BCE deve ser cauteloso na retirada dos estímulos, avisa Summers
Antigo secretário de Estado do Tesouro americano, Lawrence Summers diz que as principais economias do mundo têm de evitar uma nova recessão a todo o custo para impedirem a expansão do protecionismo.
Lawrence Summers defendeu que os bancos centrais devem ser cautelosos na retirada dos estímulos à economia, alertando para os perigos de uma nova recessão económica mundial. O antigo secretário de Estado do Tesouro norte-americano frisou que os países mais desenvolvidos não estão preparados para um novo cenário económico adverso, sublinhando que a política monetária não deve ter apenas como objetivo conter uma taxa de inflação à volta dos 2%.
As palavras deste conhecido falcão (um hawk, que simboliza maior conservadorismo no que toca à implementação de políticas monetárias) foram feitas na abertura do Fórum do Banco Central Europeu (BCE), em Sintra, e surgem numa altura em os bancos centrais das principais economias do mundo iniciaram já a retirada dos estímulos monetários. Como o BCE anunciou ainda há dias.
“É uma questão da maior urgência evitar num futuro previsível, e durante o maior tempo possível, outra recessão económica“, disse Summers. “As consequências de uma desaceleração económica superam massivamente as consequências adversas associadas à inflação, que estão um pouco acima de 2%”, referiu ainda responsável que chegou a ser apontado para substituir Ben Bernanke na liderança da Reserva Federal norte-americana.
Para Summers, além do objetivo da inflação, os bancos centrais devem ter também trabalhar tendo em vista o pleno emprego sustentável — atualmente, o mandato do BCE apenas se cinge ao objetivo da estabilidade dos preços.
Alertando para os perigos de um nova recessão global, Summers deu o exemplo dos EUA e do movimento populista que levou Donald Trump a vencer as últimas eleições presidenciais quando o desemprego estava em cerca de 4%.
“O que seria se o desemprego estivesse nos 8%? Uma inversão do ciclo económico não vai fazer mais nada do que ampliar a pressão para o populismo, para o protecionismo e para um colapso sistémico e o regresso ao nacionalismo económico”, lembrou o responsável.
Digitalização fragmentou mercado de trabalho
Momentos antes, no discurso de receção aos convidados do fórum, o presidente do BCE, Mario Draghi, alertou para o facto de a digitalização da economia poder contribuir para a fragmentação do mercado de trabalho.
“A digitalização abriu novas avenidas ao fornecimento de serviços, aumentou a transparência dos preços entre fornecedores e facilitou novos métodos de fixação de preços”, disse o líder do BCE numa breve intervenção. Mas isto “pode contribuir para a fragmentação do mercado de trabalho”, avisou.
O italiano prometeu uma agenda “mais rica do que nunca” nos próximos dois dias de debate em Sintra, onde banqueiros centrais e economistas se vão debruçar sobre o tema da fixação dos preços e dos salários nas economias avançadas.
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