Ministro da Defesa garante que não sabia do encobrimento no caso Tancos
Azeredo Lopes desemente as alegações do major Vasco Brazão de que teve conhecimento da operação de reaparecimento de armas furtadas de Tancos.
O ministro da Defesa, Azeredo Lopes, negou esta quinta-feira “categoricamente” ter tido conhecimento de qualquer “encobrimento” no caso da recuperação do material militar furtado nos paióis em Tancos. E o primeiro.-ministro reiterou a sua confiança no ministro da Defesa.
“Queria dizer categoricamente que é totalmente falso que eu tenha tido conhecimento de qualquer encobrimento neste processo. Não tive conhecimento de qualquer facto que me permitisse acreditar que terá havido um qualquer encobrimento na descoberta do material militar de Tancos”, garantiu aos jornalistas em Bruxelas.
Já o primeiro-ministro António Costa, disse ao Expresso, desconhecer “em absoluto o que tenha sido dito por qualquer pessoa em qualquer depoimento, que aliás presumo que esteja em segredo de justiça”. “Conheço o que de modo inequívoco o ministro da Defesa Nacional já declarou em público e que não suscita qualquer quebra de confiança”, acrescentou.
O Expresso noticiou esta quinta-feira que o ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar, major Vasco Brazão, assegurou ao juiz de instrução do caso Tancos ter dado conhecimento a Azeredo Lopes da encenação montada na Chamusca mais de um mês após a recuperação das armas.
De acordo com fontes do processo, citadas pelo semanário na sua edição online, Vasco Brazão garantiu no tribunal ter entregue pessoalmente no final do ano um memorando com a explicação de toda a operação ao chefe de gabinete de Azeredo Lopes. E Expresso online acrescenta que o chefe de gabinete contactou telefonicamente o ministro, à frente dos dois militares da PJM, para o informar da situação.
“Não vou comentar declarações de uma pessoa que eu, tanto quanto sei, nem conheço”, acentuou Azeredo Lopes, referindo-se ao major Vasco Brazão, preferindo não se alongar sobre “um alegado facto que está segredo de Justiça”.
Ministro recusa demitir-se
Por outro lado, o ministro considerou que o pedido de demissão do CDS “não faz sentido nenhum”, e constituiu “uma espécie de ‘bullying’ político”, mas disse encarar “com normalidade” a constituição de uma comissão de inquérito sobre Tancos.
“Neste caso, já tenho um bocadinho a pele dura, porque o CDS pede a minha demissão desde 3 de julho de 2017. Ao fim de um ano, três meses e dois dias, já criei alguma resistência. Sem querer fazer ironia, acho que não faz sentido nenhum. Se tivesse sentido, obviamente já teria apresentado a minha demissão, não tenho apego a cargos que não me leve a ter a lucidez de analisar o que faço”, sustentou.
Azeredo Lopes pronunciava-se, à margem da reunião dos ministros da Defesa da NATO em Bruxelas, sobre a proposta de comissão parlamentar de inquérito ao furto de armas em Tancos para apurar responsabilidades políticas do Governo, quem falhou e por que falharam as medidas de segurança, com os centristas a defenderem também a demissão do ministro.
“Que fique muito claro: aquilo que o CDS pede, pede legitimamente. É um partido político, está a fazer oposição, considera que eu devo demitir-me, por isso encaro isso sem quaisquer hard feelings, sem críticas pessoais, embora às vezes até pareça uma espécie de bullying político”, observou, acrescentando encarar “com toda a normalidade” a constituição de uma comissão de inquérito.
“Embaraço” pelo envolvimento de militares
O ministro da Defesa reconheceu esta quinta-feira que preferiria “mil vezes” que se pudesse olhar para Tancos como “uma questão bem resolvida”, e assumiu o embaraço causado pelo envolvimento de militares numa investigação criminal.
“Se me pergunta se é agradável todo o conjunto de situações que tem vindo a lume, não, não é. Estaria a mentir. Preferia mil vezes que tudo isto não tivesse ocorrido, preferia mil vezes que a investigação já pudesse estar concluída, preferia mil vezes que pudéssemos olhar para Tancos como uma questão bem resolvida”, declarou aos jornalistas em Bruxelas.
Todavia, Azeredo Lopes defendeu que, numa perspetiva mais otimista, prefere que, após a descoberta do material militar furtado dos paióis de Tancos, se esteja mais perto da solução.
Questionado sobre se a detenção do major Vasco Brazão, que estava na República Centro-Africana em serviço com o contingente português da força das Nações Unidas, foi motivo de embaraço durante o encontro dos ministros da Defesa da NATO, o governante argumentou que esta causou apenas “o embaraço e o lado desagradável de qualquer militar que esteja envolvido numa investigação criminal”.
“É o único embaraço que essa situação causa. Agora, repito, respeito muito duas coisas: primeiro, aquilo que está sob segredo de Justiça, segundo a presunção de inocência. O aspeto que é menos bom é qualquer militar ver-se envolvido em qualquer investigação criminal”, completou.
Segundo o Ministério Público, em causa estão “factos suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas”.
A Polícia Judiciária deteve, em 25 de setembro, no âmbito da Operação Húbris, que investiga o caso da recuperação das armas furtadas em Tancos, o diretor e outros três responsáveis da Polícia Judiciária Militar, um civil e três elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé.
Na sexta-feira, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decretou prisão preventiva para o diretor da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira, e para o civil.
O furto de material militar dos paióis de Tancos – instalação entretanto desativada – foi revelado no final de junho de 2017. Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.
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