Vice-diretor do FMI: Portugal criou “demasiados novos empregos com salário mínimo”
Vice-diretor do FMI destaca descida do desemprego, mas lamenta que "demasiados postos de trabalho" tenham o salário mínimo. Portugal pode inverter situação com aposta na inovação e exportação.
O desemprego em Portugal tem vindo a baixar consideravelmente desde o pico da crise, mas “demasiados” postos de trabalho que estão a ser criados têm por base o salário mínimo, lamentou o primeiro vice-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), David Lipton, que pede uma “nova injeção de vitalidade no mercado de trabalho” para que o país possa competir a nível global.
David Lipton, que participou na conferência “Portugal: reforma e crescimento dentro da Zona Euro”, organizada pelo Banco de Portugal e pelo FMI, diz que o futuro do país não passa apenas por “responder às vulnerabilidades” e deixou esse alerta aos responsáveis políticos nacionais. “O real desafio é melhorar as perspetivas de crescimento de longo prazo. Isto significa aumentar a produtividade e fazer com que Portugal possa participar na competição global pela prosperidade futura”, frisou o vice de Christine Lagarde.
Deu como exemplo desse desafio o atual momento do mercado de trabalho: “Sim, o desemprego tem vindo a cair de forma acentuada e uma grande proporção de postos de trabalho são permanentes. Mas demasiados destes novos empregos têm salário mínimo“.
"Sim, o desemprego tem vindo a cair de forma acentuada e uma grande proporção de postos de trabalho são permanentes. Mas demasiados destes novos empregos têm salário mínimo.”
Para David Lipton, este cenário de empregos mais qualificados e com melhores salários pode mudar porque cada vez mais as empresas nacionais estão viradas para fora e a competir num mercado não apenas europeu, mas global. “Isto estabelece um prémio na força de trabalho flexível e com competências avançadas. E o nível de educação entre os jovens portugueses é muito mais elevado do que em anteriores gerações”, explicou o responsável.
Para Portugal aumentar a sua concorrência e competir entre as melhores economias mundiais, “o mercado de produto de Portugal precisa de reformas e o setor empresarial precisa se reformular para lidar com a próxima onda da inteligência artificial, da robótica e do comércio eletrónico”, acrescentou. E aqui o governo pode desempenhar um “papel chave” em facilitar esta mudança, “se continuar focado no esforço reformista e se assegurar que a regulação não desencoraja as atividades dinâmicas e inovadoras”.
David Lipton também elogiou o “sucesso económico” em Portugal nos últimos anos, com a saída da crise que foi “construída com base num consenso político”.
“Isto não é um feito de menor importância. Enquanto enfrentamos um período de elevada incerteza e risco, este país mostrou que há um caminho a seguir superando as diferenças face aos desafios comuns. Isso é uma lição para o resto da Europa — também para o mundo”, destacou o primeiro vice-diretor do FMI.
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