Moody’s alerta para “danos reputacionais e económicos” causados pela auditoria à CGD

A agência que avalia esta sexta-feira a dívida soberana e explicou, ao ECO, as vulnerabilidades da banca. Apesar do fardo do malparado e das fracas rendibilidades, o outlook é positivo.

Portugal é um dos países europeus sobre o qual a Moody’s está mais otimista, no que diz respeito à banca. Numa região onde Itália é o problema, o outlook é positivo, mas não está livre de riscos. O crédito malparado continua a ser um fardo demasiado pesado para a banca portuguesa, enquanto a auditoria da EY à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) pode acabar por pesar no banco público. A agência alerta para os danos que pode causar.

“A auditoria da EY está relacionada com a gestão realizada por anteriores equipas de gestão do banco. Estamos a monitorizar qualquer tipo de implicação que possa ter do ponto de vista reputacional ou económico“, explicou Pepa Mori, vice-presidente e responsável pela avaliação aos bancos portuguesas, da Moody’s, em declarações ao ECO, por ocasião do encontro anual da agência em Lisboa.

Não fez, no entanto, mais comentários sobre a auditoria, que identificou 46 financiamentos, concedidos entre 2000 e 2015, com os quais a CGD reconheceu perdas de quase 1.200 milhões de euros. O Banco de Portugal está, neste momento, a apurar responsabilidades contraordenacionais e nove dos 44 gestores que passaram pelo banco público no período em questão, sendo que o lugar de Carlos Costa (antigo administrador da CGD) enquanto governador tem sido colocado em causa.

Em outubro, logo a seguir a subir o rating da dívida soberana para grau de investimento, a Moody’s melhorou também a avaliação à CGD em dois níveis. O banco público continuou, no entanto, em nível especulativo, a um nível de ser considerado investimento de qualidade. O CEO, Paulo Macedo, definiu como objetivo que seja dado esse passo até ao final de 2020.

Alberto Postigo e Maria Cabanyes, vice-presidentes da Moody’sHugo Amaral/ECO

Bancos têm “planos ambiciosos” para o malparado

Apesar do alerta sobre a CGD, a Moody’s está otimista para a banca nacional. “Vimos grandes melhorias nos bancos portugueses nos últimos anos e antecipamos que o impulso positivo continue, o que justifica a nossa perspetiva positiva para a banca portuguesa. Um dos drivers das melhorias será a qualidade dos ativos”, afirmou Alberto Postigo, vice-presidente da Moody’s, apontando para o desempenho nos testes de stress da European Banking Authority (EBA), as melhorias nos rácios de capital e a diminuição da exposição a ativos problemáticos.

Os bancos portugueses libertaram dos seus balanços 19,2 mil milhões de euros em créditos em incumprimento desde o pico, em junho de 2016. Ainda assim, continuam a acumular empréstimos não produtivos avaliados em 30 mil milhões e este tem sido um dos grandes alertas das agências de rating. Os analistas da Moody’s lembram que este fator está refletido nas avaliações que fazem atualmente, mas elogiam “os planos estratégicos ambiciosos para 2020 e 2021 que vários bancos têm”.

Vimos grandes melhorias nos bancos portugueses nos últimos anos e antecipamos que o impulso positivo continue, o que justifica a nossa perspetiva positiva para a banca portuguesa, nos próximos 12 a 18 anos.

Alberto Postigo

Vice-presidente da Moody's

Entre os bancos que definiram planos ambiciosos de redução de malparado está o Novo Banco, levando-o a apresentar prejuízos recorde em 2017 (de 1.395,4 milhões de euros) que obrigaram à injeção de 792 milhões de euros do Fundo de Resolução. O esforço de venda destes ativos deverá fazer com que o banco volte a ter prejuízos e, segundo o Jornal Económico, a nova injeção de capital do Fundo de Resolução, este ano, deverá ser superior a mil milhões de euros.

A Moody’s considera que o maior risco para o sistema financeiro — a falência do banco — foi evitado com a venda ao Lone Star, mas alerta que “os fundamentais ainda são muito fracos”, nomeadamente devido “ao elevado stock de ativos problemáticos e à fraca rentabilidade” que apresenta. Uma subida do rating (atualmente em grau especulativo) irá depender da limpeza do balanço, transformação da operação e melhorias na capacidade de gerar receitas, segundo Pepa Mori. “O nosso rating já tem em consideração a injeção do mecanismo contingente de capital em 2019, contra as perdas registadas em 2018“, afirmou.

Banca italiana treme. É ameaça à estabilidade financeira?

A Moody’s pronuncia-se esta sexta-feira sobre o rating da República portuguesa, sendo que é a primeira avaliação deste ano e segue-se à saída do ‘lixo’ que aconteceu em outubro. O malparado tem sido um dos principais problemas assinalados pelas principais agências de notação. Aliás, Portugal, Espanha, Grécia e Itália são os países europeus em que a Moody’s vê maior necessidade de reforçar os esforços de redução do crédito em incumprimento.

No entanto, as situações diferem. “Temos a maior parte do sistema bancário europeu com outlook estável. Como positivos vemos Portugal, Espanha e Irlanda, apesar de esperarmos que as condições de créditos sejam mais fracas em 2019 que em 2018. E provavelmente ainda mais fracas em 2020. Como negativas temos Itália e Turquia”, afirmou Maria Cabanyes, vice-presidente sénior da Moody’s.

Além das melhorias na qualidade dos ativos, também a gestão de risco e as limitações regulamentares são elogiadas. No entanto, Itália — país com o segundo maior rácio de dívida face ao PIB na Europa, com bancos a arriscarem a falência, em constante instabilidade política e quezílias com as autoridades europeias — é uma preocupação.

Para já, a agência considera que a crise da banca tem sido isolada e o efeito contágio se limitou a alguma volatilidade nos mercados. “Em Itália a nossa grande preocupação é o impacto nos custos de financiamento”, referiu sobre a dívida soberana. Há 425 mil milhões de euros de títulos do país nos bancos europeus, dos quais 1,9 mil milhões estão em Portugal. Sublinhou que apesar de ver o impacto como limitado, a agência está a monitorizar a situação.

“Consideramos que, de forma geral, os bancos europeus estão melhor preparados para resistirem à desaceleração económica por causa das melhorias nos fundamentais e, a nossa expectativa, é que a economia apoie, permitindo preservar essas melhorias nas solvência e que o ambiente de ainda baixos juros seja positivo para a capacidade dos devedores”, acrescentou Cabanyes.

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