A Nova School of Business and Economics mudou de casa. Trocou o "apertado" antigo Colégio dos Jesuítas por um amplo campus à beira-mar. O ECO foi conhecê-lo e teve direito a visita guiada.
Sem teto. É assim que se devem fazer, diz Daniel, os sonhos dos universitários portugueses. E foi assim que se fez o novo campus da faculdade de que é diretor… ou quase.
A Nova School of Business and Economics (SBE) mudou de casa e passou a ter como cúpula uma imensa estrutura de vidro. Esse é, de resto, o material mais presente em todas as superfícies deste novo edifício, uma escolha que se fez em jeito de concretização literal da transparência que deverá marcar todas as relações semeadas entre estas paredes. Quem o explica ao ECO é o dean dessa instituição, Daniel Traça.
“A faculdade não vive em espaços fechados”, sublinha o professor, do alto da varanda que, no segundo piso, abraça o perímetro do átrio principal. De camisa branca, calças caqui e olhar confiante, Traça não hesita em considerar que este novo campus mudou “completamente a cultura da escola”.
O “apertado” espaço do antigo Colégio dos Jesuítas, em Campolide, foi substituído por uma imenso edifício com muitos braços, constituídos por salas de aulas, biblioteca, restaurante, ginásio e, é claro, vários espaços amplos a serem usados como, imagine-se, cafés Starbucks.
“Queremos que estar nesta faculdade seja como estar num Starbucks. Vamos lá para tomar café, namorar, ler, estudar, conversar”, salienta o diretor. Afinal, reforça Traça, a faculdade “vive das interações que nela se passam”. Mas a ideia é também que os espaços de convívio sejam usados para discutir ideias de negócios, acrescenta.
“A universidade como sítio onde se está”
Daniel Traça avança confiante pelo corredor. Sorri levemente e indica: “Estas são as salas de aulas”. Os espaços são minimalistas: as paredes estão pintadas de branco; as mesas e cadeiras são cinza; as janelas assumem-se como protagonistas.
“Estas estão em disposição plana, mas há também salas em auditório. Estas têm mesas em fila, mas há outras com mesas redondas”, vai explicando. Apesar de sublinhar que as salas foram pensadas para otimizar o tempo gasto em aulas, o diretor reconhece que “a maior parte da aprendizagem” acontece fora destes espaços.
Por isso, o novo campus não é apenas um aglomerado de salas deste tipo: é um pequeno puzzle de ambientes que pretende fazer da universidade “um sítio onde se está”.
A mudança do coração da cidade para a beira-mar segue, exatamente, essa pretensão: aqui os alunos ficam menos expostos “às distrações” que são promovidas pelo buliço da capital e, consequentemente, mais abertos à reflexão não apenas sobre os problemas que afetam o mundo, mas também sobre si mesmos.
É que, diz Daniel Traça, as universidades têm de ser espaços onde os estudantes descubram o seu propósito e identidade, exercendo a “capacidade de serem exploradores”.
O futuro, acrescenta o diretor, é mesmo daqueles que ganhem grit: “Esta capacidade de acreditarmos em nós, de ultrapassarmos as dificuldades, de termos ambição e de nos mantermos fiéis aos caminhos que definimos para nós próprios”.
A cimentação do “castelo de ar”
O arrulhar das máquinas que finalizam a concretização deste campus é constante. O bip, bip, bip mistura-se com a conversa animada das muitas centenas de estudantes que já estão a experimentar esta nova casa da SBE. Pioneiros, chama-lhes Daniel. São os primeiros a testar o resultado deste sonho, que já tinha quase uma década de existência quando se tornou nesta realidade.
“Começamos a pensar nisto há pouco menos de dez anos. Lembro-me que começamos a pensar neste projeto e logo nessa altura chegou a troika a Portugal”, conta ao ECO o diretor da faculdade.
“Quando a troika chegou a Portugal, todas as ideias de futuro para o país perderam-se. Achámos que devíamos fazer não o que Portugal era, mas o que devia ser e, portanto, continuamos a acreditar”, lembra, referindo que, nesse período, o país perdeu “toda a confiança nas escolas”, o que dificultou a concretização deste projeto.
Entre essa custosa conceção e o parto (a inauguração das novas instalações acontecerá no final do mês), os tijolos foram-se amontoando com ajuda daqueles que acreditavam no projeto. Por isso, hoje, muitos dos auditórios e salas deste novo campus têm à porta icónicos nomes portugueses, como o da Jerónimo Martins.
“Pouco a pouco, foi-se criando um movimento. O processo de fundraising para este campus foi um movimento de um Portugal ambicioso, internacional e onde se fazem coisas para o mundo“, enfatiza o diretor, com um semblante visivelmente orgulhoso.
“Um oásis para talento internacional”
De volta ao átrio principal, junto às imponentes escadas que dão acesso ao andar dedicado aos serviços académicos, duas jovens sorridentes conversam com entusiasmo. Mareike Doeden e Cecile Semling são alemães e esta é a sua estreia em Portugal. “Têm ótimas praias”, diz a primeira. “E muito sol”, nota ainda a segunda, gargalhando.
Vão passar este semestre do seu mestrado por aqui e, portanto, já estão a desfrutar das primeiras sessões de boas-vindas. “É um espaço muito bom. Só me pergunto porque construíram uma biblioteca tão pequena”, repara Mareike.
Rui Santos, aluno do primeiro ano de mestrado, acrescenta: “Este conceito de que é tudo muito transparente de facto nota-se”. O rapaz de t-shirt branca e jeans escuros elogia o projeto, reforçando que o campus está construído de modo muito intuitivo, mas reclama que é difícil chegar até lá.
Santos, Doeden e Semling integram o grupo dos mais de mil alunos que vão experimentar, pela primeira vez, a nova casa, quais descobridores que partiram dispostos a enfrentar qualquer prova.
E por falar em descobridores, Daniel Traça considera que a oportunidade de que Portugal dispõe de se tornar “num oásis para talento internacional” é tão valiosa como foi, historicamente, a descoberta Brasil, em 1500. Isto num mundo que se está a fechar e, portanto, onde mais e mais empresas estão à procura de hubs de liberdade e segurança onde possam empreender.
Mas como pode, então, Portugal atrair esses talentos e estancar a flagrante fuga de cérebros? “A fuga de cérebros é menos grave do que aquilo que as pessoas fazem”, realça o diretor, valorizando a experiência internacional.
Daniel Traça adianta que o que é preciso é criar condições para que os que foram à procura desses novos mundos voltem para usufruir dos frutos por terras lusitanas e acrescenta que “um tratamento fiscal mais interessante” pode incentivar esse regresso.
Ainda assim, deixa um aviso: o segredo para o desenvolvimento do país está em incentivar não só o nascimento de ideias, mas também o seu escalar.
Afinal, de startup a gigante vai apenas uma aceleração, conclui o professor.
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Nova SBE muda de casa. Nesta faculdade, estuda-se como se estivéssemos num Starbucks
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