações mas é muito limitado. O apoio da banca é que nos suporta.”
Já no que se refere às questões de financiamento, a gestora do grupo RCSI diz que “o Programa Capitalizar limita as necessidades que as empresas têm, sobretudo as que trabalham em ciclos longos, como é o nosso caso”.
O Programa Capitalizar, que tem por objetivo a capitalização das PME, não responde ao ciclo da operação, vamos fazendo algumas operações mas é muito limitado”, refere. “O apoio da banca é que nos suporta”, remata.
Opinião idêntica tem Paulo Almeida, que para além de destacar o capital investido pelos donos do grupo, e também no apoio da banca. Perante a pergunta se recorre ao Capitalizar para se financiar, Paulo Almeida responde com um categórico não. E passa a explicar: “há figuras que nos ajudam no Capitalizar que são entendidos como um carimbo negativo pelas entidades bancárias”.
Paiva de Castro diz mesmo que “as nossas empresas têm uma estrutura de capital bastante deficitária e este problema não vai ser ultrapassado tão facilmente”. “O Capitalizar sabe a pouco”, remata.
O papel da Universidade
Neste contexto que papel pode ter a Universidade de Aveiro? Carlos Costa não tem dúvidas. “É preciso olhar o mundo e perceber o que está a acontecer e sobretudo perceber que a realidade é hoje completamente diferente do que era há uns anos atrás”.
“Há uma nova economia que está a nascer” e é preciso dar resposta a estas novas necessidades. Assim, o departamento que gere, sublinha Carlos Costa, está a juntar os alunos dos diversos cursos e a chamar os empresários por forma a perceberem as necessidades e as dificuldades das empresas da região de modo a encontrar soluções.
“Um dos trabalhos que estamos a fazer é organizar uns seminários de modo a fazermos o levantamento das necessidades ao nível do ensino e formação”.
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