A Fosun já faz parte do BCP. É positivo para as ações?
Novo acionista, nova vida para o maior banco privado português. A Fosun já faz parte da história do BCP. Mas o que é que isso representa para o mercado? Quatro pontos positivos e cinco dúvidas.
Hoje é o primeiro dia do resto da vida do BCP. Através de uma colocação privada, a Fosun passou desde este domingo a controlar 16,7% do banco português, pagando para isso 175 milhões de euros. A operação foi realizada por um valor 10% abaixo da cotação de fecho de sexta-feira. Apesar do desconto acentuado, as ações subiam esta manhã mais de 5% — encerraram entretanto a cair 0,7%. É desta que o título que acumula perdas de 60% em 2016 descola? Nem por isso, dizem os analistas ouvidos pelo ECO. E isto apesar da entrada do novo acionista ser benéfica para a instituição portuguesa. Confuso?
Primeiro, os pontos positivos.
- Rácios de capital reforçados. De acordo com o Haitong, o aumento de capital de 175 milhões de euros vai permitir que o rácio de capital Tier 1 do banco suba de 9,5% para 10%, “graças a termos muito mais favoráveis que o banco não encontraria se fosse ao mercado”.
- BCP alinha-se aos pares europeus. Acrescenta o Goldman Sachs que o reforço da posição financeira do BCP não deverá ficar por aqui. É que, assim que o aumento do limite de votos para 30% for aprovado, estará livre “o caminho para um segundo aumento da capital, que poderá reforçar a posição de capital para a média dos pares europeus”. Mas isto dependendo do tamanho da potencial oferta de ações e “assumindo que qualquer novo capital não seja usado para o esforço de limpeza do balanço”. Fosun e Sonangol já deixaram a indicação que querem mais.
- Luta sino-angolana. Adicionalmente, com a entrada da Fosun para acionista principal, relegando a Sonangol para segundo maior acionista, os angolanos já sinalizaram que pretendem reforçar a sua participação no banco português. “No longo prazo, consideramos que o fortalecimento da estrutura acionista do BCP emerge como fator positivo”, frisa João Lampreia, da equipa de research do BiG.
- Reembolso das obrigações convertíveis. João Lampreia realça ainda o interesse de chineses e angolanos “num momento em que o BCP terá no início do ano de 2017 de proceder à devolução de 750 milhões de euros de CoCo’s”.
Agora, as dúvidas.
- Preço dececionante. É algo que intriga os analistas. Para o Haitong, o preço de subscrição no aumento de capital de 175 milhões de euros “é de alguma forma dececionante, (…) considerando que o BCP está a negociar próximo de mínimos do ano”. “Acaba por ficar abaixo dos 230 milhões que se projetava inicialmente”, salienta o BiG. Mas as ações subiam mais de 5%… “Não é fácil de entender esta subida dado o nível de risco do título, semelhante ao da banca italiana”, assume João Queiroz.
- Novo aumento pouco atrativo. O Goldman Sachs diz que o segundo aumento de capital será realizado assim que os acionistas aumentarem os limites de votos, algo que acontecerá na assembleia geral de 19 de dezembro. O BiG acredita que o próximo reforço de capital deverá acarretar uma operação com um formato similar a esta última, com prejuízo sobretudo para os pequenos acionistas. “Será um private placement em prejuízo de todos os outros acionistas. Uma operação deste género revela-se, naturalmente, pouco atrativo para os atuais acionistas no imediato – perspetivando-se uma diluição adicional para os pequenos acionistas em torno de 20%”, considera Lampreia.
- Rivalidade condicionada. Se a luta entre titãs pode dar suporte, João Queiroz relativiza este cenário com a limitação da capacidade compradora da Sonangol: “Qualquer hipotética rivalidade pode auxiliar a aumentar o valor de um ativo cotado mas há sempre um limite que deve corresponder ao valor percebido desse negócio para qualquer das partes e à respetiva capacidade de crédito. Pessoalmente não acredito nessa rivalidade porque os preços do petróleo limitam a capacidade compradora da Sonangol”.
"Qualquer hipotética rivalidade pode auxiliar a aumentar o valor de um ativo cotado mas há sempre um limite que deve corresponder ao valor percebido desse negócio para qualquer das partes e à respetiva capacidade de crédito. Pessoalmente não acredito nessa rivalidade porque os preços do petróleo limitam a capacidade compradora da Sonangol.”
- Mantêm-se riscos. Sendo “os mais evidentes” a necessidade de aumentar o rácio de cobertura dos NPL (crédito malparado) para 85%, a subida do grau de cobertura sobre ativos não correntes para 50%, bem como a exposição “significativa” do BCP a ativos por impostos diferidos, que ascende a 1,7 mil milhões de euros, de acordo com o BiG, que assume como “excessivamente otimista” a perspetiva de lucros de 290 milhões de euros em 2017.
- Fatores externos. Para João Lampreia, o setor financeiro europeu “vive momentos de decisão, nomeadamente com o referendo constitucional em Itália (4 de dezembro) que poderá agitar alguns dos pressupostos para a forma de recapitalização da Banca Europeia, além do normativo de bail-in que se encontra imbuído nos pressupostos do atual quadro da União Bancária”. A próxima reunião do BCE (8 de dezembro) também será “absolutamente decisiva”, diz o responsável do BiG.
Tudo somado, os analistas não querem assumir “uma definitiva inversão de tendência do título” do BCP. João Queiroz destaca que o que deveria marcar a recuperação da cotação é, sobretudo, “o desempenho da sua carteira de crédito/financiamento”. “Mas, em boa verdade, devemos lembrar-nos de que, neste momento, 70% da capitalização bolsista do BCP corresponde à sua operação na Polónia”, recorda o diretor do Banco Carregosa.
Para João Lampreia, os níveis de volatilidade sobre o setor financeiro e o BCP em particular deverão manter-se a níveis elevados, tendo em conta os eventos dos primeiros dias de dezembro.
Nota: A informação apresentada tem por base a nota emitida pelo banco de investimento, não constituindo uma qualquer recomendação por parte do ECO. Para efeitos de decisão de investimento, o leitor deve procurar junto do banco de investimento a nota na íntegra e consultar o seu intermediário financeiro.
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