Dez anos de Web Summit em Portugal vistos por quem vem de fora
Em Portugal, as opiniões dividiram-se sobre a permanência do Web Summit em Lisboa por mais uma década. E quem vem de fora, o que pensa? O ECO falou com empreendedores de várias idades e origens.
O Web Summit vai ficar mais dez anos em Portugal e quem vem de fora parece não estar preocupado com isso. O ECO falou com vários participantes estrangeiros que se deslocaram a Portugal a partir de regiões tão distantes como África do Sul e Hong Kong, mas poucos se mostraram descontentes com a decisão. No início de outubro, soube-se que o país vai pagar 11 milhões de euros por ano à empresa criada por Paddy Cosgrave para que a feira de tecnologia se mantenha em Lisboa por uma década.
Quando o anúncio foi feito, a opinião dos portugueses dividiu-se. Por um lado, muitos congratularam-se pela vitória de Lisboa numa corrida que contava com outras grandes capitais europeias, como Madrid e Berlim. Por outro, também surgiu na opinião pública a ideia de que o investimento foi arriscado, uma vez que dez anos é muito tempo num setor tão dinâmico como é o da tecnologia.
Entre os vários participantes estrangeiros do Web Summit, para quem vem de fora, a permanência do evento em Lisboa não é um constrangimento. São esperadas um total de 70.000 pessoas na conferência ao longo dos vários dias do evento, que termina esta quinta-feira, de acordo com os números da empresa promotora. A última edição terá gerado um retorno económico de 300 milhões de euros para a economia nacional, segundo o número avançado por Manuel Caldeira Cabral, ex-ministro da Economia.
“Foi a melhor aposta que Portugal podia fazer”
Michiel van Dijk é holandês e veio a Lisboa com o objetivo de participar pela segunda vez no Web Summit, bem como apresentar a startup da qual faz parte, a Federated Directory. “Acredito que é muito bom o evento ficar em Portugal. É uma ótima oportunidade para toda a gente e para as startups e empresas que estão aqui”, atira, quando abordado pelo ECO acerca da permanência do evento em Lisboa por mais uma década.
“Amo Lisboa e não apenas por causa do evento, mas porque podemos ir à Baixa, beber qualquer coisa e conhecer pessoas novas. Foi a melhor aposta que Portugal podia fazer”, defende o programador. “Embora seja o mesmo evento, vão existir muitas diferenças ano após ano, e acredito que é bom mantê-lo cá por dez anos”, frisa. Sobre se gostaria de ver uma Web Summit na Holanda, Michiel van Dijk fica pensativo. Mas prefere Lisboa: “A cidade não é demasiado grande nem demasiado pequena. É uma boa combinação e eu adoro este sítio”, conclui.
Mas, e para quem vem de mais longe? Jordan Fung tem 16 anos e é um empreendedor que veio a Lisboa a partir de Hong Kong. Apesar de menor de idade, é fundador do grupo Pedosa, que atua na área das cidades inteligentes. “Não é relevante”, diz, quando questionado pelo ECO acerca da década de Web Summit em Lisboa. “Uma das principais características da tecnologia é que é portátil. Pode estar em qualquer lado. Portugal, e Lisboa, é apenas um dos espaços onde se pode organizar um evento destes. Mas não creio que haja muito risco envolvido neste acordo”, indica.
Isaac Chan, fundador do Conofin Elite Group, veio no mesmo grupo de Jordan Fung e garante que poderia haver “muitas surpresas” se a organização do Web Summit escolhesse outras cidades para hospedarem o evento. Contudo, também não acredita que Lisboa tenha feito uma aposta arriscada: “Eu acho que é ok“, diz. “Este é um sítio realmente bom para alojar um evento destes”, indica. Não deixa contudo de alertar que “a tecnologia está a evoluir rapidamente” e que existem grandes empresas em sítios como Dubai, Hong Kong e Japão que poderiam justificar a exploração de novos locais para a realização do Web Summit.
“É ótimo para Portugal e para toda a gente aqui”
De Hong Kong para a África do Sul. Andrew Everson, da Derivco, uma empresa que desenvolve software para a indústria das apostas, viajou de longe para assistir pela primeira vez ao Web Summit. E acredita que a localização de Lisboa justifica a permanência deste evento por território luso. “É ótimo para Portugal e para toda a gente aqui”, garante, quando questionado pelo ECO num dos vários pavilhões da conferência.
Sobre se gostaria de ver uma edição do evento em África do Sul, Andrew Everson sorri: “Era bom ver algo assim por lá, para atrair muita gente. Mas obviamente que iria criar barreiras de transporte e outras”, reconhece. Também não vê risco na aposta lisboeta para os próximos dez anos. “É uma boa escolha e vai fazer com que a cidade fique conhecida como um polo de tecnologia, o que é bom”, diz.
É uma boa escolha e vai fazer com que a cidade [de Lisboa] fique conhecida como um polo de tecnologia, o que é bom.
O Reino Unido está com um pé fora da Europa por causa do referendo do Brexit, mas isso não exclui a presença de empreendedores britânicos no Web Summit. Este ano, é a primeira vez que John Bushell veio ao evento, que decorre pelo terceiro ano consecutivo na capital portuguesa. “A cidade parece muito cosmopolita, muito bonita. Chegar ao Web Summit foi fácil: apanhámos um Uber até aqui, o que é ótimo. As primeiras impressões são incrivelmente boas. Lisboa parece ter conseguido organizar uma edição maravilhosa do Web Summit”, garante. Também trabalha na Derivco, mas na delegação de Ipswich. Veio de Liverpool.
Já Anna Glowacz-Jachimiak, diretora de operações da 4Best Care, diz-se “tão impressionada como no ano passado”. “Adoro Lisboa e adoro Portugal. Portanto, é ótimo que o Web Summit fique por cá mais dez anos. A organização é ótima, as pessoas são fantásticas aqui e estou muito impressionada”. Veio da Polónia de propósito para o evento. Admite que possa ser uma aposta arriscada, mas contrapõe com o facto de ser uma “ótima oportunidade para Portugal”.
“Adorava que ficasse cá por 10 ou 20 anos”
A credencial de Melanie Jolin não deixa ninguém despercebido. Indica, em letras grandes: “INVESTOR”. Tem ainda um autocolante com a bandeira do Canadá e as iniciais BDC, isto é, Business Development Bank of Canada. Diz ao ECO que veio numa grande delegação norte-americana do banco canadiano que, este ano, decidiu marcar presença no Web Summit — e pela primeira vez.
“Não creio que seja uma opção arriscada [o Web Summit ficar em Lisboa mais dez anos]. Claro que não estou familiarizada com a economia portuguesa, mas, dito isto, a tecnologia está em todo o lado e temos visto muitas empresas a brilhar”, assume. Diz ainda que “é um grande evento” e que fica “satisfeita pelo facto de continuar” em Lisboa. Mas ainda aproveita a oportunidade para “encorajar as mulheres portuguesas a aumentarem as suas redes de contactos e a fazerem crescer os seus negócios”. “Nós, enquanto mulheres, podemos ter um papel maior no ecossistema”, defende.
Arturo Arranz Malco, da Uizard, é parco em palavras, mas estica a ideia: “Adorava que o Web Summit ficasse cá por 10 ou 20 anos. Adoro Lisboa”, diz o engenheiro, a partir de um dos stands do evento na FIL, no Parque das Nações. Veio de Copenhaga, na Dinamarca. “É longe, sim, mas isto é a Europa. Por isso, não há problema”, refere, lembrando que a evolução tecnológica veio para ficar e não vai desaparecer tão facilmente. “Para Portugal foi uma ótima escolha ser anfitrião disto. O evento atrai muitas empresas de tecnologia”, recorda.
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