Sara Santos foi escolhida para ser "CEO por um mês" da Adecco Portugal. O ECO foi acompanhar o quotidiano da jovem que, aos 22 anos, está a ver de perto como é ser uma líder empresarial.
Ao fundo, o rio. Sobre ele, o trânsito das nove da manhã flui atarefado, na tira de metal que une Lisboa ao Montijo. A sala de espera da Adecco Portugal — no oitavo piso do edifício Mar Vermelho, no Parque das Nações — é uma imensa janela para esse casamento de azul esverdeado, branco e cinza. À hora marcada, Sara surge, de caderno preto na mão, cabelo liso escorrido e óculos azul-marinho. “Olá. Tenho de ir ter com a Marta, da prevenção”, diz a mais recente vencedora da etapa nacional do concurso “CEO por um mês”.
O oitavo andar é assim trocado pelo nono e, a receção, por um piso repleto de secretárias mais ou menos alinhadas. De blazer florido e rabo de cavalo impecável, a líder do departamento de prevenção de riscos laborais da filial portuguesa desta gigante dos recursos humanos aguarda a chegada de Sara Santos, para logo seguirem juntas para a pequena sala, onde terão a primeira reunião do dia.
Relaxada, Sara parece à vontade com o que a rodeia, como se as últimas semanas passadas nos gabinetes dos vários diretores da Adecco Portugal tivessem sido, na verdade, uma vida inteira.
Desde o início de julho que o número 50 da rua D. João II é uma segunda casa para a jovem, tendo ela sido a escolhida para acompanhar a diretora-geral da Adecco Portugal e, assim, descobrir como é ser um líder empresarial.
Estas três semanas foram passadas, no entanto, não somente ao lado de Carla Rebelo, mas com os principais rostos da empresa. “Todos os dias é como se fosse o meu primeiro dia de trabalho”, explica. “[Este modelo] tem duas vantagens. Permite à Sara ter um conhecimento acelerado e ter acesso a reuniões a que as pessoas só têm acesso ao fim de dez anos de carreira. E depois dá-me a visão de uma pessoa que é de uma geração diferente da minha“, sublinha Rebelo.
Por isso, esta manhã, quem divide a sala com a rapariga de olhos claros não é a diretora-geral, mas Marta Silva, que lhe promete explicar o que é, afinal, esse trabalho de fintar o perigo e diminuir riscos.
Quer muito aprender. A Sara é uma miúda especial, porque é muito adulta para a idade e isso vai fazer com que se distinga. É muito focada.
“A Sara é uma miúda especial”
Na pequena sala, há apenas uma mesa fina e branca que acomoda a jovem e a profissional. “O que é o risco? E o que é o perigo?”, pergunta Marta, franzindo o sobrolho. Sara desvia o olhar, inclina a cadeira, mastiga a questão e devolve-lhe o sorriso. “Vou explicar, porque eu sou professora”, atalha a representante, relembrando o início da sua carreira. “Explica-me lá”, atira Sara, gargalhando.
A conversa vai sendo derramada ao longo de quase duas horas, entre anotações atentas e perguntas incisivas de Sara. “Como se calcula a taxa de sinistralidade?”, “Quais as pequenas coisas que as empresas têm de ter e não têm?” ou “Quais áreas de trabalho têm maior risco?”. Marta responde com disposição, enchendo o discurso de exemplos e pequenas recordações.
No fim da longa reunião, a primeira vencedora feminina da edição portuguesa do “CEO por um mês” pergunta: “O que te fez escolher esta área da prevenção?”. Marta sorri, perdendo-se nas memórias de uma carreira já longa. “Há amigos meus que dizem que nasci para detetar o erro”, começa, lembrando rapidamente a sua passagem pela educação. “No fundo, estou sempre ligada a processos de melhoria e às pessoas”, salienta, dando por terminado o encontro.
“Vem agora alguém?”, pergunta. Sara assente com a cabeça, antes de saltar do seu lugar para se hidratar. “Quer muito aprender. A Sara é uma miúda especial”, aproveita Marta. A profissional elogia-lhe o foco, a vontade de aprender e a sua maturidade, deixando-lhe contudo um alerta: “É preciso trabalhar para o que vem depois do horário laboral. Receio que ela chegue aos 30 e sinta que a vida lhe passou”.
“23 anos? É a pessoa com mais tempo de casa”
O assento de Marta é rapidamente ocupado por Lurdes Garret, que entra na pequena sala de semblante fechado. A líder do departamento de controlling dos colaboradores de outsourcing coloca o computador à cabeça da mesa e começa a sua apresentação.
Ainda descontraída, Sara vai apontando conceitos, menos interventiva. “Eu passo-te o power point. Está descansada”, quebra o ritmo (e o ambiente sério) a responsável. Respira fundo e lança-se novamente no discurso monocórdico.
No fim, Sara repete a pergunta: “O que te fez escolher esta área?”. Lurdes pensa dez segundos antes de começar a contar-lhe a sua história no grupo suíço… uma história de mais de duas décadas. “23 anos? É a pessoa com quem falei que está aqui há mais tempo”, atira, surpreendida, a jovem. Lurdes regressa ao passado para terminar com um “continuo a dizer que todos os dias aprendo uma coisa nova” que enche o espaço de alegria.
A última sílaba de Lurdes marca o fim do ritual costumeiro das manhãs de Sara: reuniões informativas com os responsáveis pelas várias áreas da empresa. À tarde, o trabalho estende-se por quem está no terreno e, mais uma vez, flutua de área em área.
As mulheres são líderes natas e a Sara apresenta muito essa capacidade de liderar.
Vencedores há muitos. Vencedora, só uma
Mas como chegou Sara a este nono andar no Parque das Nações? “Estava a assistir a um workshop de produtividade, daqueles que são obrigatórios nos mestrados da Universidade Católica, e vi no computador de um rapaz a frase ‘CEO por um mês’. Fui procurar depois e o programa estava em todo o lado”, explica. Desse momento à sua candidatura foram uns poucos cliques e até à vitória foram alguns meses.
Sara acabou por ganhar a primeira edição deste concurso que, a nível nacional, contou com mais interessados mulheres do que homens… um facto curioso, tendo em conta que ela própria é a primeira vencedora da fase lusitana deste concurso internacional. “As mulheres são líderes natas e a Sara apresenta muito essa capacidade de liderar”, comenta Carla Rebelo.
A gestora considera Sara Santos uma “jovem com imenso talento”, elogiando-lhe a capacidade de análise e a sua responsabilidade. “Tem surpreendido muito pela positiva”, assinala.
O prémio desta etapa a nacional foi esta temporada nos escritórios da Adecco Portugal, as possibilidades de passar ao próximo estágio (um workshop em Londres) e até mesmo de concorrer ao prémio final: um mês com o líder executivo do grupo suíço.
Pelo caminho, a Sara têm sido colocados diferentes desafios que, em conjunto com um projeto de inovação e com a avaliação de Carla Rebelo, apontarão a classificação final da jovem. “Queremos encontrar um jovem que tenha todas as características para ser um vencedor”, salienta a diretora-geral.
É um programa estruturante que tem a ver como a Adecco entende o seu papel na sociedade.
“É um programa estruturante”
O programa “CEO por um mês” é descrito pela Adecco como uma oportunidade única de descobrir como é ser um líder empresarial. “É um programa estruturante que tem a ver com a forma como a Adecco entende o seu papel na sociedade”, explica Carla Rebelo. De acordo com a diretora-geral da filial portuguesa da gigante, esta competição está sobretudo ligada a um dos valores essenciais do grupo: a promoção da empregabilidade jovem. “Há que colocar os jovens o mais depressa possível em contacto com as empresas”, nota a gestora.
A Adecco é o grupo líder a nível mundial em soluções de Recursos Humanos. Com uma equipa de mais de 33 mil colaboradores, o grupo suíço procura diariamente em 60 países talentos para as cem mil organizações que são suas clientes. Em Portugal desde 1989, o grupo tem 17 agências em território nacional.
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Ser “CEO por um mês”? Aos 22 anos, Sara está a experimentá-lo
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