Capital Certo dá “rombo” de 200 milhões nas receitas da mutualista
Associação Mutualista perdeu mil associados por mês em 2018. E ficou a metade do financiamento que pretendia. O produto mutualista Capital Certo explica rombo de 200 milhões na margem associativa.
O “negócio” da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) manteve-se sob pressão em 2018. Não só se intensificou a saída de associados da maior mutualista do país, a um ritmo de mil por mês no ano passado — conta agora com 612.607 associados, o valor mais baixo em cinco anos. Mas também viu entrar menos dinheiro por via dos produtos financeiros que disponibiliza. Explicação: o produto mutualista Capital Certo, que esteve indisponível durante meio ano, e que provocou um “rombo” de 200 milhões de euros.
De acordo com os resultados individuais da mutualista a que o ECO teve acesso, a margem associativa (diferença entre os proveitos e os custos com associados) foi negativa em 191 milhões de euros — já havia sido negativa nos anos anteriores, acumulando já saídas líquidas superiores a 1.000 milhões de euros desde 2015.
Isto quer dizer que, pelo quarto ano seguido, a AMMG teve de suportar mais custos com os associados do que os proveitos que conseguiu obter deles, o que deixa as finanças da mutualista sob maior pressão.
Em 2018, foram captados “apenas” 487 milhões de euros através dos vários produtos mutualistas que são oferecidos pela associação, o que corresponde a uma redução de 31,5% (ou -224 milhões de euros) face a 2017. A AMMG previa obter o dobro, aproximadamente 970 milhões de euros. Ou seja, a meta de financiamento ficou-se pela metade num ano em que a instituição voltou a estar no centro dos holofotes mediáticos, sobretudo por causa do período eleitoral e da oposição à gestão de Tomás Correia, que voltou a vencer as eleições em dezembro do ano passado. Este ambiente terá gerado desconfiança entre os associados.
A instituição justifica que esta evolução se deve fundamentalmente à redução dos valores captados em subscrições de séries da modalidade Capital Certo, com menos 208 milhões de euros de poupanças captadas.
O Capital Certo “foi objeto de reformulação da forma de colocação aos balcões do banco, de que resultou uma menor dinâmica de subscrições”, explica a AMMG no relatório. O produto foi descontinuado em fevereiro do ano passado e só voltou em agosto já com a designação “Poupança Mutualista“, uma diferenciação que visou responder às exigências dos reguladores.
Apesar de ter captado menos poupanças, os custos da AMMG com associados caíram ainda mais (-37,6%). A instituição teve de suportar encargos na ordem dos 680 milhões de euros no ano passado (em 2017, superaram os 1.000 milhões), relacionados sobretudo com os vencimentos e reembolsos de produtos mutualistas — venceram-se 15 séries da modalidade Capital Certo.
Seja como for, a AMMG sofreu mais resgates do que teve novas aplicações no ano passado. Ainda assim, diz que não afetou a sua solidez: o rácio dos capitais próprios sobre o ativo líquido médio “manteve-se em níveis significativos” e o rácio de cobertura das responsabilidades (fundos, reservas e provisões técnicas sobre provisões técnicas) voltou a “registar um comportamento positivo” entre 2017 (1,059) e 2018 (1,250). “O valor apresentado por este indicador nos últimos anos (superior a 1) continua a refletir a capacidade da AMMG em honrar os seus compromissos futuros”, indica a instituição.
A mutualista registou um lucro de 1,6 milhões de euros no ano passado. Mas se não fosse um “benefício fiscal” através dos chamados ativos por impostos diferidos no valor de oito milhões de euros, as contas estariam no vermelho.
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