Dá para prever o Nobel da Economia? Nos últimos cinco anos, deu

  • Marta Santos Silva
  • 7 Outubro 2018

A ciência não é misteriosa -- os mais influentes destacam-se pelas citações do seu trabalho nas obras de outros. Este ano, há novos "Laureados das Citações", que muitas vezes acabam por ser o Nobel.

Prever os Prémios Nobel não é um trabalho fácil. Não existem listas oficiais de candidatos nem de finalistas, o que deixa, em teoria, as hipóteses abertas para qualquer membro do campo em causa. Mas se a vitória de Bob Dylan, por exemplo, no campo da Literatura em 2016 surpreendeu muitos, houve quem já apostasse nele (e tenha ganho muito em troca). E nas áreas científicas, os possíveis vencedores estão mais limitados: quem cria métodos inovadores ou ideias influentes acaba por ver o seu trabalho repercutido no dos pares, que não podem deixar de o citar. É daí que vêm os “Laureados das Citações”.

Esta segunda-feira, a Real Academia das Ciências da Suécia vai apresentar o vencedor do Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel, e nos escritórios da Clarivate Analytics poderá voltar a haver motivo de comemoração — desde 2013 que não há um vencedor deste prémio que os analistas não tivessem já previsto. Com base nas citações feitas em todos os trabalhos científicos publicados nas revistas da enorme base de dados Web of Science, a Clarivate Analytics procura os nomes mais influentes e atribui os Nobel das Citações. Nos últimos cinco anos consecutivos um desses laureados, na área da economia, tem acabado a discursar na Suécia para agradecer o Prémio Nobel.

A Clarivate Analytics não prevê apenas o Nobel da Economia. Desde 2002, foram identificados 46 cientistas por esta empresa que ganharam mais tarde o prémio Nobel — nalguns casos não logo no ano em que foram Laureados das Citações. Por exemplo, os vencedores deste ano do Nobel da Medicina surgiram na lista da Clarivate Analytics em 2016.

Mas é no campo da Economia que o seu método de escolha dos cientistas mais influentes tem sido mais bem sucedido. “O que mais nos interessa são os autores de estudos extremamente citados”, lê-se na descrição da Clarivate Analytics. “Cada citação é um marcador de influência, (…) e uma citação é um pagamento de uma dívida intelectual, já que os autores usam as citações para reconhecer o trabalho anterior e fundacional sobre o qual estão a construir”.

Este ano, a Clarivate Analytics tem dois pares de cientistas e um terceiro nos favoritos para vencer o Nobel da Economia. Quem são, e o que fizeram?

O método Arellano-Bond dos favoritos europeus

Os principais favoritos este ano são a dupla Manuel Arellano, investigador em Madrid, e Stephen R. Bond, da Universidade de Oxford, que criaram, numa publicação de 1991, aquele que é conhecido como o método Arellano-Bond. Os dois economistas têm-se mantido com este artigo, desde então, perto do topo dos mais citados no campo da economia, chegando este a ser considerado o mais citado entre 1991 e 2015 pela plataforma digital francesa Hal.

O método de estimativa Arellano-Bond permite contornar alguns dos problemas que provocam erros nas estimativas de cálculo de uma mudança de política ou de outra variável. O método de Arellano e Bond usa os dados temporais de forma astuta para evitar problemas que existem noutros métodos, permitindo manter uma amostragem grande sem perder a quantidade de instrumentos de análise inicial. Ou seja, é um método muito útil para os economistas, que o continuam a usar até hoje.

O papel da capacidade de absorção na inovação

Outros candidatos sublinhados pela Clarivate Analytics são os investigadores Welsey M. Cohen, da Universidade de Duke em Durham, Carolina do Norte, e Daniel A. Levinthal, da Universidade da Pensilvânia. Estes cientistas são responsáveis pelo conceito da capacidade de absorção.

Este conceito, criado pelos investigadores num artigo seminal, significa a capacidade de uma empresa — ou país, ou organização — assimilar nova informação considerada valiosa e utilizá-la para chegar a melhores resultados.

Os investigadores assinalam a importância da capacidade de absorção no sucesso de uma empresa, pelo que estas devem investir na Investigação e Desenvolvimento para melhorar nesta frente. E acrescentam: “A cumulatividade da capacidade de absorção e o seu efeito na formação de expectativas sugerem um caso extremo de dependência de caminho, no qual uma vez que uma empresa deixa de investir na sua capacidade de absorção num campo que se move rapidamente, pode nunca mais assimilar nem explorar nova informação nesse campo, independentemente do valor dessa informação”.

Cohen e Levinthal também sublinham a importância de uma força de trabalho diversa, ou seja, contratando pessoas de diferentes backgrounds sociais e culturais, o que ajuda a expor os trabalhadores de uma empresa a novas formas de ver o mundo.

Kreps e os fenómenos económicos dinâmicos

Finalmente, isolado, David M. Kreps, da Universidade de Stanford, é reconhecido pela organização por um trabalho vasto que vai desde os fenómenos económicos dinâmicos até à teoria dos jogos e das organizações. O investigador, já premiado repetidamente por outras instituições, faz parte de uma onda de economistas que procura abranger áreas anteriormente excluídas da disciplina como a reputação e a motivação.

Kreps foi considerado pelo economista Andy Skrzypacs, citado num artigo publicado pela Universidade de Stanford, como “o mestre da modelação formal de fenómenos económicos”. Aplicando a sua capacidade de estudar fenómenos complexos e variáveis e aplicá-los a diferentes áreas da economia e das finanças, o grande forte de Kreps é, assim, a sua multidisciplinaridade que lhe permitiu deixar uma marca em diversos campos.

Esta segunda-feira de manhã, vamos saber se foi suficiente, quando o prémio Nobel for anunciado.

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