Trotinetas à deriva? Lisboa trava abusos com zonas de estacionamento obrigatório
A Câmara de Lisboa deu até fevereiro para que as empresas de trotinetas criem um mecanismo para que os utilizadores só consigam terminar as viagens nos locais apropriados. Também vai haver multas.
A Câmara Municipal de Lisboa vai obrigar as empresas de trotinetas elétricas partilhadas a implementarem um mecanismo para que os utilizadores só consigam terminar as viagens nos locais apropriados. A autarquia deu até fevereiro para que as cinco empresas que exploraram trotinetas em Lisboa — Lime, Hive, Tier, Bungo e Voi — tenham esta funcionalidade pronta a implementar, avançou ao ECO o vereador Miguel Gaspar. Além disso, cidadãos e operadores poderão ser multados a partir desta ou da próxima semana caso as trotinetas sejam encontradas no meio do passeio.
Em causa estão “duas condições” para a implementação desta medida, que estão “perto” de se verificarem, frisou o autarca: por um lado, a existência de “um grande número de trotinetas na via pública e, por outro, “haver uma grande rede de lugares identificados pelo município para parar as trotinetas”. Em relação à primeira condição, o vereador com o pelouro da mobilidade avançou que existem já entre 2.000 e 2.500 trotinetas elétricas nas ruas. Quanto à segunda, Lisboa está perto de ter 400 locais identificados com condições para o estacionamento destes veículos, e que têm sido assinalados na via pública com autocolantes.
“Nessas circunstâncias, e os operadores já sabem disto, é a nossa intenção, se necessário, vir a obrigar a que o logout [fim da viagem] seja mesmo obrigatório [apenas] nesses locais”, afirmou Miguel Gaspar ao ECO, à margem da apresentação da solução de pagamento de transportes públicos VIVA Go. Questionado sobre quando é que a medida pode vir a ser implementada, o autarca afirmou: “Informámos os operadores de que deveriam estar prontos para esta funcionalidade até fevereiro. Se de facto vamos implementar isso ou não, também depende da nossa capacidade de organização da carga.”
Ao abrigo desta medida, a implementar “na zona central” de Lisboa, os utilizadores só poderão terminar uma viagem de trotineta se esta estiver estacionada num dos pontos específicos para o efeito, que podem ser, ou os assinalados com autocolantes, ou os espaços já definidos para o estacionamento de bicicletas. Isso é tecnicamente possível através da georreferenciação: não só as trotinetas são localizáveis por GPS como estas empresas já estão a partilhar a localização em tempo real com a Câmara Municipal, admitiu o autarca. Também não está excluída a hipótese de limitar o número de trotinetas num determinado local.
Na visão do responsável, esta forma de controlo não põe em causa a mais-valia de estes veículos poderem ser usados e deixados em qualquer lugar. Para o vereador, essa ideia contraria-se criando uma rede de pontos de estacionamento com muita capilaridade, como prevê a segunda condição para que a medida seja implementada.
Informámos os operadores de que deveriam estar prontos para esta funcionalidade até fevereiro. Se de facto vamos implementar isso ou não, também depende da nossa capacidade de organização da carga.
Multas para quem estacionar no meio do passeio
Esta novidade junta-se a outra medida que já era conhecida, mas que está mais próxima do que nunca. A Câmara Municipal de Lisboa já fechou com a PSP e a Polícia Municipal as bases que vão resultar na aplicação de coimas aos utilizadores que deixem as trotinetas no meio do passeio, um dos maiores problemas desta alternativa de transporte. “Já determinámos, juntamente com as equipas de fiscalização, nomeadamente a Polícia Municipal e a PSP, o que é que são de facto as prioridades e, assim como autuamos os carros e as motas em cima do passeio, as trotinetas vão passar a ser fiscalizadas também”, disse Miguel Gaspar ao ECO.
As coimas vão ser passadas, em primeiro lugar, ao utilizador, se for apanhado “em flagrante”. Em segunda instância, as coimas serão passadas às empresas responsáveis pela exploração do negócio, que depois terão de as pagar e eventualmente tentar o reembolso junto do utilizador, uma vez que terão forma de identificar o último utilizador a deixar o veículo estacionado de forma irregular. Questionado esta terça-feira sobre quanto começará a fiscalização ao estacionamento, o responsável afirmou: “Julgo que, se não é esta semana, é para a próxima”.
“Não é aceitável que as trotinetas sejam deixadas no meio do passeio, a bloquear os caminhos a invisuais e a pessoas com mobilidade reduzida. Isso não pode acontecer. Temos de agir nessas circunstâncias”, alertou o vereador. Confrontado com a posição do CDS, que pediu em Assembleia Municipal a realização de um estudo ao fenómeno, o socialista considerou a proposta como “extemporânea”. “Mal seria se nós não tivéssemos estudado este assunto”, contrapôs.
A proposta dos centristas, encabeçada pelo vereador João Gonçalves Pereira, prevê a realização de um estudo sobre a utilização destes veículos em Lisboa até ao final de março, e as projeções para o futuro próximo. “Estão em causa questões de segurança e de estacionamento, por exemplo. É preciso que haja um diagnóstico da situação, um retrato, e depois são precisas regras claras”, justificou João Gonçalves Pereira este sábado, em declarações à Lusa, acusando o executivo liderado por Fernando Medina de promover este meio de transporte sem planeamento.
Lisboa recusa ser Madrid. Há “muito para crescer”
A capital espanhola, Madrid, baniu por completo as empresas de trotinetas elétricas no final do ano passado, o que levantou dúvidas de que pudesse acontecer o mesmo em Lisboa. Mas o autarca responsável pelo tema nem sequer admite esse cenário: “Isso é que está a distinguir Lisboa de outras cidades do mundo, de uma forma muito positiva. Nós criámos uma mesa para o diálogo, para a partilha de informação, onde há um compromisso que vai muito mais longe do que o que acontece noutras cidades. É diferente de Espanha, diferente de algumas cidades americanas, que baniram, só. Nos tempos de inovação, eu não acredito em soluções que passem por banir”, considerou o vereador do PS.
É diferente de Espanha, diferente de algumas cidades americanas, que baniram, só. Nos tempos de inovação, eu não acredito em soluções que passem por banir.
Sobre se ainda considera o fenómeno como “suportável”, como considerava há alguns meses, Miguel Gaspar respondeu afirmativamente. Até porque ainda já “muito para crescer” nas zonas mais periféricas da capital. “[Temos que] garantir que estes modos de transporte estão disponíveis para toda a cidade. Temos muito para crescer em particular na periferia de Lisboa. Estou a falar de Benfica, Lumiar, Carnide, Olivais e a zona ocidental, de Alcântara, Ajuda e Belém. Temos muito para crescer aí, quer de bicicletas, quer de trotinetas”, garantiu. Questionado sobre se está a pensar em criar uma rede pública de trotinetas, como fez com as bicicletas, o vereador exclui por completo essa ideia: “Não, a nossa aposta é completamente nas bicicletas”, retorquiu.
Atualmente existem cinco empresas de trotinetas a operar em Lisboa, duas que já anunciaram estar interessadas na capital e uma que está em fase de testes: Lime, Hive, Tier, Bungo e Voi (a operar), mais a Iomo, Wind (apenas interessadas) e a Flash (que tem um número limitado de trotinetas em Lisboa e deverá começar a operar oficialmente em fevereiro). Segundo disse Miguel Gaspar ao ECO, 14 empresas mostraram interesse junto da Câmara Municipal para obtenção de autorização, mas o número não é certo, pois desconhece-se se algumas delas desistiram entretanto. Uma dessas empresas deverá ser a Bird, que é a principal concorrente da Lime em alguns dos principais mercados europeus e norte-americanos.
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