Empresários arrasam proposta do PS sobre disparidade salarial
Empresários dizem que a fixação dos salários nas empresas privadas não é competência do Governo. Dizem que proposta é descabida e referem que há temas mais importantes para discutir.
A proposta do PS de aumentar a taxa social única para travar a disparidade salarial nas empresas está a receber muitas críticas por parte dos empresários nacionais. Em causa dizem está o facto de a medida em nada resolver as diferenças entre os salários mais altos e os mais baixos e, sobretudo, relembram ao grupo parlamentar do PS que as remunerações nas empresas privadas não são responsabilidade dos partidos políticos.
Uma crítica que, de resto, vem ao encontro da posição já defendida pelo presidente da CIP. António Saraiva, em declarações ao ECO mostrou-se estupefacto com a proposta. “É um perfeito absurdo que se queiram envolver em matérias que são da exclusiva responsabilidade dos acionistas”.
Apesar de os empresários reconhecerem que há casos gritantes de disparidade, a maioria diz que isso são situações pontuais e que essas diferenças são pouco acentuadas na maioria das empresas nacionais, mas alertam que é o mercado que deve “gerir” o… mercado. Aliás, há mesmo quem garanta que na sua empresa não existem diferenças salariais. É o caso de José Alexandre Oliveira, da Riopele. Uma situação que, garante, é extensiva a todo o setor têxtil.
“Não se percebe o Governo estar a mete-se nisso, quando as nossas empresas estão numa economia e numa concorrência global”, sublinha José Manuel Fernandes, presidente da Frezite.
Também bastante crítico, o presidente da Gelpeixe considera a proposta do PS, “um total disparate”. “Aconselho o PS a preocupar-se com os salários nas empresas públicas, onde existe muita falta de justiça”, diz Manuel Tarré.
Por seu turno, Eugénio Santos, presidente da Colunex, considera a proposta descabida, “pois não faz sentido regulamentar para limitar a competência”. O presidente da Colunex defende que “o que se deve é incentivar e premiar o emprego e os recursos em função da competência“.
O tema foi discutido esta sexta-feira na Assembleia da República, quando foi apresentada a primeira proposta sobre o tema da autoria do Bloco de Esquerda. Mas o PS, apesar de ter também uma proposta deste âmbito, rejeita legislar já o combate à disparidade salarial, preferindo remeter a discussão do tema para a concertação social. O chumbo já estava preanunciado já que, no final da reunião semanal do grupo parlamentar, o líder da bancada, Carlos César, justificou que “para o PS, questões como estas, envolvendo salários e remunerações, devem transitar no âmbito da Concertação Social antes de uma tomada de posição definitiva. Por isso mesmo, independentemente do conteúdo do projeto do Bloco de Esquerda, para o PS, o que é relevante é que o debate ocorra primeiro em sede de concertação social e só subsequentemente em sede de aprovação legislativa na Assembleia da República”.
Mais do que não entender como é que o PS quer limitar os salários, Manuel Violas, presidente do grupo Solverde e chairman da Super Bock, levanta a questão “é assim que pensam que vão ajustar os salários?”. A solução, garante, não passa por aí.
Já Armindo Monteiro, presidente da Compta, deixa outra questão: “Porque é que sempre que o Governo tenta corrigir algo que está mal, isso implica mais taxas e mais impostos, logo mais receita para os cofres do Estado?”. Monteiro faz mesmo uma analogia: “É como se para acabar com a sinistralidade nas estradas apenas se aumentassem as multas.”
Há temas mais importantes
Numa altura em que se aproxima a data de apresentação do Orçamento de Estado para 2019, os empresários consideram que “há temas mais importantes para discutir” do que o da disparidade salarial para trazer para a agenda política.
O tema foi trazido para a agenda política em agosto, pela mão do próprio primeiro-ministro. Em entrevista ao Expresso (acesso pago), António Costa referiu-se ao caso das empresas do PSI20, tendo mesmo falado do caso EDP. “Se olhar para o Estado e comparar o ordenado do senhor Presidente da República, que é o topo do Estado, ele é 17 vezes o salário mínimo nacional e cinco vezes o salário médio. Mas se for às empresas do PSI-20, a diferença entre o ordenado mais alto e o salário mínimo é de cem vezes e, relativamente ao salário médio, é 37 vezes. E se for a uma empresa tipo EDP vai ver que o salário de topo é 210 vezes o salário mínimo. Não é aceitável esta disparidade e o desinvestimento que as empresas fazem nos quadros jovens. Isto tem de mudar sob pena de perdermos esta geração”, disse António Costa.
Ainda assim o presidente da Calvelex, César Araújo, diz que é bem mais importante “perceber o que é que o Estado pode fazer para ajudar os setores que atuam nos mercados globais”. Isso, afirma, é que devia ser uma preocupação do PS e do Governo.
Manuel Violas diz mesmo que “esta é uma forma de desviar as atenções dos temas que verdadeiramente importam”. Tarré partilha a opinião e alerta para o facto de o Governo estar a disparar em direções erradas. “O Governo devia estar preocupado em reduzir o impacto dos gastos públicos”.
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