Restrições ao comércio ameaçam crescimento económico, alerta o Banco Mundial
As restrições ao comércio entre as maiores economias são uma ameaça para o crescimento económico global, afetando a confiança e o investimento em todo o mundo, diz o Banco Mundial.
As restrições ao comércio entre as maiores economias são uma ameaça para o crescimento económico global, afetando a confiança e o investimento em todo o mundo, considera um economista do Banco Mundial.
Desde o início do ano, os Estados Unidos ameaçaram impor novas tarifas aduaneiras sobre as importações provenientes dos seus parceiros comerciais, como a China ou a União Europeia, o que levou a retaliações por parte dos países aos quais foram aplicadas estas medidas, nomeadamente a China.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker anunciaram hoje um acordo que promete tréguas nesta guerra comercial, mas os riscos não estão totalmente afastados.
“Estas novas tarifas podem deprimir o comércio global, afetar as cadeias de abastecimento globais e aumentar a procura por produtos substitutos provenientes de outros países. Podem também reduzir o investimento, já que as empresas adiam as decisões por causa da incerteza sobre o acesso ao mercado”, adiantou à Lusa o diretor do grupo de perspetivas de desenvolvimento do Banco Mundial, Ayhan Kose.
“As dificuldades acrescidas no acesso ao financiamento a nível global – espoletadas pela reavaliação dos riscos de inflação, alteração nas expetativas relativas às políticas monetárias nas economias avançadas ou preocupações sobre os riscos de crédito – podem induzir ‘stress’ financeiro nos mercados emergentes mais vulneráveis e nos países em desenvolvimento”, observou.
A materialização destes e doutros riscos pode levar a um abrandamento global da economia, maior do que o esperado.
Ayhan Kose disse que há várias lições a reter da crise financeira mundial, que expôs várias limitações na regulação e arquitetura financeiras, sobretudo no que respeita à avaliação de riscos e vulnerabilidades sistémicas.
“A natureza global da crise financeira deixou claro que a integração dos mercados financeiros, embora traga benefícios, também apresenta riscos significativos pelo que é necessária uma arquitetura financeira adequada para salvaguardar a estabilidade num mundo em que os mercados financeiros estão cada vez mais integrados”, destacou, acrescentando que as medidas entretanto adotadas melhoraram “a resiliência do sistema financeiro”.
Sobre a redução dos programas de estímulos monetários (“quantitative easing”), que já está a ser implementada pela Reserva Federal norte-americana e pelo Banco Central Europeu, considerou que são “desenvolvimentos positivos”, pois indicam uma normalização da política monetária, sinalizando uma melhoria da atividade económica e uma aproximação da inflação às metas definidas pelos bancos centrais.
“A normalização destas políticas é importante para dar margem, em termos de política monetária, para lidar com possíveis choques económicos”, declarou o economista do Banco Mundial.
Mesmo assim, o fim planeado da compra de ativos por parte dos bancos centrais deve pressionar os juros da dívida de longo prazo, a nível global, e pode agravar os custos de financiamento, o que não é encarado com preocupação.
“Os bancos centrais têm normalizado gradualmente as suas políticas monetárias para assegurar que a recuperação é sustentada e que as economias têm tempo suficiente para se ajustarem à subida das taxas de juro”, adiantou Ayhan Kose.
Impacto das migrações é positivo, mas benefícios devem ser repartidos
A mobilidade laboral é positiva para os migrantes e para os países de destino, mas os benefícios económicos devem ser repartidos de forma igualitária entre os cidadãos, defende também o diretor do Banco Mundial.
Ayhan Kose citou um relatório recente desta organização “Moving for Prosperity: Global Migration and Labor Markets”, segundo o qual o aumento da mobilidade laboral se traduz em ganhos não só para os imigrantes, mas também para o país de destino.
No entanto, disse, “estes benefícios não estão igualmente distribuídos já que a imigração pode implicar a deslocação de cidadãos nacionais que competem mais diretamente com o trabalho dos imigrantes”.
O economista sugere que políticas como os apoios à recolocação, benefícios sociais e proteção no desemprego podem ajudar a compensar os custos da deslocação de curto prazo dos trabalhadores nacionais e distribuir de forma mais igualitária os benefícios económicos gerados pela mobilidade laboral.
Questionado sobre as perspetivas de crescimento económico de curto prazo para os países em desenvolvimento, adiantou que são “encorajadoras”, mas podem não ser suficientes para assegurar o progresso e aliviar a pobreza.
Os países exportadores de matérias-primas, como Angola ou o Brasil, estão vulneráveis às possíveis perturbações nos mercados financeiros e ao crescente protecionismo comercial e enfrentam riscos no plano interno, devido à incerteza política.
“Uma grande descida nos preços das matérias-primas poderia ter um impacto negativo significativo sobre o sentimento e a atividade económica dos exportadores de matérias-primas e ameaçar os esforços de consolidação orçamental”, afirmou.
Quanto a medidas para ajudar a reduzir a pobreza e a desigualdade, sugeriu mais “iniciativas políticas para fomentar o capital físico e humano” e incentivos à “participação da força de trabalho, bem como “reformas que impulsionem a educação e a mobilidade social intergeracional”.
Ayhan Kose salientou, por outro lado, que o aprofundamento da integração económica mundial e as medidas de liberalização do comércio devem ser acompanhadas de “esforços políticos que visem corrigir possíveis impactos adversos nos grupos vulneráveis”, nomeadamente através de formação e reconversão profissional e adaptação à mudança tecnológica.
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