Maya assume a liderança do BCP. Quais os desafios do novo CEO?

  • Rita Atalaia
  • 30 Maio 2018

Seis anos depois, Nuno Amado passa o testemunho a Miguel Maya. Assume um banco com lucros, mas com muito ainda por "limpar". E com uma promessa: a de voltar a pagar dividendos.

É hoje que Nuno Amado passa o testemunho a Miguel Maya, mantendo-se como chairman do BCP.Paula Nunes / ECO

Hoje começa um novo capítulo na vida do BCP. Depois de seis anos, Nuno Amado passa o testemunho a Miguel Maya. Mas será uma passagem “parcial” uma vez que o gestor vai continuar a acompanhar a atividade do banco enquanto chairman mais focado no internacional. Já Maya assume a liderança executiva, assim que tiver “luz verde” do Banco Central Europeu, com vários desafios pela frente. E não é por conhecer bem os “cantos à casa” que vai ter uma tarefa mais fácil.

Os anos da crise trouxeram prejuízos ao BCP. Mas isso ficou para trás. Se em 2012, quando Amado entrou no BCP, o banco apresentava resultados negativos de mais de 1.200 milhões de euros, no final do ano passado registou lucros de 186 milhões de euros — reflexo da forte quebra no valor das imparidades assumidas que, no ano passado, ficaram abaixo dos mil milhões de euros. E a recuperação continua: nos primeiros três meses deste ano os lucros dispararam 71%.

Mas Amado não fez este trabalho sozinho. Miguel Maya esteve sempre ao lado. Pode não ser conhecido do público, mas é da casa: está na instituição financeira praticamente desde que saiu da faculdade, onde se formou em gestão. Ou seja, há mais de duas décadas. “Maya é um gestor que não foi feito à pressa”, disse ao ECO uma das pessoas que melhor o conhece profissional e pessoalmente. O homem que vai substituir Nuno Amado no cargo de CEO já passou por várias áreas do banco, tendo ocupado mais recentemente o cargo de vice-presidente da comissão executiva.

“Limpeza” do malparado tem de continuar…

Não é por conhecer bem os “cantos à casa” que vai ter uma vida facilitada na liderança do banco. Tem pela frente uma série de desafios, a começar pelo ainda elevado nível de crédito malparado.

O BCP tem feito um esforço no sentido de acelerar a “limpeza” do balanço. A redução das imparidades com estes ativos, mas também a melhoria da atividade permitiram ao banco aumentar os lucros para 85,6 milhões de euros no primeiro trimestre.

Para este ano, há uma nova meta para os chamados Non Performing Exposure (onde o crédito malparado tem grande peso): “limpar” 1,5 mil milhões de euros, disse Miguel Bragança, CFO do BCP, numa conference call com analistas, deixando o valor final para um novo plano estratégico a apresentar, segundo o Expresso (acesso pago), durante o mês de junho. Ou seja, já com a nova administração validada pelos acionistas.

BCP está a reduzir NPL, mas é preciso continuar

Fonte: Resultados do BCP | Valores em milhões de euros

… mas a rentabilidade tem de acelerar

A “limpeza” do balanço vai prosseguir, podendo até acelerar com o novo plano. Mas é preciso continuar a aumentar a rentabilidade do banco que agora terá um novo líder.

O BCP regressou a resultados positivos, mas a meta ainda não foi alcançada. Nuno Amado estabeleceu para este ano uma rentabilidade dos capitais próprios em torno dos 10%.

“Será por entre o aumento do resultado e alguma redução do custo do risco que iremos conseguir um ROE (Return On Equity) à volta de 10%, que é como quem diz entre os 9,5% ou 10,5%. Os números ainda parecem distantes mas a conjugação dos fatores dará um contexto favorável para o cumprimento”, disse Amado, que agora deixa o cargo. Terá de ser Maya a alcançá-la.

E a quota de mercado?

Um dos desafios que Miguel Maya também terá pela frente será recuperar o estatuto de maior banco privado no mercado nacional em ativos, título que perdeu há cerca de um ano para o Santander Totta, depois de o banco liderado por António Vieira Monteiro ter integrado o Banco Popular.

Com a compra do Popular, o valor dos ativos do Santander Totta passou a ser de 53,9 mil milhões de euros, acima dos cerca de 52 mil milhões de euros do BCP só em Portugal. E, apesar de os trimestres passarem, o BCP continua sem conseguir “roubar” o título ao rival controlado por capitais espanhóis.

Para aumentar a quota, o BCP terá, no entanto, que conseguir atrair mais clientes, especialmente aqueles que procuram crédito (sejam particulares, mas a preferência recairá nas empresas tendo em conta os valores mais expressivos dos empréstimos).

Conseguir recuperar a quota de mercado poderá obrigar o BCP a adotar uma política comercial mais agressiva, oferecendo, por exemplo, taxas de juro mais atrativas (ou seja, mais baixas). Mas isso penalizaria a rentabilidade do banco. Maya terá, por isso, pela frente o desafio de encontrar um equilíbrio entre crédito atrativo, mas capaz de gerar margem suficiente para contribuir para a rentabilidade.

Dividendos? Amado prometeu… Maya tem de cumprir

Miguel Maya terá a pairar sobre si uma promessa deixada por Nuno Amado aos acionistas na apresentação dos resultados para o primeiro trimestre: “Poderão ser remunerados com dividendos já em 2019”, com base nos resultados deste ano, disse então o gestor.

"[Os acionistas] poderão ser remunerados com dividendos já em 2019.”

Nuno Amado

CEO do BCP

Segundo Miguel Bragança, CFO do BCP, tudo indica que Maya será capaz de cumprir. “Neste momento, estamos a aproximarmo-nos de um rácio de capital CET1 de 12% (…) estamos a gerar capital orgânico e o que faz sentido é que distribuamos esse capital aos acionistas”, disse o administrador durante uma conference call em resposta a analistas e investidores.

Olhando para os números, a melhoria está à vista. No ano passado, o banco lucrou 186,4 milhões de euros, o que ficou quase oito vezes acima dos 23,9 milhões registados pelo BCP no mesmo período do ano anterior. No arranque deste ano registou um resultado positivo de 85,6 milhões, uma subida de 70% face ao período homólogo. Quando começar a pagar, o que estava definido seria entregar 40% dos lucros.

Gerar retorno… também com as ações

O pagamento de dividendos é uma das formas de gerar retorno aos investidores. Mas não só. Tanto a Fosun como a Sonangol, bem como os outros grandes e pequenos investidores querem conseguir ganhar na bolsa, com as ações do BCP.

Uma parte desse compromisso dependerá da nova administração, que terá nos seus “ombros” a responsabilidade de garantir que o banco continua a recuperação encetada, atingindo as metas de rentabilidade, mas também assegurando lucros que possam ser distribuídos sem afetar os rácios que garantem a estabilidade da instituição.

Mas o mercado… é o mercado. E nem Amado, nem Miguel Maya conseguirão contrariar tendências negativas generalizadas como a que se está a assistir neste momento. Primeiro foi Espanha, agora é Itália a fazer estremecer os mercados. Com os juros da dívida a acelerarem, o risco da banca está a subir, levando os investidores à venda indiscriminada de títulos do setor.

O BCP, sendo praticamente o único banco cotado em Lisboa (o BPI tem apenas 6% em bolsa, estando prestes a sair do mercado de capitais), tem sido fortemente castigado. Afundou nas últimas sessões, tendo mesmo caído mais de 8% antes de Maya ser aprovado pelos acionistas. Está nos 23,92 cêntimos, um mínimo de setembro.

BCP perde mais de 300 milhões em apenas uma sessão

Só na última sessão perdeu 300 milhões, mas em cinco sessões o rombo já vai em 650 milhões de euros. Ainda assim, o banco continua a apresentar uma avaliação de 3,6 mil milhões de euros. Apesar de não ser o título mais valioso da bolsa nacional (é a Galp Energia), é aquele que comanda o destino do PSI-20.

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